Internacional

Grandes petrolíferas desistem de projetos caros e complexos

The Wall Street Journal 06/05/2016
06/05/2016 14:21
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As maiores petrolíferas do mundo estão deixando de lado grandes projetos que, até há alguns anos, elas divulgavam como sendo o futuro do setor.

Da Austrália ao Golfo do México, as baixas incluem projetos de exploração em águas ultraprofundas, embarcações imensas usadas como fábricas flutuantes de gás natural liquefeito e tecnologias que poderiam reduzir drasticamente a emissão de combustíveis fósseis. A anglo-holandesa Royal Dutch Shell PLC, a americana Chevron Corp. e a australiana Woodside Petroleum PLC são algumas das grandes empresas de petróleo que estão cancelando ou adiando projetos ambiciosos.

Um novo exemplo dessa tendência foi divulgado na quarta-feira, quando a Shell informou ter registrado queda de 83% no lucro do primeiro trimestre ante um ano atrás. A empresa afirmou que vai cortar seus gastos de capital em mais 10% neste ano, para US$ 30 bilhões.

"Para ser totalmente honesto, qualquer novo grande investimento, seja de GNL flutuante, águas profundas ou outro está sob uma análise crítica muito severa dos níveis de custo e retorno simplesmente devido" à situação do setor, disse o diretor financeiro da Shell, Simon Henry, numa teleconferência.

Desde que os preços do petróleo começaram a cair, há quase dois anos, a indústria petrolífera já adiou ou cancelou US$ 270 bilhões em projetos, estima a consultoria norueguesa Rystad Energy. Grande parte desses cortes está ligada a projetos de alta tecnologia que já foram considerados vitais para sustentar a oferta global de petróleo.

É uma reviravolta drástica em relação aos últimos dez anos, quando a demanda crescente e a redução das fontes alçaram os preços do petróleo às alturas e levaram as petrolíferas a novas fronteiras de exploração, não importava a que custo.

Segundo a firma de dados IHS Inc., o setor de petróleo e gás gastou cerca de 15% menos em pesquisa e desenvolvimento em 2015 — quando o preço médio do petróleo ficou em torno de US$ 50 por barril — do que em 2014, quando ele foi de US$ 100.

"Vemos um recuo dos clientes em projetos realmente complexos", diz Kishore Sundararajan, diretor de tecnologia da GE Oil & Gas, a divisão de serviços de petróleo da General Electric Inc.

Iniciativas para recriar em outros países o boom da exploração de formações de xisto vivido pelos Estados Unidos também foram suprimidas por razões políticas, geológicas e técnicas, além da queda nos preços.

Agora, o foco está cada vez mais voltado para tecnologias que podem reduzir custos e aumentar a eficiência, à medida que as grandes petrolíferas globais continuam cortando bilhões de seus orçamentos e eliminando milhares de empregos.

Os preços subiram para seu nível mais elevado deste ano, com o petróleo do tipo Brent, a referência internacional, atingindo US$ 48,50 por barril no fim de abril. Mesmo assim, as empresas permanecem cautelosas quanto a entrar em novas áreas caras e complexas.

"Não vamos ver uma alta significativa se os preços do petróleo voltarem para US$ 60 o barril", disse a analistas o diretor financeiro da petrolífera britânica BP, Brian Gilvary, em abril. "Estamos vendo realmente o que podemos fazer em torno das margens do portfólio existente."

Entre as principais vítimas da queda nos preços estão as fábricas flutuantes de gás natural liquefeito — navios enormes que são, na prática, fábricas navegantes capazes de acessar campos remotos. O gás natural há muito tempo é transportado somente por gasodutos. Em vez disso, as fábricas de GNL transformam o gás em líquido, permitindo que o combustível seja enviado a mercados em todo o mundo.

Em abril, a Woodside Petroleum desistiu de seus planos de montar operações flutuantes em seu campo Browse, na costa ocidental da Austrália, um projeto que teria custado US$ 40 bilhões, estimam analistas. A empresa afirma que ainda é a favor do projeto, mas que ele não deve ocorrer no cenário atual.

Os trabalhos nessas grandes fábricas flutuantes de gás estão em andamento desde o início da década de 90, mas ainda não há nenhuma em operação. A queda dos preços e o excesso que está se formando na oferta de gás natural estão gradualmente matando os planos para novos projetos.

"Projetos de capital pesado não são favoráveis no momento, então colocar grandes quantias de dinheiro neles não é a coisa mais inteligente a fazer", disse o diretor-presidente da Woodside, Peter Coleman, em abril.

Tentativas caras para tornar o setor petrolífero mais favorável ao meio ambiente por meio da captura e armazenamento de carbono também acabaram vítimas da queda dos preços do petróleo. Conhecidos como CCS (da sigla em inglês), esses projetos capturam o dióxido de carbono liberado em processos industriais e o armazenam no subsolo. Tais projetos de CCS são vistos por muitos analistas do setor como cruciais para a prevenção de mudanças climáticas catastróficas. Muitos outros na indústria também são defensores ferrenhos da tecnologia.

A Shell e a Chevron estão liderando projetos ambiciosos no Canadá e na costa da Austrália, respectivamente. Mas novas iniciativas estão demorando para se tornar realidade. O CCS continua caro e geralmente dependente de subsídios dos governos. Em 2015, a Shell voltou atrás na proposta de uma fábrica no Reino Unido, depois que o governo cancelou incentivos de 1 bilhão de libras. E a queda nos preços do petróleo exerce uma pressão adicional sobre qualquer novo empreendimento.

"Ainda estamos no início desse tipo de projeto e eles são caros", disse em abril o diretor-presidente da Chevron, John Watson, na Austrália.

É claro que nem todo grande projeto está sendo cancelado. Mas os em andamento sofreram cortes. A BP, por exemplo, informou que espera levar adiante seu projeto Mad Dog, de exploração em águas profundas no Golfo do México, mas já cortou cerca de 50% do orçamento original e, mesmo assim, afirma que ainda é possível economizar mais.

A Shell optou por ir em frente com seu projeto Appomattox, que tem como alvo uma produção de 175 mil barris de petróleo equivalente por dia extraídos de uma profundidade de quase 2.200 metros no Golfo do México. Foi um dos poucos projetos aprovados no ano passado, depois que os custos foram reduzidos em 20%.

O navio Prelude, uma gigantesca fábrica flutuante de GNL ainda em construção, vai ser provavelmente um dos primeiros a testar a tecnologia. Desenvolvido em campos marítimos da Austrália, o projeto deve entrar em produção em 2018.

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