Valor Econômico
A BP diz estar investindo seu melhores cérebros no esforço para deter o vazamento de petróleo no Golfo do México. Entretanto, foi preciso alguém de fora da empresa - o secretário de Energia dos EUA, Steven Chu, um Prêmio Nobel de Física - para apresentar a ideia de perscrutar o interior do avariado dispositivo para prevenção de "blow-outs" (expulsão descontrolada de fluídos de reservatórios) com raios gama de alta energia. A BP testou a ideia de Chu, após algumas ironias e piadas sobre o Incrível Hulk, segundo o jornal "The Washington Post", e a abordagem deu certo. A sonda foi "crucial para nos ajudar a entender o que está acontecendo no interior do dispositivo e orientar o avanço da abordagem", disse Jane Lubchenco, diretora da National Oceanic & Atmospheric Administration.
O caso é sintomático de um problema que é maior que a BP, companhia com sede em Londres. Em todo o mundo, as empresas de energia são muito menos dedicadas à ciência do que se poderia esperar de um setor fortemente dependente de tecnologia para sua segurança e seus lucros. Nos EUA, os investimentos das companhias do setor energético em pesquisa, desenvolvimento e implantação equivalem a apenas 0,3% de seu faturamento. Isso é pouco mais de um décimo do que a indústria automobilística gasta (como percentual de faturamento) e é totalmente ofuscado pela indústria farmacêutica, que investe (em P&D) quase 19%. John Felmy, economista-chefe do American Petroleum Institute, diz que os números referentes a P&D subestimam o investimento "geral do setor no futuro".
Muitos economistas dizem que o governo precisa entrar em cena quando o setor privado não provê a quantidade socialmente ótima de algo como pesquisa. Mas as iniciativas de P&D do governo americano no setor de energia também têm sido rarefeitas. O investimento foi inferior a 0,03% do PIB dos EUA a partir de 2007, um terço do percentual no Japão. A escassez de investimentos de P&D em energia ajuda a explicar porque o mundo ainda está obtendo sua energia abrindo poços no fundo do mar, em vez de obtê-la de fontes renováveis como o sol e o vento.
Em seu discurso, em 15 de junho, sobre o vazamento de petróleo no Golfo, o presidente Barack Obama citou um rápido avanço de P&D no setor energético como uma das várias ideias que "têm mérito e merecem justa atenção nos próximos meses". Esse foi um endosso menos enfático do que esperavam alguns defensores de mais investimentos. Em 11 de junho, o American Energy Innovation Council defendeu um aumento gradual, para US$ 16 bilhões, nos gastos federais anuais com P&D, dos atuais US$ 5 bilhões. O conselho de sete membros inclui Bill Gates, presidente da Microsoft, Jeffrey Immelt, CEO da General Electric, e John Doerr, investidor de risco no Vale do Silício.
O empenho por mais investimentos em P&D no setor energético defronta-se com formidáveis obstáculos, a começar pelo déficit orçamentário. O deputado Ralph Hall, o republicano mais graduado na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, tentou, em maio, cortar cerca de US$ 40 bilhões dos US$ 86 bilhões defendidos pelos democratas no âmbito da lei America Compete, que financia pesquisas federais e o ensino de matemática e ciência. "Precisamos ficar atentos para nossos investimentos, para que os EUA continuem competindo mundialmente", disse Hall na ocasião. A Câmara acabou aprovando o projeto de lei sem os cortes defendidos por Hall; o Senado ainda não votou. Ainda que o Congresso autorize os US$ 86 bilhões, a verba ainda poderá ser cortada na fase de alocações.
Dinheiro não é o único problema. Na direita, muitos republicanos dizem que o governo federal deve se envolver apenas em ciência básica, e não em etapas relacionadas com comercialização. Na esquerda, muitos democratas esperam deslanchar esforços em P&D de energia verde mediante medidas como limitação a emissões de carbono, o que tornaria o carvão e o petróleo mais caros.
O que está em jogo são iniciativas como o Arpa-E, um programa do qual participam 20 funcionários do Departamento de Energia e que financia o que seu diretor, Arun Majumdar, denomina "tecnologias anti-status quo efetivamente de muito alto risco e grande recompensas (potenciais)". O modelo da Arpa-E foi inspirado na agência de Defesa de Projetos de Pesquisa Avançados (Darpa), que contribuiu para deslanchar a internet e o sistema GPS. Como o Darpa, esse programa energético não se sujeita às regras de contratação do serviço público, para que possa se beneficiar dos melhores cientistas e engenheiros por curtos períodos. A agência iniciou suas operações em 2009, com dotação de US$ 400 milhões em fundos de estímulo para dois anos. O governo Obama quer dar US$ 300 milhões para o Arpa-E no ano fiscal com começa em 1º de outubro.
Desafiando a convenção burocrática, o Arpa-E está financiando uma técnica pouco ortodoxa de produção de combustíveis a partir de matéria vegetal, apesar de competir com outro projeto do Departamento de Energia, o Joint BioEnergy Institute. "Esse é o tipo de ambiente que queremos", disse Majumdar em entrevista em 14 de junho. "Prefiro ter concorrência dentro do que fora dos EUA".
Mas o que Majumdar diz ser concorrência fecunda pode parecer redundância inútil para o Congresso, preocupado com o déficit. O Conselho Americano para Inovação Energética alega que o Arpa-E merece US$ 1 bilhão por ano. Majumdar diz que ficaria feliz com os US$ 300 milhões pedidos, devido ao grande déficit orçamentário.
O secretário de Energia, Chu, disse no ano passado que a China está gastando US$ 9 bilhões por mês em investimentos relacionados energia limpa. "Estamos competindo com alguns concorrentes muito ferrenhos, que estão jogando tudo o que têm para terem sucesso na economia de energia limpa", disse Kristina Johnson, subsecretária de Energia.
Peter Coy, Bloomberg BusinessWeek
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