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Descobertas caem 15% em 2004 e Petrobras concentra-se na produção

BNamericas
03/01/2005 02:00
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O ritmo de descobertas petrolíferas no Brasil diminuiu 15% em 2004, em comparação com o ano anterior, devido à concentração de esforços da Petrobras em ampliar a produção em regiões conhecidas, afirmaram analistas.
O número de descobertas de petróleo registrado na Agência Nacional do Petróleo (ANP) diminuiu a 69 em 2004, enquanto em 2003 foram feitas cerca de 80 descobertas. Foram registrados 34 achados em 2002, 88 em 2001, 47 em 2000, 49 em 1999 e 8 em 1998.
A Petrobras foi responsável pela maior parte dos descobrimentos e, apesar de que o setor petroleiro do país se abriu à participação privada nos últimos seis anos, a Petrobras ainda é, sem dúvida, a força upstream dominante.
No entanto, não se espera que o número de descobertas aumente em 2005, já que a Petrobras planja continuar direcionando esforços para bacias sedimentares onde sabe que há petróleo, dando uma prioridade secundária às bacias menos conhecidas.
"Em 2004, a Petrobras orientou-se para a delimitação de reservas encontradas em 2003 e para a conclusão de seus planos de avaliação da Rodada Zero - a abertura do setor em 1998", disse à BNamericas o gerente de exploração e produção, Paulo Mendonça.
O plano estratégico da empresa para o período 2004-2010 destina US$ 26,2 bilhões a exploração e produção e a empresa planeja continuar desenvolvendo suas áreas conhecidas em um esforço por chegar a 2005 ou 2006 produzindo os 1,8 milhões de barris por dia de petróleo necessários para a auto-suficiência.
A maior atenção está voltada para o desenvolvimento da produção na região norte da bacia de Campos, mais especificamente no grupo de campos conhecido como o Parque das Baleias. Também estão em foco o desenvolvimento das descobertas de petróleo leve nas bacias do Espírito Santo e em Sergipe/Alagoas, e os campos de gás natural na bacia de Santos, ao sul, onde a empresa encontrou 419.000 milhões de m³ de gás natural, informou a empresa à BNamericas em um comunicado. 
Os planos estão de acordo com as declarações de comercialidade que foram feitas à ANP desde 1999. Estas excluem a maioria das descobertas da bacia de Campos, que foram feitas antes da criação da ANP, em 1997.
"A empresa está consolidando sua posição onde sabe que tem petróleo, é uma tendência internacional", disse Marcos Paulo Pereira, analista energético da corretora Socopa. "Quando uma empresa alcança certo nível de produção, reduz o investimento em áreas de fronteira", destacou.
O enfoque em desenvolver reservas conhecidas resultou no aumento de produção nacional a cerca de 1,6 milhões de barris por dia, o que se incrementará ainda mais à medida que forem entrando em operação mais unidades de produção petrolífera para que extraiam petróleo a profundidades superiores a mil metros na bacia de Campos, que proporciona 80% da produção nacional.
Entre outros campos que se desenvolverão se incluem Golfinho, na bacia do Espírito Santo; Piranema, em Sergipe/Alagoas; e Mexilhão, na bacia de Santos. E provavelmente aqui é onde a empresa enfocará suas atividades de exploração.
"A empresa está explorando as regiões em que sabe que tem petróleo", disse Giuseppe Bacoccoli, geólogo, consultor e pesquisador da Univerisdade Federal do Rio de Janeiro. "Mas isto nunca conduzirá a grandes descobrimentos, ainda que as reservas da empresa poderiam aumentar à medida que converte as reservas estimadas em provadas", disse à BNamericas.
As reservas da empresa superam a cerca de 12,6 bilhões de barris de petróleo equivalente e se espera que aumentem na próxima reavaliação.
"Não há uma preocupação real sobre o ritmo dos novos descobrimentos no curto prazo, já que a Petrobras conta com reservas suficientes para que durem muitos anos", defendeu Pereira. "Mas no prazo médio podería transformar-se em algo preocupante."
Uma causa da preocupação é que os estudos demonstram que a auto-suficiência poderia ter uma vida curta se o consumo crescesse de acordo com o crescimento anual antecipado de 4% do PIB. Um estudo apresentado no seminário da Rio Oil&Gas, realizado este ano pelos pesquisadores da Universidade de São Paulo, Carlos Andrade, Denilson Ferreira e Edimilson dos Santos, mostrou que a produção de petróleo chegará a seu ponto máximo em 2010 e logo começará a declinar. 
Para evitar isto, o Brasil tenria que abrir novas fronteiras de exploração.
"A exploração petrolífera ocorre em ciclos e o último grande ciclo finalizou-se em 2001, com as descobertas de Santos e Espírito Santo", defendeu Bacoccoli. "Então é necessário abrir novas frentes todo o tempo, para aumentar as possibilidades de começar um novo ciclo".
Algumas das novas fronteiras promissoras que Baccocoli mencionou são a maior parte de bacias inexploradas do interior e as pouco conhecidas bacias da Foz do Amazonas, no norte do país; as do Pará/Maranhão e Camamu/Almada; na costa nordeste; e na bacia de Pelotas, no extremo sul.
Estas áreas receberam menos atenção na sexta rodada de licitações em agosto de 2004, principalmente devido à falta de conhecimento básico geológico e geofísico sobre elas. Mais estudos haveriam reduzido o risco para os potenciais investidores. No entanto, os estudos não estão sendo realizados porque a ANP não dispõe de fundos suficientes. "Se trata de um problema estrutural que afeta as atividades de supervisão e investigação da ANP e se deve encontrar uma solução", afirmou Pereira.
Não só a ANP investiu 50% ou menos do seu pressuposto anual desde sua criação em 1997, mas também o Governo Federal retém a maior parte dos recursos do setor recolhidos pelas atividades de produção para cumprir metas fiscais. "Este é o dinheiro que por lei deveria ser reinvestido na indústria petroleira e, ainda que seja pouco provável que a Petrobras se queixe por ser uma empresa federal, o setor deveria fazê-lo", ressaltou Bacoccoli.

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