Valor Econômico
O Brasil pode aproveitar a experiência tecnológica acumulada pela Alemanha para encurtar etapas no desenvolvimento da geração de energia a partir dos ventos. Os alemães estão entre os líderes mundiais em termos de capacidade eólica instalada. Na visão de executivos e de consultores, há espaço para que a vivência dos alemães no setor seja assimilada pelo Brasil via cooperação pública e empresarial.
A troca de experiências entre os dois países na área de energia eólica é um dos temas de discussão no Encontro Econômico Brasil-Alemanha 2009, que começa hoje em Vitória (ES). O evento será aberto pelo ministro alemão da Economia e Tecnologia, Karl-Theodor zu Guttenberg. Ao todo 1.140 participantes se inscreveram para o encontro, sendo 967 brasileiros e 173 alemães.
Um painel do evento vai discutir as perspectivas para o mercado de petróleo e gás e energia renovável. Uma das ideias é que Brasil e Alemanha podem compartilhar tecnologias para a utilização eficiente da energia.
O consultor Ingo Ploger acredita que o Brasil pode aproveitar a experiência alemã em geração eólica. "Há muito interesse nessa área", disse Ploger. Ele afirmou que a Alemanha, que foi um grande investidor no Brasil nas décadas de 60 e 70, passou um período afastado do país, inclusive nas privatizações dos anos 90. Mas nos últimos anos as empresas alemãs voltaram a investir nas áreas industrial, de serviços e de infraestrutura, incluindo o setor de geração de energia.
Ploger entende, porém, que é preciso assegurar uma política de longo prazo para o desenvolvimento da energia eólica no Brasil. A garantia de escala levaria os fabricantes de equipamentos para o setor a aumentarem os investimentos no país, diz Ploger. "Há um primeiro leilão de energia eólica marcado para novembro mas depois não se sabe quando virá o outro", afirmou.
O primeiro leilão de energia eólica do Brasil, marcado para 25 de novembro, atraiu um grande número de projetos. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) cadastrou para o leilão 441 empreendimentos que somam capacidade instalada de 13.341 megawatts (MW). Os projetos que ofertarem os menores preços e forem contratados vão assinar contratos de compra e venda de energia por 20 anos a partir de 1º de julho de 2012. Após o leilão, dependendo dos resultados, poderá se estabelecer uma espécie de calendário prevendo novos certames, disse uma fonte. Hoje o Brasil tem em operação usinas eólicas com 547 MW de potência, o que representa apenas 0,52% da matriz energética brasileira.
Fernando Scapol, gerente-geral administrativo da Wobben-Enercon-Brasil, disse que o leilão de novembro pode representar um "passo enorme" para o desenvolvimento do setor no país. O ponto importante, segundo ele, é dar continuidade a esse trabalho com a realização de outros leilões. Scapol disse que falta a definição de uma política energética mais sólida para desenvolver a indústria eólica, incluindo fornecedores locais de bens e equipamentos.
"Até agora o país, apesar dos melhores ventos do mundo, constantes e sem turbulências, furações ou rajadas , não aproveita a melhor das características do nosso vento que é a complementaridade, ou seja, quando as águas baixam, no inverno, e as represas sofrem, o vento aumenta significativamente. Essa característica só é notada no Brasil, privilégio da natureza", disse Scapol. Segundo ele, a Wobben-Enercon desenvolveu cerca de 1,5 mil fornecedores no Brasil desde 1995.
A empresa possui duas fábricas: uma em Sorocaba (SP) e outra em Pecém (CE), nas quais produz aerogeradores completos. No total, a Wobben já instalou 16 usinas eólicas para diversos investidores no Brasil, uma na Argentina e tem duas em construção na Costa Rica e Antilhas Holandesas. Na Alemanha, a Enercon é controlada pela Herr Aloys Wobben e tem sede em Aurich, na Baixa Saxônia, próximo ao Mar do Norte. Scapol disse que uma maior cooperação entre Brasil e Alemanha passa pela "assimilação" das experiências acumuladas pelos alemães.
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