Energia elétrica

Dilma diz que relatório sobre risco de apagão desconsidera realidade do país

Valor Econômico
28/10/2004 03:00
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A ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, descartou a possibilidade de racionamento até 2010 e reagiu com indignação à divulgação de relatório da Agência Internacional de Energia (AIE). Entidade respeitada e mantida pelos grandes países consumidores de petróleo, a AIE apresentou estudo em que alerta para o risco de déficit energético no Brasil em 2030. "Isso é alarmista, não é uma questão simples", criticou Dilma, rebatendo os números do relatório.
Pela primeira vez desde que o assunto veio à tona, na semana passada, a ministra também procurou desmentir rumores de que se desentendeu com o presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, a respeito da atração de investimentos para a construção do gasoduto Sudeste-Nordeste - obra orçada em US$ 1 bilhão e que requer financiamento estrangeiro. Ele negou haver uma preferência pessoal, de sua parte, pela atração de investidores - em oposição a uma suposta preferência de Dutra por uma parceria com os japoneses, que já têm experiência com a Petrobras.
"Os investimentos serão feitos com quem apresentar as maiores vantagens", resumiu Dilma, embora em nenhum momento tenha mencionado especificamente os japoneses. Ela frisou, no entanto, que já existe um memorando que cria "parceria estratégica" com a China nessa área. "Isso não significa que outros memorandos e outras parcerias estratégicas não possam ser estabelecidas. Não tenho preferência por nenhum investidor em especial", acrescentou.
Sobre o relatório da AIE, Dilma criticou não só aspectos do estudo, mas a interpretação dada por analistas. "Eu respeito a agência, mas estranhei a leitura do relatório", afirmou. No estudo, a AIE trabalha com crescimento econômico médio de 3% ao ano, aumento de 2,9% no consumo de energia e de 2,1% na geração. Para a ministra, apesar de hipóteses, esses números desconsideram a realidade do país.
Um dos principais aspectos destacados por Dilma é que, em países em desenvolvimento, o consumo de eletricidade cresce mais do que o PIB. O gasto per capita no Brasil é de 178 kilowatts por hora/mês - "o equivalente a uma geladeira pequena, dez minutos por dia de chuveiro ligado e lâmpadas de 60 watts durante quatro horas". Na medida em que a economia cresce e a desigualdade diminui, o consumo tende a aumentar mais. Outro fator é a universalização do acesso à energia elétrica, que o estudo desconsidera, segundo ela.
O relatório atribui o racionamento enfrentado pelo Brasil em 2001 à seca, "o que nem o governo anterior fez", e prevê a redução de 83% para 65% da participação das usinas hidrelétricas na matriz energética do país. Dilma afirmou que, diferentemente dos países desenvolvidos, o Brasil explorou apenas um quarto do potencial de seus recursos hídricos.
O governo, além das hidrelétricas, tem a opção de aumentar a geração de energia a partir de biomassa.
Dilma destacou ainda que, mesmo se o crescimento da demanda crescer mais do que a capacidade, novas linhas de transmissão deverão integrar a América do Sul e permitir a importação de energia de países vizinhas - possibilidade também ignorada no estudo. "Estamos tomando todas as providências possíveis e imagináveis para que não haja racionamento nem apagão", enfatizou.

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