Com a suspensão do projeto da hidrelétrica de HidroAysen, na semana passada, a termelétrica que o grupo MPX, de Eike Batista, quer construir no norte do Chile tornou-se o principal alvo de ambientalistas e opositores aos grandes projetos de energia do país.
A disputa entre a empresa e uma comunidade de 60 famílias que vive a 25 km de onde seria construída a central foi parar na Suprema Corte do Chile. No dia 12, representantes da MPX e da Junta de Vizinhos de Totoral se reúnem no tribunal, em Santiago, para uma reunião de conciliação. Caso não haja acordo, o projeto pode naufragar.
A disputa gira em torno da classificação de "contaminante" dada inicialmente por autoridades regionais, o que inviabiliza a instalação do projeto na região. Após recurso da MPX, a central foi requalificada como "molesta", mas as comunidades conseguiram reverter a decisão em um tribunal de primeira instância.
"Não há a menor possibilidade de um acordo", diz Álvaro Toro, advogado da Junta de Vizinhos de Totoral. "A não ser que a empresa mude o projeto para alguma outra fonte, como a eólica".
Segundo ele, a empresa chegou a oferecer compensações, como bolsas de estudo, investimentos em saneamento básico e melhoria de estradas, mas a comunidade não aceitou. "Isso quem deve providenciar é o estado", afirma.
Toro atribui a mudança da classificação do projeto de contaminante para molesto, obtida pela MPX em 2010, a "aliados da empresa no Ministério de Energia".
A MPX, por sua vez, afirma que "que a termelétrica Castilla cumpre plenamente todas as normativas ambientais vigentes".
O projeto de Castilla partiu de uma ideia ousada. Caso saia do papel, a usina será rodeada por 14 projetos de mineração de ouro e cobre, que entrariam em funcionamento entre este ano e 2017, com uma demanda potencial de 1.500 MW, segundo dados da MPX. A usina, que tem investimento previsto de US$ 5 bilhões, teria uma capacidade de geração de 2.100 MW, divididos em seis unidades.
O carvão que abasteceria os fornos da central viria do mercado internacional, "preferencialmente da Colômbia". A princípio, seria comprado de terceiros, mas logo o próprio Eike Batista se tornaria fornecedor de matéria-prima para seu projeto no Chile.
A CCX, empresa de mineração de carvão na Colômbia desmembrada recentemente da MPX, já investiu US$ 300 milhões em uma jazida do mineral naquele país. A empresa pretende investir US$ 4 bilhões até 2017, quando o projeto entrará em atividade.
Em maio, Eike esteve na Bolsa de Valores de São Paulo para um evento de lançamento das ações da CCX. "Nosso sonho sempre foi ir para a Colômbia", disse ele.
Álvaro Toro, porém, diz que o porte do projeto no Chile assusta as comunidades. "Essa usina é pelo menos cinco vezes maior do que qualquer termelétrica chilena. O impacto no ambiente e na vida das pessoas será enorme".