Sétima Rodada

Pequenos sonham com sua "Petrobras"

Valor Econômico
21/10/2005 02:00
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O baiano James Correia, dono da ERG Negócios e Participações, é exemplo de uma classe de novos empreendedores da área de petróleo que ganhou força no Brasil com a 7ª Rodada de licitações da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Coordenador da Rede Norte Nordeste de Engenharia de Campos Maduros, onde atua em projeto específico para desenvolvimento de uma nova regulação para esses campos no Brasil, Correia também é professor do mestrado em energia da Universidade de Salvador (Unifacs). Este ano, ele se associou a um de seus ex-alunos, Normando Paes, da Panergy, para comprar o campo Morro do Barro, na ilha de Itaparica.

Correia e o sócio investirão R$ 14,5 milhões em Morro do Barro, incluído o bônus de assinatura de R$ 711 mil pago à ANP. Segundo ele, a ERG tem contrato para venda do gás que produzir nesse campo, onde existem reservas superiores a 120 milhões de metros cúbicos a serem produzidos. Ele prefere não adiantar o nome do cliente, mas diz que o contrato estabelece um preço para o gás melhor do que o que seria pago pela Petrobras.

O exemplo de Correia não é o único. Outra novata que tem como dirigentes consultores e prestadores de serviços na área de petróleo ligado a uma rede de empresas é a Petrolab, do sergipano João Machado. Tanto ela como outra vencedora no sétimo leilão de áreas da ANP, a Engepet, integram a Rede Petrogas, de Sergipe, coordenada pelo Serviço Brasileiro de Apoio à Micro, Pequena e Média Empresa (Sebrae) com apoio da Petrobras. A Petrolab ofereceu um bônus de R$ 102,6 mil pelo campo Fazenda São Paulo, no recôncavo, prometendo investir R$ 1,1 milhão para voltar a produzir na área. Mas Machado acha que o investimento pode chegar a R$ 1,5 milhão.

O 7º leilão da ANP criou as bases para a início de uma pulverização da indústria de petróleo no Brasil, com a entrada no negócio de empresas menores, o que também abre o caminho para atração de companhias de serviço que possam atender às necessidades específicas dessas pequenas e médias. Segundo dados da agência, existem 38 empresas de petróleo ativas no Brasil. Dessas, 31 estão explorando petróleo e 16 estão em fase de desenvolvimento da produção. E na rodada encerrada quarta-feira surgiram outras 27 companhias, sendo 11 na área de exploração, onde há risco de não se encontrar petróleo e gás, e outras 16 pequenas e médias compraram campos marginais.

Mesmo assim, poucas petroleiras produzem petróleo no Brasil, nenhuma delas consegue competir em volume ou escala com a Petrobras. Prova disso é que desde 1998 até agora, foram feitas mais de 40 notificações de descobertas à ANP, das quais apenas seis foram declaradas comerciais.

Entre as grandes, a Shell é a que tem maior presença até agora, já produzindo 40 mil barris/dia no campo de Bijupirá e Salema, na bacia de Campos. A próxima grande a produzir é a Chevron, que opera o campo de Frade, na bacia de Campos.

Outra companhia que já produz é a Starfish, que tem capital pulverizado e é gerida por empresários brasileiros, sócia da Petrobras nos campos Coral e Estrela do Mar, no litoral catarinense da bacia de Santos.

Entre as de companhias de pequeno porte que já produzem no país ou estão prestes a iniciar a produção de óleo, apenas quatro não têm parceria com a Petrobras: a Petrorecôncavo, Aurizônia, W. Washington e Synergy, do grupo Marítima. A Aurizônia está pronta para produzir 400 barris/dia, mas ainda negocia com a estatal. Entre as demais, a produção média é de 300 barris por dia - sem contar os 3.500 barris/dia que a Petrorecôncavo produz para a Petrobras como prestadora de serviços. Pelos cálculos de Newton Monteiro, diretor da ANP, a Synergy está produzindo 350 barris/dia em Alagoas. Flávio Monteiro, diretor da Synergy, disse que no próximo mês a companhia vai começar a produzir 800 barris na Bahia e o mesmo volume no Rio Grande do Norte.

O diretor geral da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip), Eloi Fernández y Fernández, afirma que a entrada das pequenas empresas no segmento define um novo mercado no Brasil para áreas em terra, já que hoje grande parte da oferta de serviços está voltada para a produção no mar. Mas ele acha que se as empresas cumprirem o programa de investimentos prometido à ANP a tendência é aumentar a demanda pelo aluguel ou compra de sondas, e serviços de sísmica. As grandes e médias se comprometeram a investir R$ 1,797 bilhão nas áreas e as pequenas, R$ 61,8 milhões.

"Esse nicho vai exigir a presença de novos empresários no setor", prevê Fernandez, que não esconde uma ponta de preocupação com o grande volume de investimento prometido pelas pequenas empresas.

James Correia é mais otimista. "Existem no Nordeste 13 redes de pesquisa em petróleo e gás natural, que envolvem mais de mil professores de diversas universidades, com apoio da Finep,

Petrobras e algumas até com empresas como Braskem. Essas redes estão se tornando o grande celeiro de formação de profissionais na área de petróleo, principalmente no Nordeste, onde elas trouxeram uma dinâmica totalmente nova ao setor", diz.

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