O Japão cogita estatizar a Tokyo Electric Power Company (Tepco), num momento em que a empresa enfrenta críticas crescentes por causa dos vazamentos da usina nuclear de Fukushima. O premiê japonês, Naoto Kan, fez ontem as críticas mais duras até agora à companhia, contribuindo para as especulações de que esteja preparando a estatização. As ações da empresa estão despencando.
Kan disse pela primeira vez que as defesas da usina contra tsunamis eram inadequadas. Segundo ele, a Tepco construiu uma barreira capaz de suportar uma onda de 5,5 metros, mas o tsunami do dia 11 alcançou quase três vezes essa altura. "É inegável que os cálculos em relação ao perigo de tsunamis foram muito equivocados. O fato de seus padrões de segurança terem sido tão baixos praticamente foi um convite para que a situação atual ocorresse."
Koichiro Gemba, ministro de Políticas Nacionais do Japão, disse que a estatização era uma opção: "Todas as opções quanto ao que fazer com a Tepco são possíveis".
Nos últimos dias, acumularam-se as reclamações de autoridades quanto ao modo da empresa lidar com a emergência. Protocolos de segurança negligentes, que teriam levado à hospitalização de trabalhadores das equipes de emergência, superestimação dos níveis de radiação e incapacidade de dar notícias acuradas sobre a operação de esfriamento dos reatores afetados foram algumas dessas críticas.
Uma onda de indignação da população japonesa em relação à empresa e a como o governo a fiscaliza pode atingir diretamente o Partido Democrata do Japão (PDJ), de Kan, o que contribui também para as especulações de que o governo terá de tomar medidas urgentes para salvar sua autoridade.
Segundo o "Yomiuri Shimbun", jornal de maior circulação no país, o governo já está estudando como efetivamente tomar o controle da companhia.
Outra coisa a influir nisso é a possibilidade de uma onda de ações contra a Tepco pedindo indenizações e lucros cessantes, tanto pela contaminação de áreas próximas quanto pela falta de fornecimento de energia. Uma falência da Tepco criaria o problema de saber quem se responsabilizaria pela manutenção das usinas.
As ações da Tepco vêm registrando quedas espetaculares e atingiram seu menor patamar em 47 anos. O valor de mercado da empresa caiu 70% nas últimas duas semanas.