A delegação brasileira em visita aos Estados Unidos discutiu com o governo americano a lei da Flórida que pode prejudicar negócios da Odebrecht, nas conversas paralelas ao encontro da presidente Dilma Rousseff com o líder dos Estados Unidos, Barack Obama, ocorrido segunda-feira (9) em Washington.
"A preocupação é grande porque a Odebrecht tem contratos importantes nos Estados Unidos e em Cuba", disse o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, que integrou a comitiva presidencial que visitou ontem universidades na região de Boston, no segundo e último dia da visita oficial de Dilma aos país.
Pimentel disse que expressou a preocupação brasileira com o tema em conversa com a sua contraparte no governo americano, o secretário de comércio, John Bryson.
Conforme reportagem publicada pelo 'Valor' na terça-feira, o parlamento local da Flórida aprovou uma lei que impede empresas com investimentos em Cuba de realizar negócios com governos locais no estado. A medida, que foi patrocinada por deputados e senadores estaduais da bancada anticastrista, depende de sanção do governador da Flórida, Rick Scott, para entrar em vigor. "Ainda não é lei", ressaltou Pimentel. "Temos uma margem de possibilidades de que o governador da Flórida não sancione". Se sancionada, a medida entra em vigor em julho.
A Odebrecht seria uma das principais prejudicadas pela legislação, já que no estado se concentra 80% do negócio de construção da empresa nos Estados Unidos. Na Flórida, os investimentos em execução somam quase US$ 2 bilhões, e ainda há pelo menos outros US$ 1,5 bilhão sendo disputados pelo grupo.
Paralelamente aos contratos nos Estados Unidos, a Odebrecht tem importantes negócios em Cuba. Executa, por exemplo, obras no Porto de Mariel - com investimentos de quase US$ 1 bilhão. Além disso, tem intenção de produzir açúcar na ilha.
Scott teme que a medida afaste investimentos na Flórida, uma das regiões mais afetadas pela crise americana. Ele liderou no ano passado uma comitiva de empresários ao Brasil, que é o principal parceiro comercial do estado e vem aumentando seus investimentos diretos na região. Mas sua tendência seria, ainda assim, de sancionar a lei, cedendo às pressões dos exilados cubanos, que compõem parcela importante do eleitorado do estado da Flórida.
"Se a lei for sancionada, a expectativa nossa é de que o governo federal dos Estados Unidos tome providências, porque a lei é inconstitucional", afirmou Pimentel. Especialistas nas leis americana têm sustentado que a lei não é válida porque estados não podem legislar sobre assuntos de política externa. Eles esperam que, caso seja sancionada pelo governador, ela seja questionada na Suprema Corte.