Negócios

Mudanças na Usiminas barram avanço de Steinbruch

Valor Online
18/02/2011 11:58
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Os acionistas controladores da Usiminas reagiram rápido e decidiram fechar todas as portas de entrada de sócios indesejáveis no bloco controlador  da companhia. Com isso, praticamente jogaram por terra o desejo de Benjamin Steinbruch, dono e presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), de conseguir uma posição no clube que comanda a siderúrgica mineira. Camargo Corrêa, Votorantim, Nippon Steel e outros parceiros japoneses e o Clube dos Empregados da Usiminas (CEU) passaram os últimos dias reunidos e acabam de firmar uma nova redação para seu acordo de acionistas que define novas regras e prazos no bloco controlador da empresa.


A Usiminas é a maior concorrente da CSN no mercado interno de aços planos e não é de hoje que o Steinbruch alimenta o desejo de unir as duas empresas ou pelo menos incorporar à sua empresa uma parte dos ativos dela. O empresário, aproveitando-se do preço baixo da ação da Usiminas, fez várias aquisições, por meio da CSN, de papéis ordinários da concorrente, chegando a 5,03%, bem como preferenciais (4,99%). Foi um movimento visto como dúbio pelo mercado, uma vez que se tratava de títulos sem direito a voto, e questionou se se tratava de investimento financeiro por estarem os papéis baratos.


Mas, num fato relevante, de 27 de janeiro, a CSN deixou claras suas intenções no último dos três parágrafos. “A companhia está avaliando alternativas estratégicas com relação a seu investimento na Usiminas, incluindo possíveis aquisições adicionais de ações (...). Eventuais aquisições adicionais poderiam levar a alterações na composição do controle ou na estrutura administrativa da Usiminas”, informou. A avaliação é que seu intuito era, aos poucos, formar uma posição robusta que traria poder de voto no conselho no futuro e só aguardaria o momento certo para fazer uma ofensiva mais ousada. Ao passar de 10% do capital, já poderia reivindicar direito de eleger um conselheiro.

Foi a gota d’água para emergir, de Tóquio e São Paulo, onde ficam as sedes dos três grandes acionistas controladores da Usiminas, uma contundente reação.

O novo acordo de acionistas da Usiminas procurou fechar brechas ao mesmo tempo que amplia seu prazo de validade. O atual vence em 5 de novembro de 2021, mas deixou uma janela aberta: em 2016, ele poderia ser denunciado por alguém integrante do capital interessado em formatar nova composição diretiva. Desfeito, abriria a porta para entrada de um sócio que não fosse de consenso dos atuais acionistas. Votorantim, Camargo e os japoneses não demonstram, nesse momento, querer mudanças no modelo atual de sociedade.


A nova redação do acordo amplia seu prazo de validade para 2031 e fortalece as amarras entre os sócios do bloco de controle, reforçando direitos de preferência no caso de um deles vier a sair nesse período. Além disso, tira fora do bloco controlador o Clube dos Empregados, que, a partir de 2016, fica livre para se desfazer de suas ações – 10% do capital votante. Um caminho natural seria a venda dessas ações no mercado, ampliando o free float dos papéis ON da siderúrgica, hoje de 25,7%.

A composição acionária atual no capital votante engloba o grupo Nippon com 26,7% (correspondente a 43,5% das ações vinculadas ao acordo de acionistas, que são 63,9% do capital votante). Votorantim e Camargo, em conjunto, detêm 26% (representando 40,7%) e o CEU, com 10,1%, tem peso de 15,8% nos papéis vinculados. As principais deliberações, como eleição do presidente da companhia, requerem consenso mínimo de aprovação de ao menos 85% dos votos. O Grupo Nippon e o grupo V/C podem, cada um, eleger três membros para o conselho de administração. O CEU tem dois membros e direitos de veto nas decisões.

O que já se discutia há algum tempo, diante do avanço ainda velado de Steinbruch, era que a participação do fundo dos empregados, que está com seu portfólio de investimento totalmente dependente de um único ativo, poderia ser alvo fácil de aquisição por alguém de fora do bloco em 2016, embora haja direito de preferência dos japoneses e dos dois grupos brasileiros na operação de venda. O receio era que, se isso ocorresse, por exemplo, num momento de dificuldade financeira dos demais acionistas, eles não teriam de exercer seu direito de compra. Aí seria tarde demais para impedir que CSN ou um outro grupo adentrasse no bloco de controle e impusesse mudanças para os rumos da companhia mineira.


Pelo acordo atual, tanto Votorantim quanto Camargo têm direito de preferência entre si no caso de uma saída. Caso um deles não mostre interesse, o grupo Nippon pode exercer a aquisição dos papéis. Da mesma forma, os dois grupos brasileiros tem preferência no caso de os japoneses decidirem deixar o negócio, possibilidade considerada remota. Pelo contrário, anunciaram recentemente o desejo de reforçar operações no exterior. A Usiminas é o primeiro grande investimento do Japão no exterior após a Segunda Guerra Mundial. Participaram da criação da siderúrgica em 1958.

O atual acordo de acionistas, assinado em 2006, já buscava fortalecer o bloco controlador da empresa, diante da rápida evolução de fusões e aquisições que ocorria no setor em todo o mundo. O movimento começou a gerar disparidades desde escala de produção, participações de mercado, tecnologia e acirramento da competição entre os fabricantes de aço. ArcelorMittal e Gerdau, por exemplo, foram dois grandes atores nessa onda. A própria CSN fez incursões nos Estados Unidos e a principal delas, em 2007, na Europa, disputando o controle da Corus com a indiana Tata. Steinbruch não teve sucesso.


Diante disso, os principais acionistas do bloco de controle da Usiminas concluíram “ser essencial ter um compromisso de longo prazo entre os maiores acionistas do Brasil e do Japão para garantir uma administração sólida e uma execução de negócios estratégicos voltados para as oportunidades, assegurando o progresso contínuo da Usiminas”. É o que voltam a fazer, antes do que previam, para fortalecer ainda mais o bloco controlador.
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