Energia

Brasil completa 30 anos de uso da energia nuclear com avanços tecnológicos e críticas

Na avaliação do presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro, o uso da fonte nuclear para geração de energia trouxe ao país maturidade tecnológica na área, abrindo o campo de trabalho e colaborando para a formação de engenheiros nucleares de padrão internacional. Hoje, as duas usinas e

Agência Brasil
02/04/2012 15:18
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O Brasil chega aos 30 anos de uso da energia nuclear com recorde de produção de 15,644 milhões de megawatts-hora (MWh), registrado em 2011, e a possibilidade de, com a conclusão de Angra 3, em 2016, ter 60% do consumo de energia elétrica do estado do Rio de Janeiro abastecidos pela fonte nuclear. Hoje, as duas usinas em funcionamento no país, Angra 1 e Angra 2, geram o equivalente a 30% do que é consumido no estado.

Na avaliação do presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro, o uso da fonte nuclear para geração de energia trouxe ao país maturidade tecnológica na área, abrindo o campo de trabalho e colaborando para a formação de engenheiros nucleares de padrão internacional. “A principal vantagem que tivemos foi o aprendizado”, avaliou.

Para Othon Pinheiro, hoje, não se pode prescindir da fonte nuclear de energia que, na sua opinião, não pode ser descartada da matriz energética nacional. “É muito importante na geração de eletricidade, porque nós temos, hoje, no Brasil, 80% da população vivendo nas cidades. A sustentabilidade das cidades passa pela energia elétrica, da forma mais econômica e racional possível”.

Ele, inclusive, refuta o posicionamento de ambientalistas, que fazem oposição ao uso da energia nuclear, defendendo que, “se tratada de forma adequada, é uma fonte de energia limpa e não deve ser descartada da matriz energética nacional”.

Othon Pinheiro lembrou da característica estratégica da energia nuclear, por ser opção em caso de problemas na oferta de energia elétrica devido a questões climáticas, já que a matriz energética é majoritariamente hidrelétrica. “Precisamos da [fonte de energia] eólica, da solar. Seria bom se elas trabalhassem sozinhas. Mas a gente precisa das térmicas, para acionar em caso de problema da natureza. Energia é como ação [da Bolsa de Valores]. Por melhor que seja, a gente tem que comprar uma cesta de papéis para garantia do investimento”. Para o presidente da Eletronuclear, o país não pode descartar nenhuma fonte de energia renovável.

Ele defende a geração de energia nuclear por considerá-la de baixo impacto ambiental e por questões de custo. Pinheiro ressalta que, dentre as térmicas, como as que produzem energia a partir do carvão, óleo combustível ou gás, a usina nuclear é a que tem menos custo. Além disso, ele lembra que o Brasil tem uma grande reserva de urânio, sendo “falta de imaginação” não aproveitar esse potencial.

Angra 1, a primeira usina nuclear a entrar em funcionamento no país, foi interligada ao sistema elétrico nacional no dia 1º de abril de 1982. E, mesmo contestando a real necessidade do Brasil lançar mão dessa fonte de energia tão controversa, o físico Luiz Pinguelli Rosa, ex-presidente da Eletrobras, acredita que a geração de energia nuclear constitui um fato histórico. “A gente não pode se arrepender da história. Ela é como é”, disse Pinguelli à Agência Brasil.

Diretor da Coordenação de Programas de Pós-Graduação de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, Pinguelli, no entanto, enfatiza que geração de energia a partir da fonte nuclear não pode ser vista como imprescindível para o país. Para ele, a energia produzida pelas usinas Angra 1 e 2  poderia ser compensada por outras fontes de energia renováveis. “Por hidrelétricas mesmo. Até agora, não haveria problema”.

Ele relembra o acordo nuclear bilateral, firmado entre o Brasil e a Alemanha, em 1975, que previa a construção de oito reatores, definindo que nem tudo correu bem em relação à energia nuclear no Brasil. “Acho que o acordo com a Alemanha foi malsucedido do ponto de vista brasileiro”. Os custos elevados e as seguidas crises econômicas fizeram, no entanto, com que apenas duas usinas fossem construídas no país até agora.

Pinguelli, por outro lado, concorda com Othon Pinheiro sobre o ganho tecnológico que a geração nuclear propiciou ao Brasil, embora a um custo muito elevado. “Criou-se uma competência na engenharia nuclear. Os dois reatores que o Brasil tem funcionando têm boa performance técnica”. O físico destacou, ainda, como avanço tecnológico o aprendizado relativo ao enriquecimento do urânio. “Acho que esse é o ponto, tecnologicamente, mais elevado, promovido pela Marinha de Guerra”.


Usinas nucleares de Angra terão sistema de armazenamento de lixo atômico em três anos

A Eletronuclear vai concluir a construção da primeira célula-demonstração para contenção do lixo atômico das usinas nucleares dentro de três anos, conforme informou o presidente da estatal. Othon Pinheiro garante que o sistema de armazenamento dos rejeitos nucleares é seguro.

A técnica adotada faz o encapsulamento de cada célula  do combustível e, depois, o encapsulamento do conjunto de elementos combustíveis atômicos. “É uma proteção a mais”, observa.

Segundo ele, o armazenamento não será imposto a nenhum município, mas aquele que se dispuser a estocar esse lixo será remunerado. “[O município] ganhará royalties por isso. Se nós tivermos a competência para demonstrar que [o sistema] é seguro, vai ter muito município com densidade populacional baixa, sem utilização para terrenos públicos, que vai ganhar com isso, sem nenhuma consequência para a população”.

Apesar de o programa nuclear brasileiro estar sendo revisto, em função do acidente que abalou a Usina Nuclear de Fukushima Daiichi, no Japão, há um ano, Othon Pinheiro acredita que não há razão para interromper a construção de centrais nucleares no país. Mesmo descartando problemas similares aos de Fukushima, a  Eletronuclear decidiu construir o prédio do reator de Angra 3 à prova de terremoto.
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