Redação / Assessoria
Em razão da minha idade, não vivi a crise da indústria naval das décadas de 1980/90. Por causa disso, optei pela engenharia mecânica ao invés da naval. Acompanhei o soerguimento dessa indústria com o início da construção das embarcações de apoio marítimo e a descoberta do pré-sal. Em seguida, veio o plano de renovação da frota da Transpetro com seus programas: Profream, Promef e o ambicioso plano da Sete Brasil. Vivíamos um clima de alvoroço e o Brasil era o mercado estratégico para qualquer fornecedor. Investidores e bancos entraram com tudo para garantir a "fatia do bolo".
Com a política de conteúdo local, a indústria nacional se desenvolvia e multinacionais se viram obrigadas a se instalar em nosso país. Apesar da Noruega ter tido sucesso com essa política indústrial, as críticas sempre apareciam como se o Brasil tivesse inventado esse mecanismo de desenvolvimento industrial. Muitos afirmavam que essa decisão tinha um componente político determinante.
A Sete Brasil foi criada e estruturada para viabilizar o plano mais ambicioso de investimento do mundo: 29 sondas que deveriam ser construídas no Brasil. O mercado internacional ficou atônito. A comunidade global entoava num só coro: "A sonda sairá mais cara. Como não usar os estaleiros coreanos e asiáticos? Como assim ter que oferecer conteúdo local?”. Esqueceram-se que a Petrobras tinha entrado como sócia-investidora e que tinha garantido uma diária de afretamento com taxa menor que a do mercado. "Os estaleiros não tem know-how entregar tais sondas" diziam alguns. Mas os estaleiros se associaram a parceiros internacionais tecnicamente qualificados.
Em seguida, veio à tona a operação Lava-Jato e seus esquemas de corrupção.
E o que me entristece é que o projeto da Sete Brasil emperrou. Não pelos motivos descritos acima, mas por falta de recursos financeiros. Afinal, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Fundo de Marinha Mercante (FMM) não cumpriram o combinado e sentaram em cima da verba. Para piorar a situação, o banco de fomento passar a fazer novas exigências aos estaleiros e a Petrobras, como se o financiamento não tivesse juros! E sem receber pagamentos da Sete Brasil desde outubro/2014, os estaleiros se viram obrigados a cancelar contratos, descumprir acordos financeiros com seus fornecedores (locais e estrangeiros que aqui se instalaram) e demitir funcionários.
A Sete Brasil está fazendo uma 'ginástica financeira', buscando novas opções de financiamento, novos parceiros, recorrendo a financiamento dos estaleiros de Cingapura, e, lamentavelmente, a bancos de fomento estrangeiros (como o do Japão que tem interesse em colaborar para não ver suas empresas serem punidas pelo fracasso do plano da Sete Brasil). Tão famosos por suas exigências, como fazer os bancos de fomento a cumprirem seus acordos de financiamento? Como criar mecanismos nesse contratos com clausulas punindo o descumprimento?
Gustavo Pedeira é diretor executivo da Status Offshore.
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