Bolívia

Incerteza causa mal-estar com empresas

Valor Econômico
04/04/2006 03:00
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 O tiroteio verbal com autoridades da Bolívia, que levou a uma resposta impaciente do presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, e à reação ontem do presidente Evo Morales, de que a Bolívia "quer sócios e não patrões", é uma pequena mostra do clima de indefinição vivido pelas empresas de petróleo que operam na Bolívia.

De concreto, as empresas aguardam o decreto presidencial que dará as diretrizes para a migração dos contratos existentes, que deverão se adaptar as regras da nova Lei de Hidrocarbonetos. Não há clareza quanto à forma como serão contabilizadas as reservas de gás, hoje listadas como ativo pelas empresas que têm a concessão.

Analistas do mercado financeiro acham que ainda é cedo para esse tipo de previsão. E os resultados podem afetar algumas empresas mais que as outras.

A Shell, por exemplo, não tem gás na Bolívia, apesar de ser sócia de toda a rede de gasodutos do país. Com relação à Petrobras, a analista Monica Araújo, do BES Securities, avalia que o impacto não será grande, considerando que o gás é apenas um segmento da área internacional.

"O Brasil perde muito mais que a Petrobras com o andamento dessas questões, já que o país precisa de gás", afirma Araújo.

A Petrobras informa que, oficialmente, não houve pedido da Bolívia para aumentar o preço do gás atualmente exportado para o Brasil por aproximadamente US$ 3,20 o milhão de BTU. "Não houve nenhum pedido de revisão do contrato pela Bolívia, só pela Petrobras, logo após o racionamento. Mesmo assim, nada aconteceu", diz uma fonte da estatal.

Antes de as baterias bolivianas apontarem para a empresa brasileira, a avaliação era que qualquer aumento a ser negociado só valeria para o gás produzido a partir de novos investimentos, portanto em volumes adicionais aos atuais 30 milhões de metros cúbicos. Agora a Bolívia indica querer renegociar tudo. Se for isso, vai encontrar resistências.

A impressão geral de executivos das empresas de petróleo, que não estão autorizados a falar sobre o assunto oficialmente, é que nem os bolivianos sabem o que querem. E que Morales ainda se comporta como se ainda estivesse em campanha eleitoral, mesma postura do ministro de Hidrocarbonetos, Andrés Soliz Rada, e o presidente da Yacimientos Petroliferos Fiscales Bolivianos (YPFB), Jorge Alvarado.

Mas, em conversas informais, a indústria desconfia que a Bolívia quer seguir o modelo venezuelano de contratos, com as empresas deixando de ter controle sobre o destino e o preço do gás. Na Venezuela, as companhias tiveram de criar empresas mistas com participação majoritária da estatal PDVSA, enquanto a Bolívia ora parece preferir o sistema de prestação de serviços para a YPFB, ora parece pender para o modelo de sociedade com as petroleiras que operam no país.

Dessas, a que tem maior verticalização é a Petrobras, que investiu US$ 1,5 bilhão em exploração, produção e processamento de gás, além de refino e distribuição de combustíveis. Na Venezuela mesmo após a mudança dos contratos, a única empresa que saiu definitivamente do país foi a ExxonMobil, a maior do mundo.

As petroleiras citam esse exemplo para lembrar que é um equívoco da Bolívia comparar petróleo com seu gás natural. O primeiro tem valor médio de US$ 60 o barril e pode ser colocado num navio e entregue em qualquer parte do mundo. Já o gás tem preço máximo de US$ 15 e, para ser consumido, precisa ser transportado por gasodutos (pelos quais Brasil e Argentina são os únicos países a comprar o gás boliviano) ou por navios, depois de liquefeito, o que a Bolívia não pode fazer.

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