Suas memórias são muito vívidas? Elas podem não ser reais

05/08/2025 11:28

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Muitas pessoas acreditam que uma memória nítida e cheia de detalhes é um sinal de precisão. A neurociência mostra uma realidade diferente. Lembranças fragmentadas, com lacunas e um aspeto geral embaçado, são na verdade o padrão de um cérebro saudável e funcional. A ideia de que nossa mente grava acontecimentos como um vídeo é uma ilusão.

O neurocientista Dr. Fabiano de Abreu Agrela explica que a memória humana é, por natureza, um processo de reconstrução. "O funcionamento esperado da memória episódica não é o de uma gravação literal. O cérebro opera com eficiência, guardando o essencial como o contexto e as emoções, enquanto descarta o supérfluo para evitar sobrecarga cognitiva. Memórias incompletas são, na verdade, um recurso adaptativo do nosso sistema nervoso", afirma o especialista, pós-PhD em Neurociências e membro da Royal Society of Biology.

Pessoas com uma capacidade de recordar eventos com extrema vivacidade não possuem um acesso mais puro à realidade. A riqueza de detalhes nessas lembranças muitas vezes resulta de processos emocionais intensos, ruminação ou associações feitas após o evento, não da fidelidade ao fato original.

Dr. Fabiano de Abreu, que também é Mestre em Psicologia e Especialista em Genômica Comportamental e Inteligência, aponta que a vivacidade pode aumentar o risco de distorções. "Uma memória vívida não guarda mais a realidade, ela guarda mais elementos sobre a experiência da realidade. Isso inclui inferências, interpretações e contaminações posteriores. A pessoa formata a lembrança com uma grande riqueza de imagens e significados pessoais, o que dá uma falsa impressão de realismo absoluto".

Um dos principais mecanismos por trás dessa transformação é a reconsolidação da memória. Cada vez que uma lembrança é evocada, ela se torna instável e maleável antes de ser novamente armazenada. "A reconsolidação é o processo em que uma memória já guardada é reativada. Ao retornar a um estado lábil, ou instável, ela pode ser alterada. Cada vez que relembramos algo, corremos o risco de regravar a memória com novas interferências emocionais ou cognitivas", detalha o cientista.

Este processo abre portas para a criação de falsas memórias, ou memory distortion. Indivíduos com lembranças muito elaboradas podem, sem perceber, preencher lacunas com informações que nunca ocorreram. Esse fenômeno é conhecido como confabulação. A pessoa passa a "lembrar" de elementos que foram, na verdade, sugeridos por conversas, ou emoções sentidas posteriormente ou simples suposições.

Até mesmo em condições raras como a Memória Autobiográfica Altamente Superior (HSAM), em que pessoas conseguem recordar detalhes de quase todos os dias de suas vidas, o princípio se mantém. A memória permanece sendo um ato de reconstrução, com uma forte tendência a misturar o que foi vivido com o que foi reinterpretado ao longo do tempo. A nossa história pessoal é menos um arquivo de factos e mais uma narrativa que se reescreve a cada nova lembrança.

Um bom exemplo comparativo para melhor entendimento

A memória do superdotado, por exemplo, não se define apenas por uma maior quantidade de recordações, mas por uma organização e processamento mais eficientes, conforme explica o neurocientista Dr. Fabiano de Abreu Agrela. O cérebro com altas habilidades utiliza uma capacidade superior para criar conexões lógicas mais robustas, o que pode resultar numa lembrança que parece mais nítida ou coerente ao ser evocada. Essa clareza percebida não torna a memória uma gravação fiel da realidade, pois ela continua sendo biologicamente "embaçada" e fundamentalmente reconstrutiva, permanecendo sujeita às mesmas distorções emocionais e reinterpretações que afetam qualquer pessoa.

 

 

Sobre o Dr. Fabiano

Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues MRSB/P0149176 é Pós-PhD em Neurociências, eleito membro da Sigma Xi - The Scientific Research Honor Society (mais de 200 membros da Sigma Xi já receberam o Prêmio Nobel), além de ser membro da Society for Neuroscience nos Estados Unidos, da Royal Society of Biology e da The Royal Society of Medicine no Reino Unido, da The European Society of Human Genetics em Vienna, Austria e da APA - American Philosophical Association nos Estados Unidos. Mestre em Psicologia, Licenciado em História e Biologia, também é Tecnólogo em Antropologia e Filosofia, com diversas formações nacionais e internacionais em Neurociências e Neuropsicologia. Dr. Fabiano é membro de prestigiadas sociedades de alto QI, incluindo Mensa International, Intertel, ISPE High IQ Society, Triple Nine Society, ISI-Society e HELLIQ Society High IQ. Ele é autor de mais de 330 estudos científicos e 30 livros. Atualmente, é professor convidado na PUCRS e Comportalmente no Brasil, UNIFRANZ na Bolívia e Santander no México. Além disso, atua como Diretor do CPAH - Centro de Pesquisa e Análises Heráclito e é o criador do projeto GIP, que estima o QI por meio da análise da inteligência genética.

Fonte: assessoria Dr.Fabiano

Imagem: divulgação

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