Negócios

Ternium quer duas diretorias na Usiminas

Valor Econômico
16/12/2011 14:28
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Enquanto formaliza os últimos trâmites legais para se tornar acionista controlador da Usiminas, o grupo ítalo-argentino Techint e a Nippon Steel começam a definir a gestão futura da siderúrgica mineira. Os argentinos, que terão três representantes no conselho de administração, querem indicar pelo menos dois diretores para o comando da sua nova controlada e não abrem mão do executivo que vai cuidar da área financeira - considerada estratégica em toda empresa -, apurou o Valor com fontes do setor.

O fechamento do negócio, que terá desembolso de R$ 5,03 bilhões pelos argentinos, com um prêmio de 83% sobre o valor da ação ordinária (ON) em bolsa na data do anúncio da operação, está previsto para ocorrer em 16 de janeiro. Diretamente e por meio das controladas Ternium, de Luxemburgo, e TenarisConfab, do Brasil, o grupo Techint, da família Rocca, adquiriu 27,7% do capital ON da Usiminas.

"É natural que o novo controlador, que tem larga vivência no ramo siderúrgico, depois de pagar um montão de dinheiro - quase US$ 2,8 bilhões, queira ter uma participação direta e constante no comando da Usiminas e não ter apenas uma presença passiva, como investidor financeiro", afirmou uma fonte do setor que preferiu não ser identificada.

Para os especialistas do mercado de fusões e aquisições, a Techint/Ternium foi o "Cavaleiro Branco" (da expressão inglesa White Knight) da Usiminas. Ou seja, o protetor buscado por Nippon Steel e pelo comando da siderúrgica para se defender do ataque hostil da Cia. Siderúrgica Nacional (CSN) ou de um movimento mais ousado do grupo Gerdau. O White Knight, geralmente, é um concorrente amigável do setor e que concorda em ser um parceiro em situações como a que estava enfrentando a siderúrgica ao longo deste ano.

A Techint fez uma oferta considerada bastante generosa pelas ações de quem estava desejando sair da siderúrgica, no caso Camargo Corrêa e Votorantim, e concordou com as condições de compartilhamento de poder dentro da companhia. "Por outro lado, deve ter imposto suas próprias condições de governança para os novos rumos da companhia", informa uma fonte que acompanhou as negociações.

Por exemplo: teria exigido um sistema de revezamento entre os dois grandes acionistas na presidência do conselho de administração da Usiminas e na indicação do presidente executivo. Se o novo CEO vier da conta da Nippon, é quase certo que o presidente do conselho será de um representante da Techint ou da sua controlada Ternium.

A Usiminas deverá ter uma nova configuração de seu modelo de gestão, ficando com quatro ou cinco diretorias clássicas - presidência, financeira e de RI, industrial, comercial e administrativa, além da diretoria de relações especiais, que até hoje tem ficado a cargo de um executivo japonês.

"Se deixar, os argentinos também vão querer indicar já o novo presidente da empresa", afirmou outra fonte, considerando que Wilson Brumer, à frente da empresas desde abril de 2010, já completou seu ciclo na companhia e vai preferir deixar a empresa depois de conduzir todo o processo de transição do novo quadro societário.

Com mandato até 29 de abril, data da assembleia anual de acionistas, Brumer chegou na Usiminas em 2007 como conselheiro representando o consórcio V/C (Votorantim e Camargo Corrêa). Em 2008, foi alçado à presidência do conselho da empresas, ficando por dois anos. Após a tumultuada saída do ex-presidente Marco Antônio Castello Branco, em março de 2010, ele assumiu o comando executivo com a missão de apaziguar os ânimos exaltados dos milhares de trabalhadores da Usiminas, insatisfeitos com a gestão agressiva de Castello Branco.

Porém, o apetite voraz dos argentinos já começa a preocupar os representantes dos empregados da siderúrgica em Ipatinga (MG), onde está sua principal usina. Há um temor grande de um novo choque de gestão, como o de 2008, após a saída de Rinaldo Campos Soares (presidente por 18 anos) e a chegada do forasteiro Castello Branco (era do alto escalão executivo da Vallourec).

O Clube dos Empregados da empresa (CEU), que ficou com 6,8% do capital ON da empresa, já não tem mais os poderes de antes. Apesar de ter recuperado prestígio no bloco de controle, voltando a compor o novo acordo de acionistas até 2031, perdeu todos os direitos de vetos que tinha até fevereiro deste ano. O CEU conseguia vetar até a indicação de novo presidente e sempre esteve alinhado com o consórcio japonês.

Segundo informações apuradas pelo Valor, o CEU, mesmo com força limitada, tenta indicar o novo diretor industrial.

No negócio que trouxe a Techint para a Usiminas, o CEU conseguiu se desfazer de um terço de suas ações, recebendo o mesmo valor pago a Votorantim e Camargo, os quais tinham posto o clube para escanteio em fevereiro. Embolsou mais de R$ 600 milhões e ainda conseguiu se enquadrar dentro das normas da Secretaria de Previdência, ao reduzir a exposição em ativos de renda variável - o clube estava quase 100% concentrado no papel da Usiminas.

"O grande desafio do grupo argentino será justificar o dinheirão que pagou por Usiminas, sem nenhuma sinergia operacional à vista, marcar sua presença na gestão e não entrar em conflito com a cultura tradicional dos empregados da siderúrgica", diz um especialista em fusões e aquisições de uma consultoria. "Terá de chegar devagar", acrescentou.

Empresarialmente, para outro especialista - e para analistas de bancos - não está clara a motivação do negócio por parte da Ternium. Tanto que suas ações foram duramente punidas. "Ou há um plano de longo prazo para o futuro, com a criação de uma grande siderúrgica nas Américas, ou seria mais plausível aplicar o dinheiro na própria expansão".

Para a Usiminas, vira-se mais uma página em sua história de 50 anos. Estatal até 1991, agora, conta dois controladores com foco no negócio de fabricação de aço.

Procurada, a direção da Usiminas não quis comentar possíveis decisões a cargo dos acionistas.
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