Valor Econômico
O Ministério da Agricultura finalizou um estudo onde aponta que os preços do álcool ao consumidor final estão abaixo do esperado pelo governo no Estado de São Paulo, principal referência do mercado. A projeção, feita com base na composição dos custos de produção e transporte do álcool hidratado, mostra que o litro do combustível vendido a R$ 1,05 pelas usinas poderia custar hoje até R$ 1,69 na bomba, apurou o Valor.
A média dos preços praticados em quatro mil postos no Estado de São Paulo, pesquisada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), está hoje em R$ 1,53 por litro. Nos lotes de hidratado comprados por R$ 1,025 nas usinas, o ministério estima que o consumidor poderia pagar até R$ 1,65 na bomba. Esses preços incluem impostos como PIS/Cofins e ICMS, as margens de lucro das distribuidoras (R$ 0,05 por litro) e dos postos (R$ 0,22), além dos fretes entre usina, distribuidoras e revendas.
Fontes do ministério creditam a diferença entre o que poderia ser cobrado e o realmente pago pelo consumidor a uma redução das margens de lucros, em distribuidoras e revendas, mas não descarta maior sonegação de impostos.
O levantamento, que está nas mãos do ministro Roberto Rodrigues, está sendo usado pelo governo para reforçar a postura de tolerância com os usineiros. Pressionado para adotar ações mais drásticas, o ministério reluta em impor cotas de exportação para frear a produção de açúcar ou reduzir a mistura de 25% do álcool anidro na gasolina. Tampouco pensa na formação de grandes estoques estratégicos. O alto custo de carregamento e manutenção desses estoques, estimado em R$ 300 milhões ao ano, não compensaria os impactos de preços.
O governo busca regras "mais claras e estáveis" para evitar a gangorra dos preços em períodos de safra, que se estende de abril novembro, e de entressafra, entre dezembro e março. Por isso, negocia com um pequeno, mas poderoso, grupo de usinas que geralmente mantém os maiores estoques em épocas de entressafras, entre elas Cosan, Copersucar e Crystalsev.
No governo, a forte disparada nos preços do álcool é creditada à decisão da ANP, publicada em 6 de janeiro, que obrigou o uso de um corante específico para evitar fraudes no hidratado. Antes, vendia-se álcool anidro como hidratado. Sem pagar imposto, os fraudadores adicionavam 8% de água ao anidro e o revendiam como hidratado. Com o corante, as margens de lucro caíram e a solução foi aumentar os preços. Igualmente importante foi a adoção de um controle maior sobre o crédito de ICMS para o anidro pelo governo de São Paulo. Sem informar o exato volume comercializado, os fraudadores ficam sem o devido crédito.
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