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Um ano depois de acidente, BP enfrenta mais uma crise

Valor Econômico
19/04/2011 12:43
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A BP PLC parecia estar numa recuperação exemplar depois do desastre com a plataforma Deepwater Horizon um ano atrás. Até que sua retomada trombou com o Ártico russo.


Com a explosão e vazamento de petróleo no Golfo do México, que matou 11 pessoas em 20 de abril, ainda fresca na cabeça dos investidores e do público, a petrolífera, que tem sede em Londres, tomou em janeiro uma ousada decisão para deixar no passado os problemas do último ano. Ela anunciou um acordo histórico para explorar petróleo no Ártico junto com a estatal russa OAO Rosneft.


Mas nem bem se passaram duas semanas do anúncio do acordo e os sócios da BP em sua joint venture russa TNK-BP, três bilionários que têm juntos 50% da sociedade, conseguiram uma liminar na justiça para bloqueá-lo.


O resultado é que a crise da BP foi prolongada, e talvez expandida, em vez de resolvida. O sucesso dos oligarcas russos na justiça foi um grande golpe no diretor-presidente da BP, Bob Dudley, que havia promovido a aliança com a Rosneft como prova do renascimento de sua empresa. Também reforçou a reputação da BP de empresa propensa a acidentes que se arrasta de crise em crise - muitas criadas por ela própria.


"A BP parecia estar na rota da recuperação, mas isso foi sem dúvida um grande obstáculo no caminho", diz Stephen Thomber, administrador do fundo de ações globais da Threadneedle Investments, que tem ações da BP. O papel da petrolífera caiu 11% desde que o acordo com a Rosneft foi anunciado.


Executivos da BP, por sua vez, se ressentem do fato de os problemas da empresa na Rússia terem ofuscado o que alegam ser de fato uma volta notável à saúde.


Certamente, a BP está em muito melhor posição do que em meados do ano passado, quando enfrentava uma "crise quase sem precedentes na história empresarial", segundo seu presidente do conselho, Carl-Henric Svanberg. Enquanto lutava para tampar um poço que acabou derramando quase 5 milhões de barris de petróleo no Golfo do México, a BP também lutava por sua sobrevivência.


Sua ação caiu pela metade e ela foi congelada nos mercados de capitais. Incapaz de tomar emprestado, descobriu que os traders se recusavam a comprar seu petróleo. Com o diretor-presidente Tony Hayward atacado por furiosos parlamentares no Congresso americano, e a Casa Branca forçando a empresa a criar um fundo de indenização de até US$ 20 bilhões, havia conversas de que a BP poderia quebrar.


A empresa tomou medidas radicais para endireitar o que às vezes parecia um navio naufragando. Ela melhorou sua situação patrimonial ao suspender o dividendo anual e anunciar uma venda de ativos de US$ 30 bilhões. Ela tentou estabelecer um limite para o desastre ao provisionar US$ 41 bilhões para cobrir os custos legais e de limpeza relacionados ao vazamento, uma soma astronômica que a deixou com seu primeiro prejuízo anual desde 1992.


Ao mesmo tempo, a empresa, que foi durante muito tempo acusada de buscar lucros às custas da segurança, fez uma grande reforma. Criou uma nova e poderosa organização de segurança chefiada por Mark Bly, que liderou sua investigação interna do acidente da Deepwater Horizon. Reportando-se diretamente a Dudley, que assumiu a presidência executiva em outubro passado, Bly tem uma equipe de 500 especialistas capaz de intervir para paralisar operações ao menor sinal de problema. E a BP mudou sua política de remuneração, atrelando os bônus muito mais ao desempenho em segurança.


Gradualmente, começou a parecer que a BP estava de volta nos trilhos. O relatório da comissão da Casa Branca que investigava o vazamento parecia validar a visão da empresa de que o acidente foi resultado de múltiplas causas, envolvendo múltiplas partes.


A empresa também fechou uma série de grandes contratos de exploração na Índia, na China e no Azerbaijão que provaram que países ricos em recursos naturais ainda valorizavam sua experiência como operadora de águas profundas. E apesar do prejuízo do ano passado a BP ainda é uma máquina de fazer caixa. Em 2010, seu fluxo de caixa operacional foi de quase US$ 30 bilhões. A empresa informou que ia dobrar seu investimento em exploração, vender metade de sua capacidade de refino nos Estados Unidos e se concentrar em oportunidades de alto crescimento.


"A BP é muito mais forte do que as pessoas lhe dão crédito", diz Mark Gilman, um analista de petróleo da Benchmark Company em Nova York.


Mas o futuro está longe de ser todo róseo. "Ainda há muita incerteza", diz Thornber, da Threadneedle, principalmente diante da possibilidade de as autoridades dos EUA a considerarem culpada pelo acidente. "Se o fizerem, os custos da BP podem se multiplicar e ela não conseguirá nada de seus sócios" no poço, a americana Anadarko Petroleum Corp. e a japonesa Mitsui & Co., diz.


Esse é um dos motivos pelos quais a ação da BP ainda está quase 30% abaixo do nível anterior à explosão da plataforma. A diferença na valoração para outras petrolíferas é enorme: a ação da BP é negociada a menos de cinco vezes os lucros deste ano, em comparação com a média do setor de oito vezes e meia, segundo o banco Macquarie.


Outro fator que preocupa os investidores é o medo de que as badaladas reformas da empresa sejam apenas superficiais.


Desconfiada das afirmações de que a empresa havia melhorado a segurança e a gestão de risco - que são bastante parecidas com pronunciamentos dela depois de desastres anteriores -, a administradora de recursos Christian Brothers Investment Services liderou uma aliança que votou contra o relatório anual da BP na assembleia geral ordinária da semana passada, que foi inusitadamente acalorada. Diretoria e conselho foram atacados por investidores furiosos pela perda de renda, enquanto pessoas da região costeira do Golfo do México, pintadas com xarope que parecia petróleo, protestavam do lado de fora.


Os problemas no acordo com a Rosneft só alimentaram a frustração. Os acionistas ficaram inicialmente impressionados com o negócio, no qual as duas empresas concordaram em trocar ações e explorar conjuntamente petróleo no Ártico russo, uma área há muito proibida para as empresas estrangeiras. Mas seu entusiasmo inicial desapareceu depois que os sócios russos da TNK-BP entraram com seu processo judicial, alegando que a BP os havia deixado no escuro a respeito da parceria com a Rosneft e assim violado o acordo de acionistas. A BP ainda espera concluir o negócio. Mas o fiasco suscitou fortes dúvidas sobre a liderança da empresa numa época em que ela deveria ter virado a página.


"A BP pisou feio na bola", diz Ivor Pether, um administrador de fundo da Royal London Asset Management, grande acionista da petrolífera.
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