Um novo choque do petróleo, menos agudo e mais prolongado que o dos anos 70, já começou e deve afetar o crescimento da economia mundial. A avaliação é de um relatório da consultoria Ernst&Young, que revisou a elevação do Produto Interno Bruto ( PIB) global em 2011 para 4%. Os levantes no mundo árabe, somados às consequências do terremoto no Japão, são a causa principal deste novo choque.
O preço do barril, que flutuava entre US$ 70 e US$ 80 ao longo de 2010, já ultrapassou a barreira dos três dígitos e deve continuar subindo nos próximos meses.
Dale Nijoka, coordenador do setor de petróleo e gás da Ernst&Young, diz que se "trata de uma nova forma de choque". "Os anteriores foram causados por embargos, guerras ou crescimento na demanda. O choque atual é causado por fatores geopolíticos ao longo de uma ampla área geográfica. Os mercados estão reagindo de forma proativa a potenciais problemas na oferta, não necessariamente com fundamentos reais."
"Não será um processo abrupto, como nos choques anteriores", disse ao Estado o diretor- executivo da Ernst&Young, Alexandre Rangel. "Será uma elevação gradual", acrescentou. Segundo ele, "a grande preocupação é que os protestos atinjam a Arábia Saudita", maior exportador de petróleo no mundo.
Revoltas populares. Até agora, os levantes se concentraram em países como Síria, Iêmen e Egito, que não têm importância fundamental para o mercado de petróleo.
A redução na produção na Líbia por causa da guerra civil tem sido suplantada por aumento na produção saudita. Bahrein, outro alvo de protestos da oposição, também preocupa, apesar de o setor energético estar sob controle por enquanto. No território saudita, ocorreram protestos isolados de minorias xiitas. Porém, segundo consultorias de risco político, ainda não há ameaça à monarquia dos Saud.
A consultoria prevê um menor crescimento da economia no mundo justamente por causa desse choque. Um aumento de US$ 10 na cotação internacional do barril, segundo economistas, se reflete em 0,25 ponto porcentual a menos na elevação do PIB. Os mais beneficiados com esse cenário devem ser os países produtores.
O Brasil pode ser afetado se outras economias que importam produtos brasileiros enfrentarem desaceleração no crescimento, especialmente a China, segundo Rangel. O consultor avalia, porém, que no longo prazo o país pode ter benefícios por causa da exploração do pré-sal.