Bolívia

Crise pode afastar os investimentos no setor

Valor Econômico
08/06/2005 03:00
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A crise política por que passa a Bolívia ainda não está prejudicando o abastecimento de gás natural boliviano ao Brasil, segundo os presidentes da Sulgás (RS), Artur Lorentz, e da Compagas (PR), Rubico Camargo. Mas ambos concordam que a situação atual poderá, sim, complicar os projetos de investimentos futuros do setor no Gasoduto Brasil-Bolívia (Gasbol). Camargo considera improvável que haja desabastecimento de gás no Brasil, mas a situação na Bolívia é tensa e imprevisível.
Entre os projetos que podem não ter seguimento se a crise na Bolívia se agravar, Lorentz cita o gasoduto Uruguaiana-Porto Alegre, de aproximadamente 600 quilômetros. Além disso, ele avalia que o projeto da Petrobras de aumentar a importação também ficará comprometido.
Assim como a SCGás (SC), Sulgás e Compagas dependem totalmente do combustível importado da Bolívia. Já a Comgás, maior distribuidora do país, novamente recusou-se a comentar o assunto - quase 70% do gás vendido pela empresa é importado do país vizinho.
Os presidentes da Sulgás e da Compagas também rechaçam a possibilidade de aumento de preço do gás no curto prazo. Camargo lembra que o aumento de impostos aplicado pela nova Lei de Hidrocarbonetos não poderá ser usado como justificativa para a elevação imediata dos preços dos contratos já em vigor. Mas, na avaliação dele, os produtores bolivianos poderiam alegar que houve um "desequilíbrio contratual" causado por um fator externo (o aumento de impostos) e que não poderiam mais honrá-los nos preços predeterminados. Mas isso levaria meses.
O gerente da área de petróleo da Deloitte, Mauro Andrade, não descarta nenhum cenário. Se o preço do gás dobrasse no curto prazo, por exemplo, ele diz que não haveria outra saída para o Brasil senão pagar. O país passaria por maus bocados por pelo menos dois anos, até que as novas reservas nacionais começassem a ser exploradas. Lorentz diz que o Brasil poderá chegar à auto-suficiência na produção de gás em 2010, quando a oferta nacional poderá se igualar à demanda de 100 milhões de metros cúbicos por dia.
É justamente por essa expectativa positiva para a produção nacional que Andrade e os dois presidentes das distribuidoras dizem não acreditar que a Bolívia vá assumir uma postura radical. Andrade observa que a Bolívia não tem uma saída para o Pacífico, o que confina o gás do país ao mercado brasileiro. "A Bolívia só tem um mercado, que é o Brasil", confirma Camargo. Para Camargo, o principal efeito da crise política na Bolívia é a interrupção do processo de integração energética do Cone Sul.
Assim, para reduzir a dependência das distribuidoras da região Sul do gás importado, Lorentz sugere que o governo brasileiro deve considerar a possibilidade de levar para os três estados o gás da Bacia de Santos, quando ela entrar em operação. "O cenário de longo prazo é complicado, mas o Brasil tem boas reservas", avalia Lorentz.

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