Infraestrutura

Aneel recusa justificativas para atraso de Belo Monte

Concessionária da obra sofre duro revés.

Valor Online
21/08/2014 12:17
Visualizações: 706 (0) (0) (0) (0)

A concessionária responsável pela construção da hidrelétrica de Belo Monte, a Norte Energia, sofreu um duro revés com parecer técnico desfavorável produzido no âmbito da fiscalização conduzida pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que analisa as justificativas para o atraso nas obras da usina.

A análise concluída na última semana pela área técnica, foi obtida com exclusividade pelo Valor PRO, o serviço de informação em tempo real do Valor.

O documento já foi enviado à equipe responsável por avaliar eventuais penalidades.

Belo Monte é uma das maiores obras de infraestrutura em execução no país, que está em fase de construção no leito do rio Xingu, no estado do Pará.

O projeto, que deve atingir a potência instalada de 11.233 megawatts (MW), até hoje é considerado polêmico por estar em região de floresta amazônica e próximo a povoados indígenas.

Justamente, a soma dos desafios de ordem técnica e ambiental – além da questão indígena – que foi usada pela Norte Energia para se eximir da responsabilidade de ter frustrado o cronograma de obras previsto no contrato.

A concessionária listou todos os contratempos, ligados a invasões do canteiro de obras, protestos de funcionários e comunidades indígenas e guerra de liminares na Justiça. A Norte Energia se apoiou nestes pontos para pedir que não fosse responsabilizada pelo descumprimento dos prazos contratuais.

Ao todo, foram solicitados 441 dias de “excludente de responsabilidade”, o que a isentaria de multas e a obrigação com a compra de energia no mercado de curto prazo (spot) para compensar o volume de energia que não será entregue no prazo.

Na semana passada, a cópia do parecer de fiscalização foi enviado ao empreendedor, que alega não ter recebido a notificação.

A análise realizada pela área técnica da agência não reconheceu os principais problemas apontados pela empresa, que resultaria no atraso de um ano do projeto. Na avaliação feita, a Norte Energia negligenciou prazos e, por consequência, deixou de tomar as medidas necessárias para reverter a situação.

Na análise do caso, a fiscalização da Aneel recomendou a rejeição do pedido de adequação de cronograma de obras e do reconhecimento dos excludentes de responsabilidade solicitados.

Além disso, o documento indica que autarquia deve recusar ajuste nos contratos de venda de energia, o que atualmente obriga a empresa a comprar energia mais cara no mercado spot para compensar parte do prejuízo.

O processo de fiscalização de Belo Monte evidencia o desgaste da agência com o empreendedor. A equipe técnica do órgão enviou sucessivos pedidos de atualização do cronograma de obras, enquanto a empresa insistia em apresentar o relatório de dias em que a construção esteve paralisada.

Nas cartas enviadas à Aneel, a Norte Energia informou que o novo calendário somente seria encaminhado após a formalização de aditivo ao contrato com as empreiteiras, reunidas no Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM).

A reportagem apurou que aumentarão as chances do processo de fiscalização resultar em multa a partir do momento em que ficar demonstrado que houve problemas de gestão.

A forma de chegar a esta constatação está na exigência de apresentação de novos prazos de entrega das etapas do projeto. “O cronograma adequado, no caso, seria o que retratasse a situação atual das obras da usina e as estratégias para otimizar a implantação e minimizar o atraso das unidades geradoras, onde cabe ao concessionário a responsabilidade e o esforço para tal”, ressalta a fiscalização em parecer.

No entanto, o próprio documento informa que “tal otimização não foi contemplada no cronograma agora em análise”.

Pesou contra a empresa a recente mudança de postura do órgão regulador no tratamento de casos de desrespeito aos prazos de entrega de projetos, o que tornou malsucedida a estratégia de defesa dos donos da usina.

A Norte Energia estruturou sua argumentação no momento em que o órgão iniciou a revisão dos procedimentos de análise de atrasos dos empreendimentos do setor.

Não à toa, a fiscalização reproduziu a íntegra do posicionamento assumido pela diretoria, em maio, sobre a nova dinâmica de análise dos cronogramas de obras a partir do processo da usina termelétrica Parnaíba II, da Eneva (ex-MPX).

Atenta à sinalização da diretoria da agência, os técnicos assumiram o entendimento proposto na ocasião. Antes, as avaliações se referiam-se basicamente à análise formal dos pedidos de excludente de responsabilidade.

Em geral, muitas empresas passaram a assumir a estratégia de contabilizar os dias perdidos em contratempos comuns na execução das obras para estender o prazo do cronograma.

No caso de Belo Monte, a análise técnica da Aneel conclui que “não foi contemplado no cronograma apresentado a estratégia adequada para minimizar os impactos e prejuízos, seja ao consumidor brasileiro, que suportaria o impacto nas tarifas de energia, e à distribuidoras, que ficariam descobertas contratualmente, ou do próprio empreendedor, que deverá cobrir o lastro e arcar com as penalidades comerciais em caso de não se reconhecer os motivos excludentes de responsabilidade”.

Questionada, a Norte Energia informou que “todos os fatos comunicados à Aneel, que resultaram em paralisações de obras, são excludentes de responsabilidade da empresa, como liminares judiciais, perda da janela hidrológica, invasões e bloqueios aos canteiros”. A concessionária informou que a aguarda a manifestação do órgão regulador.

Mais Lidas De Hoje
veja Também
Bahia Oil & Gas Energy 2025
Bahiagás destaca integração das energias no Bahia Oil & ...
03/06/25
Bahia Oil & Gas Energy 2025
TecnoFink apresenta soluções em manutenção industrial e ...
03/06/25
Transição Energética
Enel Brasil destaca investimentos e estratégia de resili...
03/06/25
ANP
Novo PMQC: prazo para agentes de GO e DF contratarem lab...
03/06/25
Oportunidade
ENGIE, TAG e Jirau Energia lançam Programa de Estágio
02/06/25
Drilling
BRAVA Energia usa técnica inédita no Brasil e conclui pr...
02/06/25
Energia Elétrica
Chuvas abaixo da média antecipam período seco e afetam o...
02/06/25
Petrobras
Gasolina para distribuidoras cai 5,6%
02/06/25
Energia Elétrica
Bandeira vermelha deixa conta de luz mais cara a partir ...
02/06/25
Energia Solar
Thopen investe R$ 750 milhões em 52 usinas solares no No...
02/06/25
Inclusão Social
Cladtek lança Programa de Inclusão de Pessoas com Defici...
02/06/25
Oportunidade
Shell Iniciativa Jovem prorroga inscrições do último cic...
02/06/25
ANP
ANP aprova sua Agenda Regulatória para o período 2025-2026
02/06/25
Startups
NAVE ANP: 21 startups aprovadas para contratação
02/06/25
Combustíveis
Etanol hidratado fecha em baixa e acumula 3ª queda seman...
02/06/25
Refino
Petrobras inicia operação da nova Unidade de Hidrotratam...
02/06/25
Bahia Oil & Gas Energy 2025
Copastur Energy marca presença no Bahia Oil & Gas Energy...
01/06/25
Bahia Oil & Gas Energy 2025
Burckhardt Compression: Tradição, Inovação e um Novo Mar...
01/06/25
Perfil Empresa
Geogin: Tecnologia e Especialização a Serviço da Gestão ...
30/05/25
Investimentos
Transpetro lança licitação para entrada no segmento de o...
30/05/25
Bahia Oil & Gas Energy 2025
Bahia Oil & Gas Energy supera os 13 mil inscritos e já é...
30/05/25
VEJA MAIS
Newsletter TN

Fale Conosco

Utilizamos cookies para garantir que você tenha a melhor experiência em nosso site. Se você continuar a usar este site, assumiremos que você concorda com a nossa política de privacidade, termos de uso e cookies.

22