Agosto

Câmbio, petróleo e mercado interno geram importação recorde

Valor Econômico
02/09/2008 07:42
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O dólar barato, o petróleo e a demanda aquecida no mercado doméstico fizeram com que o valor das importações em agosto (US$ 17,47 bilhões) fosse o maior da série histórica para todos os meses. No mês passado, as exportações foram de US$ 19,74 bilhões e o saldo, 24,8% menor que o de julho, foi de US$ 2,26 bilhões. 


Nas comparações das médias diárias, agosto teve crescimento de 65,6% nas compras e 43,2% nas vendas. O quadro mais ampliado dos números dos últimos 12 meses mostra que o ritmo de aumento das importações (49,4%) é o dobro da velocidade de crescimento das exportações (25,5%). 


Essa velocidade de crescimento das importações e a manutenção do atual patamar do câmbio - o dólar foi cotado ontem a R$ 1,64 - levam alguns analistas a considerar a possibilidade de déficit comercial em 2009, devolvendo ao país um cenário que prejudicou as contas externas de 1995 a 2000. O vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, é um deles. "Europa e Japão estão em recessão e os Estados Unidos desaceleram. Isso empurra a China a reduzir suas importações. Se o Brasil conseguir algum superávit no ano que vem, será desprezível", lamenta. 


No período janeiro-agosto, a balança comercial do petróleo teve déficit de US$ 5,44 bilhões, valor maior que o dobro do mesmo período em 2007: US$ 2,38 bilhões. O secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, reconhece que é grande o impacto do aumento dos preços internacionais desse produto na balança comercial, mas pondera que, em 2004, o peso do déficit da balança do petróleo (US$ 4,24 bilhões) era, proporcionalmente, muito maior. Naquele ano inteiro, a corrente de comércio do petróleo - soma das exportações e das importações - foi de US$ 15,71 bilhões. Nos oito meses de 2008, já atingiu US$ 36,94 bilhões. 


O déficit do petróleo explica um terço da queda do saldo comercial brasileiro no período janeiro-agosto. Neste ano, o superávit foi de US$ 16,9 bilhões. Em 2007, foram US$ 27,46 bilhões. Segundo o governo, cresceram 9%, neste ano, as quantidades importadas de petróleo e derivados, mas o valor foi 77% maior. Nas quantidades compradas, os aumentos relevantes foram do óleo diesel (36%), do gás natural (21,5%) e do petróleo (1,4%). 


Os exportadores brasileiros, principalmente os que vendem produtos básicos, têm sido beneficiados pelos expressivos aumentos das cotações das "commodities", ocorridos nos últimos anos. Mas a análise das quantidades embarcadas mostra uma perspectiva preocupante. No período janeiro-julho, houve queda de 0,6%. A diminuição nos manufaturados foi de 3,3% e a média geral foi compensada pelos aumentos de 1,3% nos básicos e 1,9% nos semimanufaturados. No lado das importações, no mesmo período, houve aumento de 23% nas quantidades, com destaque para as altas de 69,2% nos bens de consumo duráveis e 38,9% nos bens de capital. 


Castro alerta que os preços das "commodities" vêm subindo desde 2001 e poucos acreditaram que essa escalada seria mantida em 2008. "No ano que vem, é muito maior a chance de queda nas cotações, o que prejudicaria sensivelmente o Brasil, tradicional exportador de produtos básicos", afirma. 


Barral admite que o governo preocupa-se em aumentar as exportações ampliando o número de empresas envolvidas nessa atividade, diversificando o destino das mercadorias e elevando a variedade de produtos com maior valor agregado. Ele garante que vários exportadores vêm compensando perdas no mercado americano com vendas em países que não têm tradição em comprar mercadorias brasileiras. 


Como exemplo, o secretário citou três setores bastante prejudicados pelo câmbio, mas que estão reagindo com a busca de novos mercados e a agregação de valor aos produtos: vestuário, calçados e móveis. Também diz que a exportação de celulares está sendo retomada, com aumentos de 6% na quantidade e 4% nos preços desses produtos para o período janeiro-agosto. 


Além dessa boa reação, Barral ressalta que nos últimos 12 meses as vendas externas brasileiras ampliaram-se 25,5%, variação muito acima dos 15,3% previstos para a média mundial. "As exportações já passaram de US$ 189 bilhões nos últimos 12 meses e o governo está preparando um novo cálculo da sua meta para 2008", informa. O objetivo atual é de US$ 190 bilhões. 


Por outro lado, Castro critica a demora para que as medidas pró-exportação, divulgadas em maio, entrem em vigor para estimular pequenas e médias empresas. Os dois exemplos dados por ele são duas antigas reivindicações: o drawback verde-amarelo e o consórcio exportador. No caso do drawback, será a extensão, para insumos nacionais, da desoneração que existe para importados. No consórcio, a maior vantagem será a redução de custos operacionais. 


De acordo com as informações do governo, o período janeiro-agosto teve expressivas variações nas médias diárias das importações. Para o grupo dos combustíveis, a elevação foi de 85,4%, fazendo com que a participação desses produtos aumentasse de 15,8% para 19% do total das compras. Nas categorias dos bens de capital (máquinas e equipamentos) e das matérias-primas, o crescimento foi de 51,7% e 46,8%, respectivamente. Com relação aos bens de consumo, o aumento foi de 46%, com destaque para o salto de 105% dos automóveis. 


No lado das exportações, o período janeiro-agosto teve predominância do aumento nos embarques de produtos básicos (51,6%). Para os bens de maior valor, os crescimentos foram de 28,5% (semimanufaturados) e 14,5% (manufaturados). Nesses oito meses, os manufaturados tiveram participação de 46,6% no total das exportações. No mesmo período de 2007, foram 52,6%. 

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