Petróleo

70 bilhões de barris sob o mar

Jornal do Commercio
22/04/2008 09:59
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Diz-se que os geólogos estão entre os profissionais mais otimistas, mas é necessário justiça a outra qualidade imprescindível a quem se dedica a decifrar o efeito das eras sobre o planeta: paciência. Faz mais de uma década que a existência de petróleo no fundo do mar é levada a sério. E o fundo, nesse caso, não é força de expressão. Na costa do Brasil, a mais de 6 mil metros de profundidade, repousam estimados 70 bilhões de barris de petróleo.

 

Para chegar lá, é preciso mergulhar em 2km de água e ainda vencer semelhante profundidade em rocha. Superadas as primeiras duas etapas, há uma outra camada, que chega a ser tão grossa quanto as anteriores, feita de sal - não muito diferente do que as pessoas têm na cozinha. Uma região que alcança 800km de comprimento e até 200km de largura (área quatro vezes maior que o estado do Rio). As reservas, uma vez confirmadas, deixarão o Brasil entre os 10 maiores do mundo.

 

Com paciência, a Petrobras e outras petroleiras apostaram no que haveria embaixo dessa camada de sal já na segunda rodada de leilões, promovida pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) em 2000. Restavam dois fatores determinantes. Na época, o barril do petróleo estava na casa dos US$ 20 - hoje ultrapassa os US$ 110. Além disso, faltava tecnologia para explorações tão profundas e em tamanha espessura de rocha e sal.

 

"Há 10 anos já se sabia do pré-sal, mas havia uma barreira tecnológica. Depois, a tecnologia só não basta. Uma reserva é considerada como tal se o preço para extrair o petróleo é menor do que o mercado paga por ele", diz David Zylbertajn, que foi o primeiro diretor da ANP.

 

Levou mais alguns anos. Em 2006, a primeira sonda ultrapassou a camada de sal - que sob pressão e o calor da energia geotérmica se parece mais com gelatina do que pedra. Era o poço descobridor da área BM-S-9, a 250 km da costa, que mais tarde seria conhecida como Tupi. A 6 mil metros de profundidade a Petrobras e seus parceiros, BG Group e Petrogal, encontraram petróleo leve, de qualidade superior às jazidas já descobertas no Brasil.

US$ 1 bilhão e quase dois anos depois, 15 poços alcançavam o pré-sal em diferentes áreas, oito deles testados e avaliados. O mais festejado foi o segundo na região de Tupi, que sustentou as previsões de um novo eldorado. Os dados apontaram para a existência de 5 bilhões a 8 bilhões de barris - ou seja, uma única província prometia petróleo equivalente a metade das reservas brasileiras provadas.

O potencial dessa nova fronteira, no entanto, é muito maior. O óleo dos oito poços examina-dos prima não somente pela qualidade, mas pela homogeneidade, a ponto de alimentar suspeitas de ser um único reservatório gigantesco.

O mais provável, porém, é que se trate de uma série de depósitos com dimensões semelhantes, ou mesmo superiores, às encontradas em Tupi. Juntos, somariam 70 bilhões de barris.

 

Quando as pesquisas da Petrobras consolidaram esse cenário tão encorajador, em meados do ano passado, impôs-se um dilema. A ANP marcara para o final de novembro uma nova rodada de leilões e nela incluiu 41 blocos de exploração na região do pré-sal. A expectativa de haver petróleo nessas áreas era antiga e foi alimentada com os ocasionais resultados dos poços descobridores. Mas nem de longe sonhava-se com volumes tão significativos. Entre os documentos fornecidos aos interessados no leilão, lia-se: "para as oportunidades do pré-sal a ANP estima cerca de 3 bilhões recuperáveis".

 

Consciente de ter encontrado um tesouro submerso, a Petrobras procurou o governo. Em breve a estatal teria que anunciar o resultado da segunda perfuração em Tupi - e com ele o risco do leilão se transformava num bilhete premiado. Os argumentos apelaram até ao "crime de lesa pátria", pois seria prejudicial à nação oferecer às multinacionais tamanha oportunidade a preços tão "baratos". Depois de ouvir a Petrobras, o presidente Lula teria sido taxativo: "Não vou passar para a história como o presidente que soube disso e não fez nada".

 

Dez dias depois dessa reunião, coube à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, revelar ao país as riquezas encontradas em Tupi. Em seguida, foi anunciado que aqueles 41 blocos sobre o pré-sal seriam retirados do leilão da ANP até segunda ordem. A agência ainda cogita oferecê-los este ano.

 

Na Petrobras, e no próprio governo, não há pressa. Estuda-se desde uma fórmula para aumentar a taxação sobre o novo eldorado, até uma mudança mais radical na legislação do petróleo. O mundo continua ávido pela mais negociada de todas as mercadorias e grandes descobertas são raras há décadas. Dono do novo achado, o Brasil quer discutir o preço.

 

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