Economia

Oferta de energia complica ano já difícil para o investimento

Governo prevê recuperação em 2013.

Valor Econômico
14/01/2013 12:39
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A crise do investimento foi a principal frustração de 2012, mas o governo encerrou o ano prevendo uma forte recuperação dos gastos com máquinas e em obras de infraestrutura em 2013. Essa crença já era partilhada por poucos analistas. Agora, dizem eles, a atual crise energética vai reforçar a tendência de cautela na retomada dos investimentos produtivos.
Enquanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem defendido que os incentivos recentes visam avanço de 8% da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida das contas nacionais do que se investe em máquinas e construção civil) este ano, economistas ouvidos pelo 'Valor' trabalham com alta bem mais modesta - perto de 4%, na média -, a despeito da intensa queda do custo de capital, dos juros reais negativos para a compra de máquinas e de outras medidas de caráter mais estrutural que poderiam reanimar decisões de investir, como o corte nas tarifas de energia elétrica e a desoneração da folha de pagamentos.
Pesam contra um ambiente propício à retomada dos projetos produtivos, a perspectiva de lenta recuperação global e a avaliação de parte dos agentes de que vigora um maior intervencionismo do Estado na economia. Esse cenário de incertezas foi exarcebado pela crise energética e reforçou a percepção de que a retomada da indústria será tímida e se dará em cima da capacidade instalada já existente, dado que o setor opera com nível de ociosidade relativamente elevado. Apesar de o risco de racionamento de eletricidade ser considerado baixo, diz Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores, essa possibilidade pode diminuir a confiança do empresariado e adiar decisões de investir.
Impulsionada pelos incentivos do governo, Borges mantém expectativa otimista para a formação de capital físico, com base no aumento do números de consultas ao BNDES e na demanda maior relatada por fabricantes de bens de capital, mas afirma que a questão energética pode frustrar a forte alta de 8,8% esperada para o investimento em 2013. "O risco de racionamento é pequeno, mas o risco de que essa discussão tenha impacto sobre a confiança e o investimento é bem maior", avalia. "Isso só não respinga sobre toda a FBCF porque os investimentos em infraestrutura vão acontecer".
Para André Loes, economista-chefe do HSBC, a piora significativa do investimento tem como base o encarecimento do processo produtivo, uma questão que demanda ações mais profundas do governo, mas dois pontos conjunturais também tiveram peso negativo sobre a formação bruta em 2012: o excesso de medidas "bem intencionadas" para reduzir os custos industriais, que, pela sua frequência elevada, acabaram gerando insegurança, e os resultados ruins da Petrobras, que teve suas margens apertadas e adiou sua agenda de investimentos.
Segundo Loes, as intervenções cambiais também podem ter afetado a importação de máquinas, por causarem incerteza quanto ao patamar do dólar. Em 2013, o economista acredita que a depreciação acelerada e os juros menores para a compra de bens de capital podem estimular empresários a investir, mas vê com ressalva a queda das tarifas de energia e a desoneração da folha de pagamentos. "Vamos ver se o governo pode aparar algumas arestas e aumentar a confiança do empresariado, de modo que o lado bom dessas medidas predomine". Assim, o HSBC projeta que, após queda de 2,2% da FBCF em 2012, o investimento irá subir 3,2% em 2013, o que é compatível com alta de 3% do PIB.
"O governo está tentando atacar os custos muito altos de mão de obra e de energia, mas continuamos com o mesmos problemas que não mudarão de um ano para o outro", diz Daniel Moreli Rocha, superintendente de tesouraria do Banco Indusval & Partners (BI&P), referindo-se à baixa qualificação da mão de obra e à pouca competitividade da indústria devido à infraestrutura deficiente e aos altos salários. Para Rocha, o governo precisa dar uma nova sinalização de política econômica, mais "pró-mercado", para que os investimentos decolem, o que considera pouco provável. Ele prevê que o investimento crescerá entre 3% e 4% este ano, com alta do PIB de 3,2%.
O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, avalia que a "letargia reformista" atingiu seu ápice no governo Dilma, caracterizado por políticas de curto prazo e por ingerência maior nos juros e no câmbio. Esse "desmonte" em relação a gestões anteriores, em sua opinião, foi decisivo para o período de baixo crescimento do investimento iniciado em 2011 e também determina um fôlego menor para a reaceleração da economia. "Vemos o Brasil com dificuldade de deslanchar e os investimentos tendem a diminuir por causa disso". Para este ano, a consultoria projeta que o PIB irá crescer 3%, o que, segundo Vale, já está sendo visto como cenário otimista pelos clientes da MB.
Mesmo entre analistas que veem os estímulos concedidos pelo governo como positivos e necessários diante da fraqueza da economia global, não há muito ânimo com o investimento. Para Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, não é a insegurança jurídica nem a falta de vontade política que está travando a formação de capital físico, mas sim a má situação que o setor produtivo atravessa. Para 2012, o consenso de mercado é que a produção encerre o ano em nível 2,3% abaixo do de 2011.
Segundo Silveira, a indústria, que representa mais de metade da FBCF, não terá motivos para investir mais em 2013 porque sua retomada será modesta, já que as exportações seguirão prejudicadas por um aumento do protecionismo nas economias maduras, como reflexo do baixo crescimento. Baseada somente na demanda doméstica, a expansão da produção não exigirá aumento da capacidade instalada do setor. "Teremos mais uma vez um crescimento puxado pelo consumo das famílias e do governo", diz.
Embora com papel secundário, economistas apontam o travamento do crédito em função dos recordes dos índices de inadimplência e de endividamento como outra explicação para a freada da economia em 2012, problema que, antes das desonerações e da redução forçada dos spreads bancários, afetou o consumo de bens duráveis. De janeiro a maio, mês em que começou a valer o IPI reduzido, as vendas de veículos, motos, partes e peças recuaram 0,4% sobre igual período de 2011. Sem os incentivos fiscais, o ministro Mantega estimou que o consumo de automóveis e linha branca teria sido entre 30% e 40% menor em 2012.
O economista-chefe da Votorantim Corretora, Roberto Padovani, afirma que o comportamento ruim do investimento está conjunturalmente relacionado à moderação do consumo doméstico, dado que a falta de competitividade é um problema de longo prazo da economia brasileira. "Não dá para separar bem esses efeitos. Como a questão da competitividade é mais estrutural, tendo a dar mais importância à questão do crédito, que afetou o ciclo de crescimento no curto prazo".
Em 2013, Padovani avalia que todos os fatores de curto prazo que prejudicaram o crescimento em 2012 irão se reverter, tais como a volta ao normal da produção de caminhões após a mudança na legislação de emissões que encareceu os veículos, uma melhora das safras agrícolas e alguma recuperação do crédito, o que, aliado a um cenário externo mais tranquilo e aos incentivos já dados à economia, deve garantir expansão de 3,5% para o PIB. A Votorantim estima que as concessões de crédito irão avançar 3% reais neste ano, acima dos 2% previstos para 2012.
Daniel Moreli Rocha, do BI&P, nota que os balanços trimestrais dos maiores bancos privados do país vão na mesma direção, indicando que foram afetados por calotes no segundo semestre, mas que, no início de 2013, suas carteiras de crédito estarão mais saudáveis. Essa limpeza, caso confirmada, diz Rocha, abrirá espaço para um maior consumo das famílias.

A crise do investimento foi a principal frustração de 2012, mas o governo encerrou o ano prevendo uma forte recuperação dos gastos com máquinas e em obras de infraestrutura em 2013. Essa crença já era partilhada por poucos analistas. Agora, dizem eles, a atual crise energética vai reforçar a tendência de cautela na retomada dos investimentos produtivos.


Enquanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem defendido que os incentivos recentes visam avanço de 8% da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida das contas nacionais do que se investe em máquinas e construção civil) este ano, economistas ouvidos pelo 'Valor' trabalham com alta bem mais modesta - perto de 4%, na média -, a despeito da intensa queda do custo de capital, dos juros reais negativos para a compra de máquinas e de outras medidas de caráter mais estrutural que poderiam reanimar decisões de investir, como o corte nas tarifas de energia elétrica e a desoneração da folha de pagamentos.


Pesam contra um ambiente propício à retomada dos projetos produtivos, a perspectiva de lenta recuperação global e a avaliação de parte dos agentes de que vigora um maior intervencionismo do Estado na economia. Esse cenário de incertezas foi exarcebado pela crise energética e reforçou a percepção de que a retomada da indústria será tímida e se dará em cima da capacidade instalada já existente, dado que o setor opera com nível de ociosidade relativamente elevado. Apesar de o risco de racionamento de eletricidade ser considerado baixo, diz Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores, essa possibilidade pode diminuir a confiança do empresariado e adiar decisões de investir.


Impulsionada pelos incentivos do governo, Borges mantém expectativa otimista para a formação de capital físico, com base no aumento do números de consultas ao BNDES e na demanda maior relatada por fabricantes de bens de capital, mas afirma que a questão energética pode frustrar a forte alta de 8,8% esperada para o investimento em 2013. "O risco de racionamento é pequeno, mas o risco de que essa discussão tenha impacto sobre a confiança e o investimento é bem maior", avalia. "Isso só não respinga sobre toda a FBCF porque os investimentos em infraestrutura vão acontecer".


Para André Loes, economista-chefe do HSBC, a piora significativa do investimento tem como base o encarecimento do processo produtivo, uma questão que demanda ações mais profundas do governo, mas dois pontos conjunturais também tiveram peso negativo sobre a formação bruta em 2012: o excesso de medidas "bem intencionadas" para reduzir os custos industriais, que, pela sua frequência elevada, acabaram gerando insegurança, e os resultados ruins da Petrobras, que teve suas margens apertadas e adiou sua agenda de investimentos.


Segundo Loes, as intervenções cambiais também podem ter afetado a importação de máquinas, por causarem incerteza quanto ao patamar do dólar. Em 2013, o economista acredita que a depreciação acelerada e os juros menores para a compra de bens de capital podem estimular empresários a investir, mas vê com ressalva a queda das tarifas de energia e a desoneração da folha de pagamentos. "Vamos ver se o governo pode aparar algumas arestas e aumentar a confiança do empresariado, de modo que o lado bom dessas medidas predomine". Assim, o HSBC projeta que, após queda de 2,2% da FBCF em 2012, o investimento irá subir 3,2% em 2013, o que é compatível com alta de 3% do PIB.


"O governo está tentando atacar os custos muito altos de mão de obra e de energia, mas continuamos com o mesmos problemas que não mudarão de um ano para o outro", diz Daniel Moreli Rocha, superintendente de tesouraria do Banco Indusval & Partners (BI&P), referindo-se à baixa qualificação da mão de obra e à pouca competitividade da indústria devido à infraestrutura deficiente e aos altos salários. Para Rocha, o governo precisa dar uma nova sinalização de política econômica, mais "pró-mercado", para que os investimentos decolem, o que considera pouco provável. Ele prevê que o investimento crescerá entre 3% e 4% este ano, com alta do PIB de 3,2%.


O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, avalia que a "letargia reformista" atingiu seu ápice no governo Dilma, caracterizado por políticas de curto prazo e por ingerência maior nos juros e no câmbio. Esse "desmonte" em relação a gestões anteriores, em sua opinião, foi decisivo para o período de baixo crescimento do investimento iniciado em 2011 e também determina um fôlego menor para a reaceleração da economia. "Vemos o Brasil com dificuldade de deslanchar e os investimentos tendem a diminuir por causa disso". Para este ano, a consultoria projeta que o PIB irá crescer 3%, o que, segundo Vale, já está sendo visto como cenário otimista pelos clientes da MB.


Mesmo entre analistas que veem os estímulos concedidos pelo governo como positivos e necessários diante da fraqueza da economia global, não há muito ânimo com o investimento. Para Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, não é a insegurança jurídica nem a falta de vontade política que está travando a formação de capital físico, mas sim a má situação que o setor produtivo atravessa. Para 2012, o consenso de mercado é que a produção encerre o ano em nível 2,3% abaixo do de 2011.


Segundo Silveira, a indústria, que representa mais de metade da FBCF, não terá motivos para investir mais em 2013 porque sua retomada será modesta, já que as exportações seguirão prejudicadas por um aumento do protecionismo nas economias maduras, como reflexo do baixo crescimento. Baseada somente na demanda doméstica, a expansão da produção não exigirá aumento da capacidade instalada do setor. "Teremos mais uma vez um crescimento puxado pelo consumo das famílias e do governo", diz.


Embora com papel secundário, economistas apontam o travamento do crédito em função dos recordes dos índices de inadimplência e de endividamento como outra explicação para a freada da economia em 2012, problema que, antes das desonerações e da redução forçada dos spreads bancários, afetou o consumo de bens duráveis. De janeiro a maio, mês em que começou a valer o IPI reduzido, as vendas de veículos, motos, partes e peças recuaram 0,4% sobre igual período de 2011. Sem os incentivos fiscais, o ministro Mantega estimou que o consumo de automóveis e linha branca teria sido entre 30% e 40% menor em 2012.


O economista-chefe da Votorantim Corretora, Roberto Padovani, afirma que o comportamento ruim do investimento está conjunturalmente relacionado à moderação do consumo doméstico, dado que a falta de competitividade é um problema de longo prazo da economia brasileira. "Não dá para separar bem esses efeitos. Como a questão da competitividade é mais estrutural, tendo a dar mais importância à questão do crédito, que afetou o ciclo de crescimento no curto prazo".


Em 2013, Padovani avalia que todos os fatores de curto prazo que prejudicaram o crescimento em 2012 irão se reverter, tais como a volta ao normal da produção de caminhões após a mudança na legislação de emissões que encareceu os veículos, uma melhora das safras agrícolas e alguma recuperação do crédito, o que, aliado a um cenário externo mais tranquilo e aos incentivos já dados à economia, deve garantir expansão de 3,5% para o PIB. A Votorantim estima que as concessões de crédito irão avançar 3% reais neste ano, acima dos 2% previstos para 2012.


Daniel Moreli Rocha, do BI&P, nota que os balanços trimestrais dos maiores bancos privados do país vão na mesma direção, indicando que foram afetados por calotes no segundo semestre, mas que, no início de 2013, suas carteiras de crédito estarão mais saudáveis. Essa limpeza, caso confirmada, diz Rocha, abrirá espaço para um maior consumo das famílias.

 

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