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Lula leva empresas de energia, infra-estrutura e construção ao Japão e Coréia

Valor Econômico
18/05/2005 03:00
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Acompanhado de 432 empresários e nove ministros de Estado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitará, na próxima semana, a Coréia do Sul e o Japão. A viagem, que ocorrerá entre os dias 23 e 28 de maio, já está sendo considerada, dentro do governo, uma das mais importantes desde a posse.
Durante a visita, empresas brasileiras das áreas de energia, construção e infra-estrutura fecharão contratos comerciais com companhias japonesas e coreanas no total de US$ 1,5 bilhão. Os contratos envolvem operações de financiamento e investimento. Uma das empresas que aproveitarão a ocasião para fechar negócios será a Petrobras.
O governo brasileiro, por sua vez, assinará dez memorandos de entendimento com o governo do Japão e cinco com o da Coréia. No front político, Brasil e Japão deverão assinar declaração de apoio mútuo à reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas e à concessão aos dois países de assentos permanentes nesse conselho.
Brasil e Japão deverão assinar também acordo de promoção comercial para promover produtos brasileiros no mercado japonês e atrair investimentos. Paralelamente, as maiores organizações empresariais de Brasil e Japão - respectivamente, CNI e Keidaren - vão começar a discutir a possibilidade de, no futuro, os dois países fecharem um acordo de livre comércio.
Por enquanto, segundo informou o diretor de Promoção Comercial do Itamaraty, embaixador Mário Vilalva, essa possibilidade está sendo discutida apenas no setor privado das duas nações, sem o envolvimento dos governos. "No governo brasileiro, isso não é algo que esteja sendo negociado. Se os empresários acharem que é bom, eles vão pedir aos governos que cheguem a um entendimento", observou Vilalva.
Onze setores da economia brasileira (produtores de papel e celulose, agropecuária, móveis, plásticos, mármore e granito, couros, calçados, peles, produtos têxteis, confecções e farmacêuticos) têm interesse num acordo de livre comércio com o Japão. Três setores - eletroeletrônico, automobilístico e de autopeças - são sensíveis a uma negociação com o Japão.
O principal objetivo da visita de Lula é retomar o interesse dos japoneses pelo Brasil, prejudicado desde que o país decretou duas moratórias da dívida externa, nos anos 80. Nos anos 70, segundo dados do Banco Central, o Japão era o terceiro maior investidor direto no Brasil. Hoje, ocupa a 15ª colocação. O estoque de investimento japonês no Brasil é de apenas US$ 2,8 bilhões. "A moratória causou prejuízo muito sério ao relacionamento do Brasil com o Japão", comentou Vilalva.
O comércio entre os dois países também perdeu importância relativa nos últimos vinte anos. Nos anos 80, as exportações para o Japão representavam 8% do total vendido pelo Brasil ao exterior. Em 2004, a participação caiu para 2,9%. Em 1997, por exemplo, o país exportou US$ 3,068 bilhões ao mercado japonês. No ano seguinte, as vendas começaram a cair. Nos últimos dois anos, aumentaram, mas ainda sem recuperar o patamar de oito anos atrás. No ano passado, o país vendeu ao Japão o equivalente a US$ 2,768 bilhões.
As importações brasileiras do Japão também perderam participação e vêm encolhendo nos últimos anos. Nos anos 80, os produtos japoneses chegaram a representar 7,2% do total importado pelo país. Hoje, o percentual caiu para 4,5%. Nos últimos oito anos, as importações do mercado japonês caíram 19%.
Nos últimos anos, o saldo das trocas comerciais com o Japão tem sido deficitário para o Brasil, mas o que mais preocupa as autoridades brasileiras é o fato de o país exportar para os japoneses produtos com baixo valor agregado (minério de ferro, carne de frango, alumínio, café etc.).
Em 2004, explicou Vilalva, os exportadores brasileiros receberam, em média, dez centavos de dólar por cada quilograma vendido ao Japão. Já os exportadores japoneses receberam, em média, US$ 3,8 por quilo vendido ao Brasil. Para cada quilograma de produto vendido pelos Estados Unidos ao mercado brasileiro, exemplificou o embaixador, um quilo é comprado do Brasil. "Esse (o mercado japonês) é, talvez, o mais desfavorável ao Brasil", observou Vilalva.
Outro problema: enquanto com a maioria dos países com os quais têm comércio, as empresas brasileiras fazem trocas intrafirma, com o Japão a comercialização se dá entre empresas distintas, contrariando tendência da globalização das economias.
Uma das principais metas da viagem será avançar nas negociações para que o Japão passe a comprar etanol do Brasil para misturar à gasolina. Lei aprovada em 2003 naquele país definiu que entre 3% a 10% de álcool pode ser adicionado ao litro da gasolina. O problema é que a lei não é compulsória e o setor petrolífero japonês vem impondo resistência à tentativa brasileira de criar o mercado de álcool.
Depois de visitar o Brasil no ano passado, o primeiro-ministro do Japão, Junichiro Koizumi, criou uma comissão para estudar a possibilidade de o Brasil vir a se tornar fornecedor de álcool para seu país. Os japoneses querem garantia de preço e abastecimento. Temem que o Brasil não seja um fornecedor confiável do produto. O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, informou que o Brasil fará proposta aos japoneses para que invistam em novas plantas de produção de álcool no Brasil ou participem com financiamentos em ienes, casados com contratos de fornecimento de longo prazo.
"Vamos trabalhar com módulos com área de 60 mil hectares, ao custo de US$ 150 milhões, para a produção de 480 milhões de litros de etanol por ano", revelou Furlan. "O Japão é dependente de petróleo e, em 2008, terá que cumprir as regras do Protocolo de Kyoto. Estamos oferecendo um combustível não poluente, cujo barril custa de US$ 25 a 30 (contra US$ 50 do barril de petróleo)."
Outra dificuldade brasileira no Japão é o forte protecionismo na área agrícola. O governo brasileiro vai tentar algum entendimento na área de vigilância sanitária - para entrar no Japão, a manga brasileira levou 20 anos; a gora, o Brasil quer exportar carne in natura àquele país.
Ao contrário da maioria das viagens ao exterior que o presidente tem feito, esta terá um forte caráter comercial e econômico. "Tivemos nos últimos anos uma espécie de letargia na relação com o Japão, mas agora estamos retomando", assinalou o chefe do Departamento de Ásia e Oceania do Itamaraty, embaixador Edmundo Fujita. "O presidente Lula já disse que quer fazer a visita mais importante de um dirigente brasileiro ao Japão."
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