Combustíveis

Etanol perde espaço nos tanques

Valor Econômico
21/10/2011 12:55
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O etanol hidratado deve perder em 2011 uma boa fatia de participação nos tanques de combustíveis dos brasileiros. Com preços médios 32% mais altos que em 2010, o hidratado, que abastece diretamente os veículos, ficará com apenas 25% de participação nesse mercado, o menor desde 2006, segundo projeção da Informa Economics FNP. Os 75% restantes ficarão com a gasolina C, que já tem em sua mistura o etanol anidro.

No ano passado, o percentual de mercado para o hidratado foi de 33,54%. Em 2008 e 2009, período de auge do consumo de etanol na década, a fatia ficou muito próxima de 40%. A projeção da FNP é que o mercado total (gasolina C e hidratado) deverá crescer 2,1% neste ano, ritmo menor do que nos dois últimos ciclos, quando as taxas anuais ficaram entre 7% e 8%.

Assim, considerando o crescimento de 2,1%, o consumo de hidratado em 2011 deve atingir 11,58 bilhões de litros, ante os 15,07 bilhões de litros registrados em 2010. A gasolina C, com os 75% restantes, terá consumo no ano de 34,26 bilhões de litros. A avaliação da FNP não considera o consumo dos veículos leves movidos a Gás Natural Veicular (GNV) e nem a diesel.

De acordo com projeção da SCA Trading, maior comercializadora de etanol do país, se for considerado o mercado todo de etanol - hidratado e anidro -, a participação do biocombustível sobe para patamares próximos de 40% - no entanto, também bem abaixo dos mais de 50% atingidos em 2009.

Independentemente da comparação, o fato é que haverá uma forte retração do etanol neste ano e poucos sinais de que esses níveis vão mudar nos próximos dois anos, diz Jacqueline Bierhals, gerente de Agroenergia da FNP. "Teremos uma estabilidade para o etanol e para o mercado de combustíveis como um todo", diz a especialista da FNP, que lançou neste mês seu segundo relatório anual de energias renováveis (Renergy).

No primeiro caso, o motivo da inércia está nos próprios fundamentos do setor sucroalcooleiro, que vem de um período de pouca oferta de cana, com poucas chances de se equilibrar em apenas dois anos. Com isso, as indústrias estão produzindo menos etanol e a consequência é a alta dos preços, que estão bem menos atrativos ao consumidor final, nos postos.

Conforme dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP) referentes à semana encerrada em 15 de outubro, só é vantagem abastecer com etanol nos estados de Mato Grosso, Goiás e Tocantins, regiões onde o preço do etanol só é competitivo - ou seja, vale menos de 70% do preço da gasolina - porque a gasolina custa mais caro. No Estado de São Paulo, maior consumidor nacional, essa relação está no limite, em 69,76%.

Apesar do apelo ambiental do etanol, que emite menos poluentes do que a gasolina, está no "bolso" o principal fator de decisão do brasileiro, agora sob o efeito da era "flex", dos carros bicombustíveis.

Somente na usina em São Paulo, o litro do etanol hidratado está valendo neste momento 24% mais do que há um ano. Para se ter uma ideia do quanto o consumo tem relação com o preço, em 2008, auge da demanda por etanol no mercado interno brasileiro, o indicador Cepea/Esalq para o hidratado foi de R$ 0,7192 por litro na usina em São Paulo.

Em 2009, outro ano de grande consumo, essa média subiu, mas apenas um pouco, para R$ 0,76, sem afetar a competitividade com a gasolina. Já em 2010, saltou para R$ 0,9105 e, no acumulado desse ano, já está bateu em R$ 1,2030.

Esses níveis baixos de participação do etanol em relação à gasolina devem persistir em 2012, diz Alísio Mendes Vaz, presidente-executivo do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom), cujas associadas representam 60% do mercado de etanol do país. Isso porque, afirma ele, não há perspectivas de crescimento significativo na oferta de cana no ano que vem.

Jacqueline Bierhals, da FNP, também não vê recuperação do "market share" do etanol no curto prazo. "No melhor dos cenários, a produção de cana do ano vem será igual à dessa safra", completa.

Ela considera que até pode haver crescimento na oferta do etanol no país, sobretudo porque a perspectiva de aumento na produção mundial de açúcar (o que trará mais concorrência com o açúcar brasileiro) deve estimular as usinas do país a usarem mais caldo da cana para etanol. "Mas se houver avanço, será pequeno e sem grandes impactos no mercado", diz.

Um cenário de "abundância" na oferta de etanol, como o ocorrido entre 2007 e 2009, não deve se repetir no setor, diz Martinho Seiiti Ono, presidente da SCA Trading. "O perfil das empresas que lideram esse mercado mudou pós-crise de 2008. São multinacionais e fundos de private equity, caracterizados por uma racionalização do retorno dos investimentos. E hoje não há certeza de que o capital aplicado em projetos novos de etanol vai oferecer retorno", diz Seiiti Ono.
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