Internacional

Montadoras americanas declaram guerra a altos gastos com petróleo

Valor Econômico
09/01/2006 02:00
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 Do lado de dentro do pavilhão de exposições do salão do automóvel de Detroit, as montadoras americanas lançaram ontem uma guerra contra a alta do petróleo, apresentando modelos que, no futuro, dependerão muito menos de derivados dessa matéria-prima. Do lado de fora, um grupo de metalúrgicos armou um protesto contra os planos da indústria automobilística dos Estados Unidos de cortar salários e benefícios de aposentadoria.

Sob frio de -3° C e concentrados a poucos metros do Cobo Hall, o pavilhão de exposições do salão do automóvel, que começou a ser mostrado à imprensa ontem, os manifestantes levaram faixas como "GM e Delphi estão roubando nossas aposentadorias". O movimento foi puxado pelos trabalhadores da Delphi. Mas ganhou, depois, adesão de alguns operários da General Motors, Ford e Visteon.

O protesto foi pacífico e reuniu um grupo pequeno. Mas, pela primeira vez, a indústria automobilística americana se sentiu incomodada no tradicional show do ano. Além da expectativa de cortes de benefícios na Delphi, empresa de autopeças e de a General Motors ter anunciado há poucos dias o plano de fechar 12 fábricas e eliminar 30 mil empregos nos Estados Unidos ate 2008, os trabalhadores da Ford estão apreensivos porque a empresa vai anunciar uma reestruturação no dia 23. Dean Braid, diretor do United Auto Workers (UAW), o sindicato da categoria, diz que a Ford não fez qualquer menção do que pretende anunciar.

Durante a apresentação dos novos carros, a Ford fez bastante barulho ontem. Como de costume, houve um verdadeiro show, no Cobo Arena, uma espécie de ginásio quase do tamanho do Ibirapuera, com luzes, fogos, e efeitos especiais. Conforme havia prometido há alguns dias, a Ford mostrou, logo no primeiro dia da apresentação, que está disposta a apostar mais nos carros pequenos nos Estados Unidos.

A empresa apresentou o protótipo de um novo modelo de carro esportivo pequeno - que pode carregar dois passageiros nos bancos dianteiros e no máximo duas crianças no traseiro. O modelo é chamado por enquanto de Reflex e não há prazo para o lançamento no mercado.

Não se trata de algo novo na companhia, conforme disse ao Valor, o presidente mundial da montadora, Jim Padilla: "Já fabricamos carros pequenos na Ásia, com a marca Mazda e também as linhas Fiesta e EcoSport no Brasil". Padilla comandou as operações Ford na América do Sul no início da década e foi um dos responsáveis pelo projeto da fábrica de Camaçari (BA).

"A inovação é a nossa missão", disse Bill Ford, presidente do conselho e bisneto do fundador, Henry Ford. "Esta é uma longa jornada e nós apenas começamos", acrescentou, na apresentação dos modelos.

O principal executivo da General Motors, Rick Wagoner, disse ontem que se as vendas não melhorarem, a empresa poderá anunciar mais cortes de empregos e fechamento de fábricas. "Pelo que percebemos hoje o que já anunciamos já é suficiente", destacou. Segundo o executivo, o tamanho do corte, que poderá garantir economia de US$ 6 bilhões, é o maior da história da companhia, prestes a completar 98 anos.

Segundo Wagoner, as perdas vão diminuir como resultado do plano de reestruturação. A General Motors perdeu US$ 4 bilhões nos três primeiros trimestres de 2005. A participação no mercado americano, 26%, é a menor desde 1920. O executivo continua a refutar a intenção de a companhia partir para o pedido de concordata. "Não existe a menor possibilidade disso acontecer", ressaltou, numa entrevista a jornalistas brasileiros. "Temos que colocar as coisas no rumo certo o mais rápido possível", completou.

Além do protesto dos trabalhadores, o templo de exibições dos fabricantes de automóveis americanos, também não será o mesmo por conta da chegada dos chineses. A Geely, um fabricante chinês que fez sua estréia internacional no salão de Frankfurt há três meses, conseguiu um espaço também em Detroit. O estande é modesto. Foi montado na porta de entrada do salão, ao lado do guarda-volumes e distante da ala que ostenta os estandes luxuosos das montadoras americanas. Ao ser questionado sobre isso, Rick Wagoner disse que daqui a cinco a dez anos, os chineses deverão incomodar a industria americana.

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