Crise Bolívia-Brasil

Bolívia congela resolução que provocou atrito com Petrobras

Reuters
15/09/2006 03:00
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O governo da Bolívia cedeu na noite de quinta-feira aos protestos da Petrobras e decidiu congelar uma resolução que entregava à petrolífera local YPFB o controle de toda a comercialização interna de derivados de petróleo.

A medida tem caráter transitório e não afeta os objetivos finais nem os planos de nacionalização do setor de hidrocarbonetos, afirmou o vice-presidente boliviano Alvaro García, em uma conferência depois de reunião de emergência com vários ministros no palácio de governo, na quinta-feira.

"O congelamento (da resolução do ministério de Hidrocarbonetos) é uma decisão para favorecer um clima favorável para as negociações e os acordo no cumprimento estrito da nacionalização", afirmou García.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha confirmado mais cedo, ainda na noite de quinta-feira, que o governo boliviano iria "congelar" a medida que gerou novo impasse com a Petrobras.

"Eu pedi para o meu assessor especial Marco Aurélio (Garcia) ligar para o vice-presidente da Bolívia, que estava chegando dos Estados Unidos, e ele informou o Marco Aurélio que eles vão congelar essa medida, porque qualquer coisa que acontecer com a Petrobras... tem que ser negociada com o governo", disse Lula em entrevista à TV Bandeirantes.

A resolução do governo boliviano, de quarta-feira, incluía o controle pela estatal YPFB do fluxo de caixa das refinarias da Petrobras no país.

Na entrevista à Bandeirantes, Lula não descartou um endurecimento na posição brasileira nas negociações com o governo boliviano, tensas desde a nacionalização do setor de hidrocarbonetos daquele país, em maio deste ano.

"Obviamente que, se a Bolívia teimar em tomar atitudes unilaterais, o Brasil vai ter que pensar em como fazer uma coisa mais dura com a Bolívia", disse o presidente.

Antes de participar na quinta-feira de mais um jantar com empresários na casa do ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, Lula disse que pretende continuar a colaborar com a Bolívia, mas ressaltou que paciência "tem limite" em negociações internacionais.

"Todo mundo sabe que paciência é importante nas negociações. Eu digo sempre que, em negociações internacionais, paciência é muito importante, mas tem limite", disse.

CONVERSA COM VICE BOLIVIANO

Em entrevista coletiva na noite de quinta-feira, após a fala de Lula, Marco Aurélio confirmou o contato com o vice-presidente boliviano e acrescentou que foi informado do congelamento por volta das 18h30.

"García Linera me informou que, tendo consultado o presidente Evo Morales, as medidas ficariam congeladas por tempo indefinido e seriam incluídas nas negociações futuras entre as empresas estatais e os ministérios de Minas e Energia dos dois países", disse o assessor.

Segundo o assessor de Lula, "a resolução não será aplicada", e isso permite a retomada normal das negociações com a Bolívia. "Voltamos ao entendimento anterior", disse Marco Aurélio, acrescentando que a nova posição será formalizada por escrito.

"(Garcia Linera) informou que será enviada carta ao governo brasileiro pondo, por escrito, esse entendimento", disse Marco Aurélio.

O assessor mostrou otimismo e disse que, apesar de ter ficado surpreso com a maneira que a medida foi adotada, o governo brasileiro não perdeu a confiança nas autoridades bolivianas. "Se não desse mais para ter confiança (no governo Morales) teríamos tomado outra posição", disse.

O ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, divulgou nota sugerindo a data de 9 de outubro --uma semana depois do primeiro turno das eleições presidenciais-- para novas reuniões com autoridades bolivianas, já que o encontro marcado para a sexta-feira foi cancelado após o anúncio da resolução boliviana.

Antes do jantar com empresários, Lula afirmou ainda que "os consumidores de gás no Brasil não tem que ter nenhum minuto de intranquilidade, porque as coisas estão controladas".

Petrobras e YPFB negociam, a pedido da estatal boliviana, o preço do gás que o Brasil compra da Bolívia, em conversas separadas da questão das refinarias que a empresa brasileira tem no país, nas quais a YPFB busca mudar a fórmula de reajuste do gás vendido ao Brasil.

Lula disse ainda que pretende seguir colaborando com a Bolívia, assim como com outros países, como Paraguai e Uruguai.

"Temos projetos importantes para dinamizar a economia da Bolívia", disse, citando o pólo gás-químico, na fronteira dos dois países e uma rodovia com financiamento brasileiro.

"São países que o Brasil tem que ajudar para que eles possam se desenvolver."

 

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