Valor Econômico
Os governos do Brasil e da Bolívia decretaram ontem o fim da guerra verbal envolvendo a nacionalização dos setores de gás e petróleo, mas não conseguiram colocar um ponto final nas divergências. Os dois países anunciaram que vão retomar "imediatamente" as negociações para implementar o decreto de nacionalização, paralisadas desde junho, por falta de respostas do lado boliviano às propostas da Petrobras.
Os países, contudo, ainda se desentendem em um ponto crucial: enquanto o governo brasileiro mantém a posição de negociar a questão tecnicamente, de empresa a empresa, o vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera, deixou claro que as discussões em La Paz receberão tratamento político.
Linera, ex-professor universitário e considerado o grande ideólogo do governo de Evo Morales, fez ontem a sua primeira visita ao Brasil desde que tomou posse e foi recebido no Palácio do Planalto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em encontro que durou cerca de 40 minutos.
"A negociação em si é entre empresas e precisa ter um prosseguimento técnico-jurídico muito especializado", afirmou Linera, referindo-se à
Linera descartou, pelo menos por enquanto, a possibilidade de adiar o prazo fixado - novembro - para o término das negociações em torno dos novos preços e contratos do gás. Ele reconheceu que o próprio governo boliviano tem demorado para avançar em alguns pontos das negociações, mas disse ter encerrado a visita "profundamente" satisfeito. "Definimos que se devem reiniciar de forma imediata (as negociações) suspensas ou retardadas nos últimos meses", afirmou. As primeiras reuniões deverão acontecer no início de setembro.
A negociação deverá passar pelo crivo dos ministros da Fazenda, do Planejamento e da Presidência (equivalente à Casa Civil), segundo o vice-presidente boliviano. Diante das observações de Linera, o assessor internacional da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, confirmou a retomada das discussões e disse que "é impossível separar de forma absoluta aspectos técnicos e aspectos políticos".
O presidente Evo Morales sugeriu publicamente o envolvimento direto de Lula nas negociações e chegou a chamar a Petrobras de "sabotadora". Com um discurso pacificador, Linera levantou a bandeira branca e disse que uma das suas missões no Brasil foi "virar a página de eventuais desencontros e más interpretações que tenhamos tido".
Segundo o vice-presidente, a Petrobras "é e queremos que continue sendo uma sócia estratégica" da Bolívia. Do lado brasileiro, Garcia admitiu problemas recentes nas relações com o país vizinho, mas frisou que a visita de Linera acabou com "qualquer ruído" do passado. Ele informou que o Planalto negocia uma visita de Estado com Evo, com todas as pompas, para logo depois das eleições no Brasil. E se mostrou satisfeito com o compromisso de Linera, transmitido no início da reunião com Lula: "Ele disse que o Brasil não corre nenhum risco de desabastecimento (de gás)".
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