Golfo do México 2

Óleo é "pior que furacão", diz pescadora

Folha de São Paulo
02/06/2010 13:21
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No auge da temporada de pesca de camarões que deveria ser a melhor dos últimos anos, a maioria dos comerciantes do sul da Louisiana fechou as portas. Os que resistiram reclamam do movimento baixo e da desconfiança dos consumidores.


Para os moradores de uma das regiões mais atingidas pelo pior vazamento de petróleo na história dos EUA, a recuperação será ainda mais lenta e difícil do que as que sucederam os furacões que por lá passaram.


"Definitivamente, isso é muito pior. Levaremos muito mais tempo para voltar ao normal", afirmou à Folha Carol Terrebonne, 60, matriarca de uma família de pescadores e comerciantes da comunidade de Lafourche.


Terrebonne conta que perdeu uma de suas bases -onde ancora os barcos, produz gelo, armazena e comercializa camarões e caranguejos- na passagem do Katrina, em 2005. Em 2008, o Gustav destruiu a sua segunda loja.


"Eu havia acabado de reabrir, coloquei todo o nosso dinheiro aqui. E agora não sei em quanto tempo poderemos nos recuperar."


Ela insiste em manter o comércio aberto. Compra camarões no vizinho Estado do Texas, por ora menos atingido pelo desastre, mas os clientes perguntam se o produto está sujo de petróleo. No feriado de anteontem, o Memorial Day, diz que vendeu um vigésimo do que na mesma data, no ano passado.


A British Petroleum (BP), responsável pelo vazamento no golfo do México que se estende desde o dia 20 de abril, já pagou US$ 5.000 a Terrebonne, que diz que a quantia não é suficiente nem para pagar a conta de luz.


A indignação contra a BP é compartilhada pela maior parte dos moradores, que espalharam placas contra a petroleira ao longo da estrada que leva à esvaziada Grand Isle, uma das praias atingidas pelo óleo.


Para agravar o cenário, começou ontem a temporada de furacões, que se estende até novembro. No caso de a região ser atingida, os barcos que trabalham na limpeza e contenção do desastre teriam que se retirar do mar, e os efeitos do mau tempo nos milhões de litros espalhados pelo mar são imprevisíveis.

 

MÁ, MAS ESFORÇADA


Mas, apesar de os locais reclamarem da ajuda financeira insuficiente, todos aqueles com quem a Folha conversou admitiram que a BP está fazendo "todo o possível" para reverter o desastre.
A BP diz ter 18 escritórios instalados na região do golfo para receber as reclamações de quem se sentir prejudicado pelo acidente, além de 1.100 barcos trabalhando na retirada do óleo que vazou.
Mesmo assim, os moradores da Louisiana se sentem "desencorajados", nas palavras de Carol Terrebonne.


O desânimo da comunidade já foi captado pelas igrejas locais, que anunciam grupos de apoio e transformam o acidente em tema de missas.


"Rezemos todos juntos pelo desastre do vazamento de petróleo", convidava o letreiro da igreja católica Nossa Senhora da Ilha ("Our Lady of the Isle"), em Grand Isle.

 


BP contrata gente que óleo desempregou
DA ENVIADA À LOUISIANA

 

A BP montou um programa de contratação temporária de mão de obra para trabalhar na redução dos efeitos do vazamento.


A iniciativa, batizada de "barcos da oportunidade", treinou pescadores e barqueiros para a limpeza do óleo e o o transporte de pessoas e equipamentos.


"Treinamos muita gente e não empregamos todo mundo", explicava ontem um funcionário do centro de informações da BP em Grand Isle.


A frase se dirigia ao químico aposentado Raymond Fryoux, que se candidatou a um dos postos oferecidos, mas foi recusado por falta de vagas. (CF)

 


Governo dos EUA abre inquérito criminal
DE SÃO PAULO

 

O secretário de Justiça dos EUA, Eric Holder, disse ontem que o governo federal do país abriu investigações civis e criminais sobre o desastre no golfo do México. Holder não especificou, porém, quais serão as empresas e pessoas investigadas.


O esperado, porém, é que o comportamento da BP antes e depois do desastre de abril seja analisado.
Segundo documentos internos divulgados no domingo, a empresa sabia que os materiais que utilizou na plataforma poderiam se romper, mas resolveu correr o risco.


"Nós temos a obrigação de dizer o que deu errado", disse o presidente Barack Obama. "Se leis foram desrespeitadas, levando à morte e à destruição, nós vamos levar os responsáveis à Justiça."
Em maio, um grupo de senadores enviou para Holder uma carta que ressaltava a necessidade de se apurar "a verdade das declarações dadas pela BP ao governo".


Os políticos pressionam a Casa Branca a se envolver mais no controle da exploração de petróleo no país.

 

AÇÕES EM QUEDA


A declaração de Holder aparece no momento em que a BP tem dificuldades para barrar o vazamento. Somado ao fracasso da última tentativa, anunciado no domingo, o anúncio do inquérito ajudou a derrubar em 15% as ações da empresa ontem.


Existe preocupação de que o governo pareça impotente conforme o óleo avança. Nas últimas semanas, o presidente Obama aumentou o tom contra a BP, contra a indústria em geral e mesmo contra funcionários do governo responsáveis por regulamentar a atividade das empresas petroleiras no país.
Segundo ele, o relacionamento entre empresas e agências regulatórias andava "confortável demais".
Obama reafirmou que uma regulamentação frouxa pode ter levado ao desastre. Segundo ele, se ficar claro que as leis eram insuficientes, elas serão mudadas.


Holder fez o anúncio da investigação durante sua visita ao golfo do México. Ele se reuniu com os governadores dos Estados da região.


Preocupada com a sua imagem, a BP contratou uma nova especialista em relações públicas, Anne Womack-Kolton. Ela já assessorou antes o então vice-presidente Dick Cheney.

 

 CRISTINA FIBE
ENVIADA ESPECIAL À LOUISIANA

Com "New York Times" e agências internacionais

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