<P>O que era virtual já é visível aos olhos. O Estaleiro Atlântico Sul (EAS), o maior do hemisfério Sul e o segundo maior do mundo, não foi, como muitos acreditavam, apenas mais uma das promessas de investimentos que deixaram muita gente a ver navios nesse país. Num terreno de 162 hectares, e...
Gazeta MercantilO que era virtual já é visível aos olhos. O Estaleiro Atlântico Sul (EAS), o maior do hemisfério Sul e o segundo maior do mundo, não foi, como muitos acreditavam, apenas mais uma das promessas de investimentos que deixaram muita gente a ver navios nesse país. Num terreno de 162 hectares, ele cresce na Ilha de Tatuoca, dentro do Complexo Industrial e Portuário de Suape, em Pernambuco. Já emprega 1.400 pessoas, cerca de 200 novas a cada mês e, até o final de 2010, terá cinco mil funcionários. A instalação do Atlântico Sul, ao custo de R$ 1,4 bilhão concretiza-se no rastro da decisão do presidente Lula de retomar a indústria naval brasileira quando, após assumir seu primeiro mandato, cancelou a compra das plataformas P-51 e P-52 que a Petrobras faria a estaleiros estrangeiros baseada no critério de menor custo.
Da decisão presidencial de reerguer um setor nacional que já foi o segundo maior do mundo, há duas décadas, surgiu o Programa de Expansão e Modernização da Frota da Transpetro (Promef) encomendando à industria naval brasileira 26 navios para a Transpetro, subsidiária de transportes da Petrobras, embalando um pacote de US$ 2,5 bilhões. A primeira grande encomenda depois de 18 anos, levou empresas a formar consórcios para construir navios no Brasil como fez a Camargo Corrêa, a Queiroz Galvão e a JPMR, fundadoras do Estaleiro Atlântico Sul. Em junho, a parceira tecnológica desde o início do projeto, a sul-coreana Samsung Heavy Industries (SHI), adquiriu 10% de participação no empreendimento, abrindo o cenário mundial com a perspectiva de, em cinco anos, produzir 20 navios por ano no EAS.
Na última sexta-feira, após dar inicio oficial ao corte do aço para o primeiro dos dez petroleiros que serão construídos pelo Estaleiro Atlântico Sul dentro do Promef, diante de mais de mil novos metalúrgicos que deixaram o corte da cana ou a pesca e foram treinados para construir navios, o presidente Lula comemorou a aposta e a sua sorte. Pensem num cabra feliz. Olhem para cá: sou eu. A satisfação conta com recursos do Fundo de Marinha Mercante e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que, somados à certeza de mercado interno, impulsionaram os empresários brasileiros a embarcar no Promef. A Petrobras arcou com US$ 100 milhões sobre o que pagaria por uma única plataforma comprada fora do país. O presidente da Transpetro, Sergio Machado, afirma que encomendar os navios no Brasil custou 1% a mais do que seria em estaleiros estrangeiros.
Segundo Lula, valeu a pena pela geração de empregos e de renda aqui e não em outros países, com o nosso dinheiro. A estimativa é a criação de pelo menos 40 mil novos empregos na primeira e na segunda fase do Promef que encomendará outros 23 navios a estaleiros nacionais até o começo de 2009. Temos que deixar disponibilidade para grandes oportunidades, mas vamos concorrer a todos os lotes, diz o presidente do EAS, Paulo Haddad. Além dos dez navios Suezmax para a Transpetro, orçados em US$ 1,2 bilhão, o primeiro com entrega para abril de 2010, o Atlântico Sul começa semana que vem a cortar aço para a Plataforma P-55, da Petrobras, estimada em US$ 400 milhões. Na carteira, ainda estão dois navios Very Large Crude Carrier (VLCC), contratados pela brasileira Noroil Navegação, controlada pela norueguesa Pacpro Norge AS, companhia armadora e administradora de navios, e que vão custar US$ 424 milhões.
Cadeia extensiva
A geração de empregos se amplia com a cadeia produtiva que se forma em torno do estaleiro, envolvendo os segmentos de navipeças, móveis e a indústria metalmecânica nacional, incentivados pela obrigatoriedade de nacionalização de pelo menos 65% dos itens de cada navio, no Promef I, e de 70% no Promef II e até 75% para plataformas. A assinatura de um protocolo entre o EAS e a Caixa Econômica Federal que prevê R$ 60 milhões para a construção de 2000 casas destinadas aos metalúrgicos de Tatuoca, abriu espaço para a normatização de moradias em gesso no Brasil a partir de um piloto com 200 casas. O empreendimento no litoral poderá estender seus benefícios ao pólo gesseiro do sertão de Pernambuco. As casas serão de gesso do Araripe, a região mais pobre do Estado. Nosso grande esforço é colocar também empresas do nosso pólo moveleiro entre as fornecedoras do Estaleiro, afirmou o governador Eduardo Campos, após assinar o contrato com a presidente da CEF, Maria Fernanda Coelho, na cerimônia do corte de aço.
Depois do acesso à carteira assinada, os novos trabalhadores do EAS já sonham com a casa própria e a educação dos filhos. Representando seus colegas, a metalúrgica soldadora Mércia Nascimento, de 27 anos, orgulhosa da profissão conquistada depois de enfrentar as longas filas de inscrição, comemorando cada etapa da seleção e do treinamento, diz que sua vida mudou. Tô me sentindo importante e realizada porque vou construir navios. Cada um vai ter um pedacinho de mim, afirmou. Favorecidos pelas obras e a movimentação econômica, os municípios do Cabo de Santo Agostinho e de Ipojuca, que sediam o Complexo de Suape, já experimentam um expressivo aumento na arrecadação de impostos e na atração de outros empreendimentos que vão de shopping center a hotel executivo.
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