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Orientação Remota Aplicada em Acompanhamento de Obras de Redes Subterrâneas, por Natália Gil e Bruno Bueno

Redação TN Petróleo/Assessoria
27/09/2021 10:21
Orientação Remota Aplicada em Acompanhamento de Obras de Redes Subterrâneas, por Natália Gil e Bruno Bueno Imagem: Divulgação Visualizações: 1432

Com o avanço da tecnologia, as soluções digitais assumem cada vez mais um papel fundamental nos processos de transformação dos negócios dos mais diversos setores. Dentre as soluções digitais para comunicação, troca e compartilhamento de informações, as ferramentas de videoconferência vêm se destacando por sua vasta gama de benefícios e funcionalidades. Agilidade na interação entre usuário da ponta e orientador, compartilhamento de tela e arquivos, interação de usuários na tela através de ferramentas de desenho e escrita, áudio e vídeo com alta qualidade, baixo consumo de dados são alguns dos benefícios que elas nos proporcionam. Tais ferramentas tiveram sua importância evidenciada com o agravamento da pandemia de Covid-19, com a qual foram comprovados os ganhos pela realização de atividades de forma remota, seja para a preservação da saúde dos trabalhadores, seja pelo aumento de eficiência operacional.

Para o setor de downstream, a pandemia acarretou impactos colossais no que diz respeito à operação. Atividades realizadas em campo tiveram que ser repensadas e condições de trabalho tiveram que ser adaptadas ao novo contexto a fim de se garantir a saúde e qualidade de vida dos colaboradores. Diante deste cenário, a Comgás selecionou uma ferramenta de videoconferência para estudar sua aplicação e possíveis ganhos no ambiente de operação. Para o projeto inicial as atividades de acompanhamento de obras foram escolhidas para a realização dos testes.

As atividades de acompanhamento de obras são historicamente realizadas em campo e visam a prevenção de acidentes e danos aos ativos das companhias presentes no subsolo e garantia da integridade das pessoas no entorno da obra. A empresa que irá realizar uma obra no subsolo, ao reconhecer que é uma área que possui rede de gás natural enterrada, é orientada a abrir um chamado através dos canais institucionais da Comgás solicitando o acompanhamento de obra. Após o envio de documentos cadastrais das redes e agendamento do acompanhamento, o técnico da companhia se dirige para o endereço em questão e instrui os trabalhadores, da empresa solicitante, em como prosseguir com a escavação.

O presente trabalho é um relato de caso e análise preliminar da aplicação da ferramenta de videoconferência no cenário de acompanhamento de obras executado diariamente por distribuidoras de gás natural a fim de garantir a segurança operacional, visto que o gás natural é um combustível seguro quando operado de forma controlada, mas requer cuidados em seu manuseio, como qualquer outro combustível.

O projeto teve início com a prospecção de tecnologias de videoconferência que possuíssem funcionalidades que permitissem a orientação dos técnicos em campo a partir de uma conexão remota, seja do ambiente corporativo ou home office. Provas de conceito e testes foram realizados com as plataformas identificadas e, posteriormente, a solução mais aderente ao processo da companhia foi selecionada. Após a validação de atendimento de requisitos técnicos, deu-se início a etapa de operação assistida para a frente de acompanhamento de obras. Das 357 notas recebidas pela Comgás, no período de março a agosto de 2021, foram atendidos 72 chamados com tempo médio de 58 minutos e 46 segundos, representando um ganho imediato de cerca de 45 minutos médios gastos com o deslocamento dos técnicos, quando comparado com o atendimento presencial. Já que o tempo de atendimento permaneceu o mesmo em ambos os modelos, presencial ou remoto.

Os chamados recebidos pela companhia são divididos em categorias que levam em consideração fatores como consequência no caso de perda de contenção (vazamento de gás), proximidade de regiões de risco, presença de redes próximas, características das tubulações enterradas, entre outros fatores. Quanto maior for o índice obtido para o chamado, mais urgente é o seu atendimento e, consequentemente, mais crítica é sua categoria. Dos 72 chamados atendidos no período de março a agosto de 2021, 97% foram categorizados com criticidade média e apenas 3% como criticidade alta (Figura 1). Esta seleção ocorreu, pois, o objetivo da operação assistida era validar as condições operacionais para orientação remota da equipe de campo de forma a evitar a maior quantidade de riscos possível.

De acordo com a Figura 2, é possível notar que as maiores quantidades de chamados atendidos ocorreram na Região Metropolitana de São Paulo e correspondem a chamados de criticidade média (93%). Os 7% restantes corresponderam a chamados de criticidade média no Interior do Estado de São Paulo (4%) e chamados de criticidade alta na Região Metropolitana de São Paulo (3%).

Dos chamados atendidos, 36% corresponderam a chamados de criticidade média que foram acompanhados por técnicos da Comgás nas regiões que compreendem o Núcleo Compartilhado de Obras (NCO), conforme apontado na Figura 3. O NCO é uma iniciativa entre Comgás e SABESP que tem como objetivo principal o compartilhamento de informações das obras a fim de prevenir danos das redes das concessionárias que possuem ativos no subsolo e, também, garantir a integridade dos trabalhadores e moradores no entorno das obras. A média de tempo de atendimento para chamados do NCO é de 60 minutos, contra 58 minutos e 24 segundos dos chamados das demais regiões (interior do Estado de São Paulo e RMSP, com exceção das regiões atendidas pelo NCO).

Apesar da média de duração de atendimento não ter sido drasticamente reduzida (aproximadamente 60 minutos com atendimento presencial versus 58 minutos e 46 segundos utilizando a ferramenta de videoconferência), com a utilização da ferramenta de videoconferência, da qual foi denominada internamente de Orientação Remota, é possível estimar um ganho de 25% a 40% na quantidade de atendimentos (pensando em uma volumetria que justifique um profissional atuando em tempo integral na atividade), visto que o tempo que era gasto em deslocamentos (cerca de 45 minutos) foi revertido em orientações remotas. Além disso, pode-se destacar um ganho de 5% relativo à redução de custo com combustível, materiais de sinalização e equipamentos (esse percentual ainda reduzido, se dá devido a não desmobilização do veículo frota por, eventualmente, ser necessário suportar de forma presencial algumas atividades, por exemplo). Em contrapartida, foram notados alguns pré-requisitos para que as orientações realizadas de forma remota fossem bem findadas. A plataforma exige que o usuário da ponta esteja em um local com fácil acesso à internet, caso contrário a conexão apresentará grandes dificuldades, gerando contratempos na execução das tarefas. Outro ponto notado diz respeito ao comprometimento dos usuários da ponta com o cronograma previamente acordado, cerca de 40% das notas recebidas não tiveram atendimento devido, principalmente, à falta de retorno aos contatos para realização da orientação remota.

Independentemente das adversidades encontradas, foram notados mais benefícios que prejuízos para a atividade de acompanhamento de obras. A plataforma, através de sua interface amigável, proporciona facilmente sua utilização para qualquer usuário com o menor grau de instrução possível. Além da experiência do usuário ser muito boa, a conexão é iniciada com o simples recebimento de um link via mensagem de celular. Esta agilidade no atendimento torna a solução atrativa, uma vez que são evitados os deslocamentos dos técnicos para realização das atividades em campo, o que significa redução na emissão de carbono e diminuição de exposição a risco da equipe técnica. Com base nos dados coletados até o momento, a solução se mostra viável, mas ainda serão necessários mais testes para adequação dos processos da companhia e aculturamento dos colaboradores a esta nova realidade.

Este artigo buscou apresentar uma visão coletada nas atividades de acompanhamento e orientação técnica de obras, da qual existem barreiras externas por envolver usuários a serviço de outras concessionárias que demandam orientação técnica para continuidade de suas atividades. Entendemos que a natureza da atividade é um fator primordial para elevação da escala e adesão por parte dos usuários finais. O sucesso na implementação demanda uma estruturação ampla, tanto internamente (envolvendo todas as áreas de negócio que tenham interface com a atividade) como do público alvo, seja no aculturamento até a elaboração de processos perenes que possam lidar com instabilidades e, eventualmente, indisponibilidades da ferramenta de videoconferência.

Apresentado todo o cenário de estudo, a tecnologia favorece e serve de apoio para áreas de operações que estejam expostas às dificuldades logísticas de grandes centros urbanos, ganhando em tempo de deslocamento e, consequentemente, transformando em aumento de produtividade. Existem ressalvas de acordo com a natureza da atividade que irão demandar o mapeamento de riscos e barreiras externas que precisam ser melhor trabalhadas para não se tornarem impeditivos da implementação da ferramenta. A crise sanitária em que passamos em 2020, acelerou a implementação e evolução dos processos, permitindo as companhias inovarem e se reinventarem para manter o mesmo nível de atendimento, sem colocar em jogo a segurança operacional. A jornada ainda não acabou, é importante continuarmos provocando nossos processos e buscarmos nas tecnologias novas formas de enxergarmos as nossas operações.

Sobre os autores:  Natália Ayumi Gil é Mestre em Ciências e Engenharia de Petróleo pela UNICAMP, formada em Engenharia Mecânica com ênfase em Petróleo pela mesma Universidade. Primeira mulher a assumir a presidência do Capítulo Estudantil SPE UNICAMP, gestão agraciada com o Oustanding Student Chapter Award. Trabalhou como engenheira de petróleo na SOLPE, desenvolvendo software para análise de imagens de rochas. Desde 2019 trabalha na Comgás, onde iniciou como engenheira de Inovação e P&D trabalhando na prospecção de projetos, passou pela área de Monitoramento e Inteligência de Obras onde atuou nas frentes de inovação, funding e estruturação do Núcleo Compartilhado de Obras. Atualmente trabalha no Núcleo de Inovação Aberta da Comgás, atuando nas frentes de Open Innovation, parcerias estratégicas, planejamento de portfólio e Corporate Venture Capital.

Bruno Nicolai de Oliveira Bueno possui MBA em Gestão de Negócios e Serviços pela FIA, formado em Engenharia Civil pela Faculdade de Rondônia (FARO). Possui experiência na implementação de loteamentos de alto padrão, tendo atuado para incorporadora líder no mercado. Desde 2017 trabalha na Comgás, passou por áreas como Integridade de Ativos e Projetos de Ativos e Instalações Internas, hoje atua no Sistema de Gestão de Prevenção de Danos, sendo responsável pela área de Monitoramento e Inteligência de Obras.

 

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