Bolívia

Morales recua e visita o Brasil hoje

Agência Estado
14/02/2007 02:00
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Derrotado na última queda-de-braço com o governo brasileiro, o presidente da Bolívia, Evo Morales, desembarca hoje em Brasília. Sua visita deverá assinalar a disposição de adotar uma agenda positiva na negociação das pendências com o Brasil. Nos últimos dois dias, Morales converteu a visita ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em objeto de barganha ao impor como condição o aumento do preço do gás natural fornecido ao Brasil.

Como nas tentativas anteriores, a pressão de Morales em favor de uma decisão política do governo Lula sobre o preço do gás natural não surtiu efeito. Na segunda-feira, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, instruiu o embaixador brasileiro em La Paz, Frederico Araújo, a reiterar ao governo boliviano que o Brasil não aceitaria condições e que a negociação sobre o gás natural continuaria na esfera técnica da Petrobras. A mensagem foi clara: se Morales mantivesse suas condições, melhor seria cancelar a visita. Sua vinda ao Brasil acabou confirmada pelo governo boliviano às 12 horas de ontem (14 horas de Brasília).

"Paciência tem limite", afirmou uma fonte do gabinete de Amorim, que ressaltou a falta de habilidade diplomática do governo boliviano. "Generosidade significa ver os interesses mútuos em médio e longo prazos." Embora acertada desde 18 de dezembro passado, durante a visita de seis ministros bolivianos ao Brasil, e confirmada no último dia 6, a presença de Morales no País transformou-se em novela. Nesta semana, o governo boliviano travou a confirmação da visita e impôs, como condição, que o governo brasileiro aceitasse discutir o preço do gás. La Paz exige aumento de US$ 4,3 para US$ 5 por milhão de BTUs (unidade de medida do produto).

À imprensa, Morales disse que não poderia mais "subsidiar" o gás que fornece ao Brasil. O chanceler boliviano, David Choquehuanca, adicionou pólvora ao impor outra condição para a visita do chefe ao Brasil: a suspensão dos projetos de construção das hidrelétricas de Jirau e de Santo Antônio, no Rio Madeira, sob o pretexto de que acarretarão alterações graves no curso do rio, que se forma na Bolívia. As usinas estão entre os projetos prioritários do Programa de Aceleração da Economia (PAC), anunciado em janeiro por Lula.

A estratégia de La Paz quase pôs a perder o pacote de cooperação do Brasil com a Bolívia, preparado para selar o evento e, por muito pouco, deixou de inflamar a animosidade criada entre os dois países com o anúncio da nacionalização dos setores bolivianos de petróleo e gás, em maio de 2006.

Acordos. Morales desembarcará pela manhã em Brasília, acompanhado pelo embaixador Frederico Araújo, para uma visita de poucas horas. Terá um encontro reservado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no final da manhã, no Palácio do Planalto, seguido de uma reunião de trabalho, com a participação de ministros dos dois governos.

A visita oficial deverá ser encerrada com um almoço oferecido por Lula a Morales, no Itamaraty, com a celebração de oito acordos de cooperação - para o controle da febre aftosa, aproveitamento do rio Madeira, sobre os fluxos imigratórios de lado a lado, e na área de Defesa, entre outros. Em público, os presidentes deverão fazer apenas um pronunciamento à imprensa.

A visita exemplificará a política de generosidade do governo Lula para as economias sul-americanas. País mais pobre da região, com uma fronteira de 3 mil quilômetros com o Brasil, a Bolívia receberá as bênçãos de Brasília para novos investimentos da Petrobras na produção de gás e para o financiamento brasileiro a um projeto de pólo gás-químico entre o Mato Grosso do Sul e Santa Cruz de La Sierra, a ser conduzido por empresas privadas.

Nesta semana, o governo brasileiro incluiu nesse pacote a possível construção de uma hidrelétrica binacional no Rio Madeira, no lado boliviano da fronteira com Rondônia. Projetos antigos também foram resgatados. Entre eles, o de financiamento para a compra de máquinas agrícolas do Brasil e a urgente cooperação para o controle da febre aftosa.


O diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, reafirmou ontem a posição da empresa contra aumentos extraordinários no preço do gás importado da Bolívia. "Existe uma fórmula que rege o contrato (de importações da Bolívia) e é por essa fórmula que o preço continua sendo reajustado", afirmou Barbassa, ao responder uma questão sobre a posição da companhia frente à crescente pressão do governo boliviano por novos aumentos.

O tema deve ser discutido hoje em reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente boliviano Evo Morales. Barbassa disse, em entrevista coletiva, que não está agendada a participação da Petrobras no encontro. Atualmente, a Petrobras paga US$ 4 por milhão de BTU importados da Bolívia. La Paz fala em aumentar o preço para US$ 5, mesmo preço negociado com a Argentina, em contrato assinado em outubro de 2006.

O contrato com o Brasil prevê revisões trimestrais com base na variação do preço de três tipos de óleo combustível no mercado internacional. No início do ano, o valor foi reduzido em 3,7%, acompanhando a queda das cotações dos derivados. Foi a primeira redução desde o segundo trimestre de 2002. Entre o início de 2003 e meados de 2005, a Petrobras congelou o preço do gás natural, em uma estratégia para incentivar o consumo do combustível.

Mesmo sem admitir reajustes extraordinários da Bolívia, Barbassa confirmou ontem as expectativas de aumento no preço final do produto. Segundo ele, o gás natural está sendo vendido no País a preços "competitivos", abaixo do custo de seu principal concorrente, o óleo combustível, e vai precisar de ajustes no futuro. Tal visão já vem sendo divulgada pela estatal, desde meados do ano passado, e está sendo negociada com as distribuidoras de gás canalizado em um processo de renovação dos contratos.

A Petrobras, porém, faz questão de reforçar que o aumento de preço tem como objetivo cobrir os custos cada vez maiores de exploração do combustível, evitando qualquer relação com a disputa com a Bolívia. Nesse caso, há um grupo de trabalho específico discutindo o pleito boliviano por novos aumentos.

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