Combustíveis

Crise de confiança afeta consumo de etanol

Consumidor não vê vantagem econômica.

Valor Econômico
05/09/2012 20:40
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Há cerca de dois meses está mais vantajoso abastecer com etanol em três estados brasileiros, entre eles, São Paulo, maior mercado de combustíveis do país. No entanto, pouca reação no consumo vem sendo observada, indicando que o motorista brasileiro parece não estar disposto a fazer conta na frente da bomba de combustível antes de escolher por etanol ou gasolina. Resolveu se bandear de vez para o combustível fóssil, cujo consumo avançou 12% no primeiro semestre deste ano, ante o mergulho de 17% na demanda pelo biocombustível.
O que está por trás dessa falta de "paciência" do consumidor é alvo de explicações diversas. O consenso é que, para voltar a usar mais etanol, o consumidor terá de ver muito mais vantagem econômica do que a atualmente disponível - na última semana, em São Paulo, o preço do etanol equivaleu a 66% do preço da gasolina, portanto, melhor do que a paridade de 70%, percentual mínimo para considerar o etanol mais viável. Dessa forma, ou o preço do etanol terá que despencar para oferecer essa vantagem, o que é pouco provável dada à estagnação do crescimento da produção interna, ou o preço da gasolina subir, como já acena integrantes do governo.
Segundo dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP), nos meses de junho e julho deste ano o consumo de etanol no maior mercado consumidor do país, o estado de São Paulo, recuou 28,8% em relação aos mesmos meses do ano passado, apesar de a paridade com a gasolina estar no mesmo patamar de igual bimestre de 2011 - em junho de 2011 foi de 64% e em julho, 67%.
O etanol padece de um certo desgaste perante o consumidor, na avaliação do diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires. "O consumidor é um cara mais bem informado do que a gente imagina. Ele liga a tevê, abre os jornais e vê que o governo só fala de pré-sal, não está mais apoiando o etanol, que a safra de cana está quebrando e que os preços estão subindo".
Diante disso, continua ele, o consumidor migra para o combustível mais estável, que é a gasolina. "O que está acontecendo agora se parece com o que aconteceu com o álcool no fim dos anos 1980, dada as devidas diferenças (naquela época o motorista que tinha um carro à álcool não podia optar pela gasolina, como ocorre com os carros-flex): primeiro um clima de euforia do governo com o Brasil despontando como líder em energia limpa, em seguida, o abandono do apoio governamental. Essa atmosfera é percebida pelo consumidor. Se continuar assim, vão sepultar o etanol, assim como fizeram com o álcool nos anos 80 e 90".
O presidente da entidade que representa os postos de combustíveis do Brasil (Fecombustíveis), Paulo Miranda Soares, concorda que a instabilidade do mercado de etanol - tanto de preços quanto de oferta de produto - é percebida pelo consumidor que parece ter criado uma espécie de "birra" em usar o biocombustível. Em São Paulo, por exemplo, onde se consumiu 60% do etanol vendido no país no primeiro semestre deste ano, o consumo caiu 25% no acumulado de maio, junho e julho deste ano.
O comportamento do consumidor vem desafiando o setor produtor de etanol, que não tem ainda uma resposta para a questão. "O consumidor não está reagindo à vantagem econômica de abastecer com etanol. Isso é fato. Mas a razão disso, ainda não sabemos", reconhece o presidente interino da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), Antonio de Pádua Rodrigues.
O que acontece é que o consumidor, sobretudo de São Paulo, tem em sua memória um etanol muito barato, cenário difícil de se repetir em épocas de custos elevados ao produtor. A bonança começou em 2007. O etanol, em dezembro daquele ano, chegou a valer em São Paulo R$ 1,293 por litro, o equivalente a 53,8% do preço da gasolina da época. Permaneceu por mais um ano em patamar semelhante até chegar em dezembro de 2009 à paridade de 64%, níveis muito semelhantes dos atuais. Ironicamente, foi quando o consumo de etanol no estado de São Paulo bateu recorde, atingindo 819 milhões de litros. Naquele momento, o motorista já estava há mais de dois anos habituado a usar etanol e tirar grande vantagem dessa relação.
"É mais rápido sair do que entrar. Agora, para fazer o consumidor migrar para o etanol, será necessário um esforço de convencimento maior", diz o presidente-executivo do sindicato que representa as distribuidoras de combustíveis (Sindicom), Alísio Mendes Vaz.
O que terá de entrar em jogo é a chamada teoria de varejo, diz o diretor da comercializadora de etanol, Bioagência, Tarcilo Rodrigues. "Quando o preço baixa, é preciso que se comunique ao consumidor, via mídia. Caso contrário, ele não reagirá", afirma Rodrigues.
Será preciso também desconstruir a imagem de que a gasolina é o mocinho da história e o etanol, o vilão. "O etanol está sujeito às leis de mercado, por isso, seu preço sobe e desce. Já a gasolina tem preços artificialmente estáveis. Assim, é difícil competir", reclama Rodrigues.
Mas a questão aí não reside apenas nas duas pontas, consumidor final e usinas produtoras. No meio da cadeia, a queda de braço por margens maiores também tende a interferir no comportamento do varejo e, por consequência, do consumidor. "Quando há muita concorrência entre os postos, eles reduzem a margem. Caso contrário, as recompõem, como agora, repassando mais devagar o preço mais baixo na usina ao consumidor final", diz o diretor da Bioagência.
Apesar de reconhecer que a margem com gasolina é duas vezes maior do que a de etanol, o presidente da Fecombustíveis garante que o problema vem da estrutura que antecede a chegada aos postos. "É um mercado de concorrência desleal, com muita sonegação e instabilidade de preço e abastecimento".

Há cerca de dois meses está mais vantajoso abastecer com etanol em três estados brasileiros, entre eles, São Paulo, maior mercado de combustíveis do país. No entanto, pouca reação no consumo vem sendo observada, indicando que o motorista brasileiro parece não estar disposto a fazer conta na frente da bomba de combustível antes de escolher por etanol ou gasolina. Resolveu se bandear de vez para o combustível fóssil, cujo consumo avançou 12% no primeiro semestre deste ano, ante o mergulho de 17% na demanda pelo biocombustível.


O que está por trás dessa falta de "paciência" do consumidor é alvo de explicações diversas. O consenso é que, para voltar a usar mais etanol, o consumidor terá de ver muito mais vantagem econômica do que a atualmente disponível - na última semana, em São Paulo, o preço do etanol equivaleu a 66% do preço da gasolina, portanto, melhor do que a paridade de 70%, percentual mínimo para considerar o etanol mais viável. Dessa forma, ou o preço do etanol terá que despencar para oferecer essa vantagem, o que é pouco provável dada à estagnação do crescimento da produção interna, ou o preço da gasolina subir, como já acena integrantes do governo.


Segundo dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP), nos meses de junho e julho deste ano o consumo de etanol no maior mercado consumidor do país, o estado de São Paulo, recuou 28,8% em relação aos mesmos meses do ano passado, apesar de a paridade com a gasolina estar no mesmo patamar de igual bimestre de 2011 - em junho de 2011 foi de 64% e em julho, 67%.


O etanol padece de um certo desgaste perante o consumidor, na avaliação do diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires. "O consumidor é um cara mais bem informado do que a gente imagina. Ele liga a tevê, abre os jornais e vê que o governo só fala de pré-sal, não está mais apoiando o etanol, que a safra de cana está quebrando e que os preços estão subindo".


Diante disso, continua ele, o consumidor migra para o combustível mais estável, que é a gasolina. "O que está acontecendo agora se parece com o que aconteceu com o álcool no fim dos anos 1980, dada as devidas diferenças (naquela época o motorista que tinha um carro à álcool não podia optar pela gasolina, como ocorre com os carros-flex): primeiro um clima de euforia do governo com o Brasil despontando como líder em energia limpa, em seguida, o abandono do apoio governamental. Essa atmosfera é percebida pelo consumidor. Se continuar assim, vão sepultar o etanol, assim como fizeram com o álcool nos anos 80 e 90".


O presidente da entidade que representa os postos de combustíveis do Brasil (Fecombustíveis), Paulo Miranda Soares, concorda que a instabilidade do mercado de etanol - tanto de preços quanto de oferta de produto - é percebida pelo consumidor que parece ter criado uma espécie de "birra" em usar o biocombustível. Em São Paulo, por exemplo, onde se consumiu 60% do etanol vendido no país no primeiro semestre deste ano, o consumo caiu 25% no acumulado de maio, junho e julho deste ano.


O comportamento do consumidor vem desafiando o setor produtor de etanol, que não tem ainda uma resposta para a questão. "O consumidor não está reagindo à vantagem econômica de abastecer com etanol. Isso é fato. Mas a razão disso, ainda não sabemos", reconhece o presidente interino da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), Antonio de Pádua Rodrigues.


O que acontece é que o consumidor, sobretudo de São Paulo, tem em sua memória um etanol muito barato, cenário difícil de se repetir em épocas de custos elevados ao produtor. A bonança começou em 2007. O etanol, em dezembro daquele ano, chegou a valer em São Paulo R$ 1,293 por litro, o equivalente a 53,8% do preço da gasolina da época. Permaneceu por mais um ano em patamar semelhante até chegar em dezembro de 2009 à paridade de 64%, níveis muito semelhantes dos atuais. Ironicamente, foi quando o consumo de etanol no estado de São Paulo bateu recorde, atingindo 819 milhões de litros. Naquele momento, o motorista já estava há mais de dois anos habituado a usar etanol e tirar grande vantagem dessa relação.


"É mais rápido sair do que entrar. Agora, para fazer o consumidor migrar para o etanol, será necessário um esforço de convencimento maior", diz o presidente-executivo do sindicato que representa as distribuidoras de combustíveis (Sindicom), Alísio Mendes Vaz.


O que terá de entrar em jogo é a chamada teoria de varejo, diz o diretor da comercializadora de etanol, Bioagência, Tarcilo Rodrigues. "Quando o preço baixa, é preciso que se comunique ao consumidor, via mídia. Caso contrário, ele não reagirá", afirma Rodrigues.


Será preciso também desconstruir a imagem de que a gasolina é o mocinho da história e o etanol, o vilão. "O etanol está sujeito às leis de mercado, por isso, seu preço sobe e desce. Já a gasolina tem preços artificialmente estáveis. Assim, é difícil competir", reclama Rodrigues.


Mas a questão aí não reside apenas nas duas pontas, consumidor final e usinas produtoras. No meio da cadeia, a queda de braço por margens maiores também tende a interferir no comportamento do varejo e, por consequência, do consumidor. "Quando há muita concorrência entre os postos, eles reduzem a margem. Caso contrário, as recompõem, como agora, repassando mais devagar o preço mais baixo na usina ao consumidor final", diz o diretor da Bioagência.


Apesar de reconhecer que a margem com gasolina é duas vezes maior do que a de etanol, o presidente da Fecombustíveis garante que o problema vem da estrutura que antecede a chegada aos postos. "É um mercado de concorrência desleal, com muita sonegação e instabilidade de preço e abastecimento".

 

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