O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira (18) que o Brasil pode exportar, futuramente, óleo diesel com menor teor de enxofre. De acordo com o presidente, a Petrobras vem atuando para reduzir a concentração de enxofre no diesel combustível, mas, em alguns lugares do país, o diesel ainda circula com 1,8 mil ppm (partes por milhão)
"Já faz sete anos que a Petrobras já vem modernizando todas as suas refinarias para que a gente possa não apenas exportar o petróleo, mas que a gente possa, quando for autosuficiente, exportar óleo diesel já refinado com 50 ppm, 10 ppm ou menos até", disse Lula, durante a inauguração de unidades de coque e hidrotratamento de diesel da Refinaria Henrique Lage, em São José dos Campos, no interior de São Paulo.
O presidente ressaltou que a inauguração de unidades do tipo são importantes para a saúde da população e também podem ajudar na maior arrecadação com a exportação de derivados do petróleo.
"Este óleo diesel nosso não seria aceito com essa quantidade de ppm no mercado internacional", disse Lula.
O presidente parabenizou a diretoria da empresa porque ela "resolveu elevar ao máximo o possível o padrão de qualidade dos produtos".
O presidente mostrou um vidro com diesel que usamos hoje, de cor amarela, e outro vidro com diesel a 10 ppm, transparente. Disse que o diesel atual "parece o óleo que a gente usa para fritar bife". "A gente está trabalhando, tirando tudo quanto é poluente. A gente só não vai beber, vai deixar para o carro beber", brincou.
Em entrevista após a inauguração, o diretor de abastecimento da empresa, Paulo Roberto Costa, lembrou que a modernização da refinaria também tem como meta atender um acordo firmado com o Ministério Público para o cumprimento de resolução do Conama (Conselho nacional do Meio Ambiente). Segundo ele, o diesel com 10 ppm de enxofre será obrigatório a partir de janeiro de 2013.
O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabriele, disse que a empresa faz sua parte na questão ambiental e que o país precisa também avançar em outros pontos, como a oferta de motores adequados para um diesel mais limpo e na ampliação da inspeção veicular. "Nós sabemos que isso é um conjunto de ações que não depende só do combustível."
Por outro lado, a indústria afirma que precisa do “novo” diesel. As fabricantes de veículos defendem que motores menos poluentes já estão prontos para a comercialização, porém a nova tenologia não aceita diesel com alto teor de enxofre.
Lei exige redução da concentração de enxofre
A Petrobras foi obrigada a substituir todo o diesel metropolitano por diesel com 50 ppm até 1º de janeiro de 2012. E, consequentemente, melhorar a qualidade do diesel distribuído no resto do país, para 500 ppm. Assim, gradativamente, o diesel com 1.800 ppm só ficará restrito a tratores e máquinas agrícolas. A partir da redução para 50 ppm, a próxima etapa será passar o nível de enxofre para 10 ppm, a ser concluída em 1º de janeiro de 2013.
No entanto, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) demorou para divulgar as novas especificações para o diesel, o que atrasou o calendário da obrigatoriedade de novos motores menos poleuntes, que só deverão entrar no mercado em 2013.
Carros a diesel como alternativa ecológica
O anúncio do governo desta segunda-feira deve levantar novamente uma antiga discussão, a de liberação no país de carros movidos a diesel. Com autonomia para produzir diesel de 50 ppm e 10 ppm de enxofre a ponto de exportar, os defensores do uso do carro abatecido com o combustível ganham novos argumentos.
A venda dos modelos é proibida por causa de uma lei criada em 1976. A medida foi tomada durante a crise do petróleo, quando o Brasil tentava diminuir a importação de petróleo e derivados e investia no projeto Pró-álcool. Desde então, apenas veículos comerciais (caminhões, ônibus, caminhonetes, jipes e alguns SUVs) podem circular com o combustível.
Porém, o carro a diesel é considerado uma alternativa ecológica, tanto é que é a opção adotada atualmente pelo mercado europeu. O combustível é mais poluente do que o álcool, porém faz mais quilômetros por litro e emite menos CO2 do que a gasolina. Até agora, a ideia é rejeitada por entidades ambientais e montadoras, porque o óleo diesel, em muitas regiões do país, ainda possui alta concentração de enxofre.