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O e-mail morreu, por André Luiz Barros

Redação TN Petróleo/Assessoria
22/10/2021 10:46
O e-mail morreu, por André Luiz Barros Imagem: Divulgação Visualizações: 1596

Sou um romântico digital à moda antiga.  Não apenas uso, como defendo e celebro o e-mail como canal de comunicação não tão somente para mandar mensagens de amor, mas também e especialmente, de trabalho. Eu sei que existem outras ferramentas mais modernas e que têm sido adotadas neste mundo digitalizado, mas o e-mail é meu amigo de todo dia, meu companheiro de longa data. Só sei que tenho sentido falta dos bons tempos, quando ele era uma via de mão dupla - e essa reclamação tornou-se generalizada ultimamente. É bem verdade que a tecnologia tem criado formas da sociedade se comunicar neste mundo remoto e híbrido, mas o fato é que o e-mail morreu. Ninguém mais lê, ninguém mais responde. Esta morte descortina um problema maior: a dificuldade da sociedade em filtrar informação importante em um universo de bombardeio permanente de conteúdo por todos os lados e se comprometer, por meio de registro formal, com algo que a própria falta de tempo pode fazer ruir.

Sou fã de realities shows antigos e no momento assisto dois deles via Netflix. Ambos se passam por volta de 2010, era pré-whatsapp, do velho pacote de SMS pago. Curioso como naquele momento o e-mail era usado como canal de comunicação corriqueiro – mandava-se e-mail para tudo, até para marcar, vejam só, um almoço informal entre amigos – um disparate em tempos de Telegram e grupo no Whatsapp. Hoje, 2021, depois da ultra digitalização gerada pelo efeito home-office da pandemia e ascensão escalonar da zoomificação da vida, reviver esta relação com o e-mail chega a ser engraçado, mas me dá um certo saudosismo. O ponto é: o e-mail morreu ou foi assassinado? Trata-se de morte natural ou homicídio doloso (com intenção de matar)?

Conversando essa semana com uma amiga, divagamos sobre o tema. Ela trouxe uma reflexão interessante: “Você já recebeu nudes por e-mail? Já mandou currículo pelo whatsapp?”, me questionou. O e-mail não é o canal mais óbvio para envio de nudes ao passo que o whatsapp não é a primeira escolha para se enviar currículos – e o motivo é bem simples, cada canal tem sua proposta, cada um tem seu público. Tudo é possível, eu sei, mas ficou claro que a escolha do meio de comunicação depende do conteúdo e objetivo que se tem com determinado comunicado. Isso parece óbvio, não? Mas não é. Especialmente para o público geral, que nunca parou para pensar sobre o tema.

Os canais de comunicação têm sido postos em xeque nos últimos anos. É o número do seu telefone que uma empresa utiliza sem sua autorização mesmo em tempos de LGPD; é o e-mail que você recebe com um link de phishing; é o golpe via whatsapp ou o Teams que virou uma espécie de cidade digital onde todo mundo vive e se encontra o tempo todo, o dia todo, o mês todo, o ano todo... sem contar que o home office acabou com as conversas de corredor e o boom de mensagens digitais por todos os lados virou o novo normal. A sociedade não tem mais tempo de ler tanto e-mail, mas também não dá conta dos grupos do whatsapp, o Teams é um gerador de fadiga digital e o telefone virou qualquer coisa, menos equipamento para fazer ligação. No ápice da infodemia, falta filtro. Não se sabe mais o que consumir, o que priorizar, onde e como se comunicar. E nem estou falando das novas gerações, o e-mail morreu para a geração X, mas para os millenials também.

Partindo do princípio de que comunicação é essa tal via de mão dupla, é importante entender que canal sua audiência usa para que a comunicação consiga se fazer completa. O que temos vivido é o caos. O whatsapp bate recordes de mensagens por dia e agora disponibiliza o acelerador de áudio – para garantir que a gente consiga consumir o máximo de conteúdo possível numa velocidade mais rápida que a da própria voz do emissor; invadem dispositivos pessoais com a formação de grupos que são criados já fadados ao fim na semana seguinte; não se tem mais registro de nada, a comunicação se esvai, se perde, beija a morte e sobrevive a trancos e barrancos sabe-se lá como, cheia de buracos e de ruídos. Nunca usei tanto o “Teve a oportunidade de ler o e-mail abaixo?” para cobrar um retorno. E em alguns casos, nem assim. E isso não apenas no trabalho, mas com fornecedores. Experimentei o desprezo máximo nesses últimos vezes com determinados serviços, nem entrarei no mérito, porque a lista será grande. Por outro lado, como eu recebi ligações, spams e SMSs cujos remetentes eu não tenho o menor interesse em responder! É a inconveniência pura legitimada como padrão.

A morte do e-mail não é uma doença, mas é sintoma. Um sintoma de uma sociedade adoecida que não consegue administrar bem o tempo, tem medo de se comprometer e que está sufocada e sem ar sob um volume de milhões de gigabytes de informação, parte dela, falsa. A forma de se comunicar não é mais no formato de diálogo, o diálogo não existe - passamos a viver em monólogos permanentes que em alguns casos até evoluem para conversas estruturadas com algum sentido. Muita coisa se perde. Muita coisa fica para trás e eu que tenho no e-mail um crush de 10-15 anos, resisto firme em tentar mantê-lo vivo e fazer dele uma ferramenta de trabalho ágil, objetiva e funcional, até porque é para isso que ele serve no ambiente corporativo.

Para a comunicação corporativa é uma luta. O e-mail morreu, mas ninguém quer necessariamente adotar novas fontes de comunicação. Muito e-mail não é efetivo, e-mail de menos é perigosíssimo. O líder da equipe ou da empresa, seja da maior varejista do mundo ou da padaria do seu Joaquim, precisará falar mais e melhor. Precisará ser mais frequente e mais claro. Mais conciso e mais seguro. Isso não é fácil. Quem se comunica bem, meus nobres, terá destaque e o próprio LinkedIn já prenunciou isso no ano passado, quando colocou a ‘comunicação’ como um soft skill que todo profissional deveria ter hoje. Mas nessa mesma lista também está “saber ouvir”. E por que reitero isso aqui? Porque para se comunicar bem, é preciso ouvir bem. Não adianta só ligar e não atender ligação, mandar mensagem e não responder, ir até a mesa de fulano pedir algo, mas manter portas fechadas quando se é procurado. ‘Para falar bem, é preciso ouvir bem’, repitam comigo.

No final das contas, sinto saudades de quando eu mandava um e-mail e ele era lido. Hoje em dia, nem preciso de confirmação de leitura, para determinados casos já sei que a leitura e a resposta não acontecerão. O e-mail, vovô da comunicação, partiu. O problema é que seus netinhos mais novos têm nascido doentes, ou saem do ar do nada como aconteceu neste início de outubro com o Whatsapp, Instagram e Facebook, ou simplesmente não funcionam por dificuldades do seu usuário encontrar tempo neste dia a dia curiosamente sempre corrido que é a vida na Terra, culpa do capitalismo ou não, é uma escolha nossa de cada dia.

Nova coluna

A pandemia de Covid-19 impactou empresas de todos os segmentos no mundo todo. Neste momento, em muitas companhias, a comunicação corporativa integrou ativamente os comitês de tomada de decisões e ocupou um lugar de protagonismo, em especial para combate massivo à desinformação e fake news. Pensando nisso, a revista TN Petróleo, que sempre teve seu olhar para o tema dentro do nosso setor, lança a partir de hoje, uma coluna exclusiva sobre o assunto.

Os textos abordarão temas gerais da comunicação organizacional interna e externa; relacionamento com imprensa; redes sociais e marketing digital; reputação e imagem e assuntos de discussão mais recente como cultura e marca; propósito e employer branding.

O novo espaço será editado por Lia Medeiros (foto), diretora de Comunicação, Sustentabilidade e Pessoas da TN Petróleo, e assinado pelo jornalista André Luiz Barros, que há 12 anos trabalha com comunicação corporativa e atualmente acumula o cargo de gerente de comunicação em uma empresa do setor de óleo e gás.

 

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