Ibovespa

Índice supera 100 mil pontos e pode ir além com reforma da Previdência

Reuters, 18/03/2019
18/03/2019 21:55
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E o Ibovespa chegou lá. Depois de ameaçar em algumas sessões, foi nesta segunda-feira que o índice de referência do mercado acionário brasileiro alcançou o almejado patamar dos 100 mil pontos, embalado em boa parte por perspectivas otimistas para a pauta de reformas no país.

Às 14:51, o principal índice de ações da B3 avançava 0,91 por cento, a 100.025 pontos. Na máxima, bateu 100.037 pontos. No ano, o Ibovespa acumula alta de cerca de 18 por cento.

“Isso marca a quebra de uma barreira histórica, mas, na nossa visão, é só o começo do que está por vir”, afirma Karel Luketic, analista-chefe da XP Investimentos. Ele não descarta volatilidade, com alguma realização de lucros nos próximo meses, mas ressalta que o quadro estrutural é muito positivo.

Investidores veem a mudança no regime atual de Previdência do país como crucial para a melhora da situação fiscal brasileira, a fim de estabilizar o comportamento da dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), que alcançava 76,7 por cento em janeiro, o dado mais recente disponível.

Uma melhora nesse quadro teria efeito de queda na curva longa de juros do país, que é vista como uma das principais métricas para o investimento em ações.

“A marca dos 100 mil pontos é mais um passo na tendência altista do Ibovespa”, afirma Daniel Gewehr, chefe de estratégia em renda variável para América Latina no Santander Brasil em São Paulo. “Nosso preço-alvo para o Ibovespa é ainda maior, de 115.000 pontos para o final de 2019.”

Pela mediana de estimativas compiladas no mercado pela Reuters em fevereiro, o Ibovespa deve chegar a 120 mil pontos até o final do ano.

Para Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de renda variável do BTG Pactual digital, o fator psicológico dessa marca representa uma “virada de página” das expectativas para a Previdência. “Mostra que virou a página sobre a questão, que (o mercado) vê ela está caminhando.”

A proposta que muda as regras das aposentadorias foi encaminhada ao Congresso Nacional em fevereiro. No dia 13 foi instalada a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, primeiro colegiado em que ela tramitará, e a primeira reunião deve ocorrer nesta semana.

“Não muda muito o Ibovespa estar em 99 mil pontos ou 100 mil pontos, mas é algo psicológico”, reforçou o Viccenzo Patrnostro, responsável pela área de renda variável da Legacy Capital.

Além da reforma da Previdência, o mercado também monitora os planos de privatização dos governo, leilões de concessões de infraestrutura, venda de ativos entre outras medidas com potencial de sanar a questão fiscal do país.

A melhora das perspectivas fiscais é o que deve atrair o capital externo que segue afastado ou detém posições ainda relativamente tímidas na bolsa brasileira.

Em 2017, havia elevada expectativa de que o governo do ex-presidente Michel Temer conseguisse avançar com uma reforma nas regras das aposentadorias, mas os planos foram atropelados após denúncias de corrupção enfraquecerem a base política.

“O fluxo estrangeiro vai ser o responsável por uma nova mudança de patamar do Ibovespa...mas ele não deve vir - ou fará posições pequenas - até que ocorra a aprovação da reforma”, ressaltou Patrnostro, citando que esses agentes podem preferir perder o começo do movimento de olho em um horizonte maior.

Dados da B3 sobre as negociações de estrangeiros no segmento Bovespa mostram saída líquida de 598 milhões de reais neste ano até o dia 14.

“A percepção é de que investidores estrangeiros entrarão e maneira mais relevante no país quando tivermos algo mais concreto em termos de aprovação da previdência”, afirmou Gewehr.

O desempenho das companhias na temporada de balanços também aparece como suporte para tal performance do Ibovespa, bem como para as perspectivas otimistas para o mercado à frente.

“A Previdência está muito no radar, mas há também outros fatores, como a melhora no desempenho das empresas”, ressaltou Zanlorenzi.

Ele cita compilação do BTG mostrando que 53 por cento das empresas que já divulgaram balanço tiveram resultado acima do esperado pelos analistas da casa, com melhora de margens operacionais e resultado financeiro e recuperação de vendas.

Gewehr afirma manter recomendação de alocação acima da média para Brasil no contexto da América Latina devido a crescimento atrativo dos lucros, valuation ainda favorável e retorno potencial vindo da realocação de ativos domésticos.

Riscos

Agentes financeiros têm reiterado a visão positiva para a bolsa brasileira com base na aposta de avanço da agenda econômica da equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, mas não descartam volatilidade até a concretização dos planos do guru econômico do presidente Jair Bolsonaro.

Patrnostro, da Legacy Capital, não descarta realização de lucros no curtíssimo prazo, uma vez que o desfecho da tramitação da reforma é desconhecido. “A bolsa andou bastante este ano, já colocou no preço bastante chance de a reforma passar”

No longo prazo, contudo, a avaliação no mercado é de que, se aprovada, o otimismo com a reforma tende a prevalecer a qualquer eventual movimento de embolso de ganhos.

Entre os riscos para tal cenário estão o fracasso na implementação da pauta positiva de Guedes e equipe, notadamente as mudanças na Previdência, uma vez que deixaria o país em uma situação fiscal insustentável e afugentaria investimentos, necessários para a retomada do crescimento econômico.

Uma eventual desidratação acima que o mercado também pesaria nas ações. O texto original da proposta de reforma prevê economia de 1 trilhão de reais, mas, agentes financeiros trabalham com uma faixa ao redor de 750 bilhões de reais.

Também o cenário externo pode frustrar os prognósticos favoráveis, principalmente um desenlace negativo nas negociações comerciais entre os Estados Unidos e China, o que teria impacto direto em papéis sensíveis ao movimento de commodities, que têm peso relevante no índice.

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