Entrevista Exclusiva

A liberdade do setor privado, mas com espírito público, com Marcio Felix C. Bezerra

Beatriz Cardoso, Revista TN Petróleo
07/10/2019 11:30
A liberdade do setor privado, mas com espírito público, com Marcio Felix C. Bezerra Imagem: Divulgação Visualizações: 639

É com essa perspectiva que o engenheiro de petróleo Marcio Felix C. Bezerra coloca à disposição do mercado a experiência consolidada em 36 anos na Petrobras, na qual exerceu diversos cargos executivos, somada ao aprendizado que teve no setor público, no governo capixaba e no Ministério de Minas e Energia, de onde saiu recentemente.

“Decidi soltar do trapézio e voar rumo a novos desafios”, afirma Marcio nessa entrevista exclusiva à TN Petróleo. Embora não faltem especulações para onde ele vai, o atual presidente dos conselhos de administração da Pré-sal Petróleo e da recém-criada ES Gás, companhia de distribuição de gás no estado capixaba, sinaliza o rumo que pretende tomar. “O que me atrai é a liberdade do setor privado, mas atuando com espírito público para gerar oportunidades nas diversas regiões do país”. Com a palavra, o especialista em energia.

Institucional

Revista TN Petróleo - Depois de três anos no MME, o que o levou a deixar um cargo no qual consolidou importantes mudanças no setor de óleo e gás?

Marcio Felix - Diz a sabedoria popular que time que está ganhando também se mexe (rs). Na vida tudo são ciclos. Na minha carreira profissional tive a honra e a oportunidade de atuar em momentos decisivos, de grande transformação, tanto na Flopetrol-Schlumberger, onde iniciei minha trajetória no setor de óleo e gás, como na Petrobras, onde passei a maior parte de minha vida, como também somei experiências públicas no Governo do ES e no Ministério de Minas e Energia. Nesse último, tive a honra de ser convidado a assumir diferentes desafios ao longo dos três últimos anos. A equipe maravilhosa, o empoderamento dado pelos ministros, as circunstâncias do período, a vontade de fazer o melhor para o Brasil... enfim, tudo isso contribuiu para que o País passasse por uma grande transformação nesse setor. Tudo foi muito além das minhas expectativas, mesmo sendo naturalmente bem otimistas.

Então por que sair quando justo quando há uma retomada...

Minha saída? Fui amadurecendo a ideia de me lançar a novos desafios.... Como utilizar minhas experiências profissionais para gerar novos negócios? Como contribuir para que as diversas gerações possam trabalhar juntas? Como lidar com a transição energética? Como gerar mais oportunidades para jovens empreendedores? Como promover mais desenvolvimento regional, valorizando as riquezas de cada pedacinho de nosso País? Foi na busca de responder questões como estas é que eu resolvi me “soltar do trapézio e voar rumo a novos desafios”.

Uma mudança de rumo?

A decisão não foi de mudança, mas sim de transformação. Tanto na Petrobras quanto no MME.

Qual o balanço que voce fez desse período no MME, no qual foi duas vezes secretário de Petróleo, Gás e Biocombustíveis, intercalado por um tempo como Secretário Executivo do Ministério? Quais os principais marcos?

Com a liderança de cada ministro, aos quais sou grato pelas oportunidades que me foram concedidas, somada ao empenho de uma equipe maravilhosa e o trabalho diligente no Congresso Nacional, com grande participação do mercado e da sociedade como um todo, fomos vencemos etapas em E&P, Downstream, Gás e Biocombustíveis. Os programas e projetos ganharam vida própria: o de Revitalização da Exploração e Produção de Petróleo e Gás Natural em Terra (Reate 1 e Reate 2020), o Gás para crescer e o Novo mercado de gás, o Combustível Brasil e o Abastece Brasil, o RenovaBio, além de um calendário de leilões de áreas de E&P, o equacionamento da cessão onerosa, as regras de unitização. Esses temas viraram marcas de sucesso e foram movidos pelo que eu gosto de chamar de “Energia do Sistema”: atuação integrada Governo, mercado, mídia, academia, congresso e sociedade.

O que você gostaria de ter feito, mas não teve tempo ou oportunidade?

Viajei muito, pelo Brasil e por diversos países, mas não pude atender boa parte das demandas. Assim, eu quero, de um lado, estar mais presente nos debates internacionais sobre o papel da energia em tempos de transição e como o Brasil pode contribuir nesse sentido. Por outro lado, quero estar também mais próximo dos Estados e Municípios nos quais estão os atuais e futuros empreendimentos: campos de petróleo e gás; usinas de etanol, biodiesel e biogás; plantas de processamento de gás; terminais de GNL (gás natural liquefeito); refinarias; indústria automobilística (ou da mobilidade); fábricas de equipamentos etc. Também desejo estar próximo de onde está sendo forjada a nova geração: startups, escolas técnicas, universidades, centros de pesquisa, entre outros.

Como voce vê a Petrobras na próxima década?

A Petrobras é uma empresa fascinante, que me deu tudo nos 36 anos que fui seu engenheiro de petróleo. Nos próximos 10 anos, período em que a Petrobras vai celebrar seus 75 anos de existência, a empresa caminha para ser mais madura, segura, rentável e focada em negócios que deem o retorno desejado por seus acionistas e pela Sociedade Brasileira.

Quando voce saiu havia boatos de que iria para o setor privado. O que o atrai mais no atual contexto: o setor público ou privado?

O que me atrai é a liberdade do setor privado, mas atuando com espírito público para gerar oportunidades nas diversas regiões do país, integrando gerações e se valendo de experiências bem sucedidas locais e de outros países. Estarei sempre atuando em prol dos interesses do Brasil, seja na iniciativa privada, em organizações da sociedade civil ou, quem sabe, um dia novamente no setor público. Energia é o meu mundo. Mas, claro, óleo, gás e biocombustíveis são a parte mais visível de minha atuação.

Pensando no atual contexto e na sua participação nessa construção, como você avalia que vai ser a evolução no segmento de gás natural?

O gás, os biocombustíveis (incluindo o biogás) e o E&P onshore serão, combinados, os elementos da “patinetização” (transformação ágil e descentralizada) da nossa economia. Junto com o pré-sal, serão elementos fundamentais no desenvolvimento energético do Brasil.

O que ainda precisa ser feito para que essa evolução seja mais rápida? Depende mais do setor público (municipal, estadual ou federal) ou da indústria?

Depende de todos. Integração é fundamental. A hora é de acreditar e fazer. Quem apostar contra esse futuro certamente vai deixar de aproveitar uma grande oportunidade. A oferta de gás natural no Brasil é formada pela produção nacional, a importação por dutos (Bolívia e mais à frente talvez Argentina) e por navios (GNL). E vem aí a produção terrestre... E não podemos esquecer da produção de biogás que deverá experimentar um grande e acelerado crescimento. Acredito que a próxima década promete um verdadeiro choque de oferta de gás, das mais variadas fontes e composições.

Quais os principais desafios ainda a serem vencidos no segmento de refino, que também está em transformação? Voce acredita que haverá um novo redesenho do refino?

As mudanças no refino estão muito associadas aos já anunciados desinvestimentos da Petrobras e da possibilidade de construção de novas unidades, especialmente as chamadas mini refinarias. Há certamente oportunidades para plantas de menor porte, voltadas a monetizar de forma descentralizada a produção de óleo e gás onshore. O redesenho já está em curso. Vamos agora aguardar o novo ponto de equilíbrio após os desinvestimentos da Petrobras e seus desdobramentos.

E na área de upstream: quais os desafios que voce acha que ainda são necessários superar para agilizar a produção do pré-sal e novas fronteiras?

O futuro ou já está contratado ou em vias de sê-lo com os próximos leilões. As potencialidades do pré-sal, além das 200 milhas, já estão sendo cuidadas e em um ou dois anos podem ser atração em leilões de blocos exploratórios. O Brasil caminha a passos largos para ser do seleto clube dos 5 maiores produtores mundiais.

O Brasil, em dez anos, tenderá a ser ‘mono pré-sal’ como foi monobacia por muito tempo, com Campos, respondendo pela maior parte da produção por décadas? Ou haverá avanços em novas fronteiras?

Não seremos “samba de uma nota só”. Campos, Santos e Espírito Santo ganharão no curto prazo a companhia das bacias de Sergipe, Alagoas e, possivelmente, Jacuípe. E, na sequência, temos novas fronteiras exploratórias, com grande potencial, a exemplo das bacias da Margem Equatorial, entre outras. Basta uma descoberta importante em uma nova fronteira e se inicia uma nova “corrida do ouro”.

Institucional

E no onshore? Teremos em dez anos um cenário mais similar ao dos Estados Unidos, com muitas companhias independentes?

Este é um dos meus grandes sonhos, e vou me dedicar muito a isso. Além de Estados Unidos, Argentina e Colômbia, quero ver o onshore do Brasil especialmente como um espelho de Calgary, no Canadá. Lá há milhares de empresas operadoras e prestadoras de serviços em E&P onshore. O Brasil vai chegar lá. O programa Reate 2020, lançado pelo Ministério de Minas e Energia, significa a Redescoberta das Atividades de Exploração e Produção de Petóleo e Gás Natural em Terra.

Descomissionamento é pauta obrigatória. Você acredita que a indústria naval poderá ter uma participação mais efetiva nesse segmento?

O Atlântico Sul, com destaque para o Brasil, será o principal mercado do mundo em projetos offshore ao longo da próxima década. Os fornecedores de bens e serviços têm uma oportunidade única. Como acessar esse mercado de forma competitiva é uma pergunta, cujas respostas valem dezenas de bilhões de dólares. Eu acredito no empreendedorismo brasileiro!

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