América do Sul

Bolívia planeja beneficiar o gás natural para agregar valor

DCI
06/09/2006 03:00
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Após nacionalizar as reservas de hidrocarbonetos, o governo boliviano planeja a implantação, em território boliviano, de plantas de processamento de gás natural, de modo a agregar valor ao energético exportado para os países vizinhos. A proposta da estatal local Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) é separar os produtos do gás, o que permitiria praticar preços diferenciados e mais elevados para cada insumo. “A Bolívia só exportará gás seco”, explica Saul Escalera, gerente industrial da YPFB. A estratégia não afeta os atuais contratos firmados com o Brasil e a Argentina.
Hoje, a Bolívia exporta o chamado “gás úmido”, extraído dos reservatórios gasíferos. O processamento do gás, porém, permite extrair insumos de grande valor à indústria petroquímica e à de fertilizantes, como o metano (gás seco) e líquidos de gás natural, que contêm etano, propano, butano e a gasolina natural (C 5+). Ainda abre a possibilidade, a partir do aproveitamento do metano, de produzir diesel e gasolina.
No curto prazo, está prevista a implementação de duas plantas de processamento: uma em Santa Cruz, destinada a abastecer o leste boliviano e o mercado brasileiro; e uma segunda prevista para Yacuíba — a três quilômetros da fronteira com a Argentina —, destinada a abastecer o mercado interno e o Mercosul. O governo argentino já teria se comprometido a emprestar US$ 100 milhões à Bolívia para a construção da planta de separação. Para a unidade de Santa Cruz, a YPFB tem interesse em que a Petrobras participe como sócia.
Em paralelo, o governo boliviano negocia uma série de projetos visando o aproveitamento dos derivados do gás natural. Atualmente, 20 projetos estão em análise, os quais totalizam US$ 12 bilhões em investimentos. Dentre os empreendimentos em estudo estão três plantas de fertilizantes, três unidades de GTL (gas to liquid) — tecnologia que permite produzir diesel e nafta, por exemplo —, uma siderúrgica e cinco projetos da indústria plástica. Escalera reconhece que grande parte das propostas não passa apenas de boas intenções. “Propostas sérias são apenas oito”, revela.
A estratégia da Bolívia com esses projetos é promover a industrialização dos derivados do gás natural, principalmente do metano. Para viabilizar as plantas de fertilizantes, a YPFB negocia com a estatal russa Gazprom . Em relação às unidades de GTL, a possível parceira é a Syntroleum , uma das três empresas no mundo que detêm a tecnologia de produção de petróleo sintético a partir do gás natural. Com o incremento da produção local de diesel, a YPFB espera diminuir a dependência do combustível importado. Dos 60 mil barris por dia (bpd) consumidos de diesel em 2005, produziu-se internamente 36 mil bpd. O departamento de Santa Cruz, o maior consumidor, com 40%, importou 80% de sua demanda.
A indiana Jindal Steel é a interessada na implantação da usina siderúrgica. O projeto utilizará como matéria-prima minério de ferro da jazida de Mutun, cujas reservas de hematita são estimadas em 40 bilhões de toneladas. Por ser uma mina de baixa qualidade, o ferro será purificado por meio de processo químico utilizando amina primária, um dos derivados do metano. Isso permitirá que a planta produza anualmente 1,5 milhão de toneladas de aço, com possibilidade de expansão para 3 milhões de toneladas. Além de abastecer o mercado o interno, a idéia é exportar aço para o mercado sul-americano e para a China, Coréia e Japão.
Atrelado ao projeto da siderúrgica, há o interesse também na construção de uma termoelétrica de 2 mil MW movida a gás. A usina forneceria a energia necessária para viabilizar a produção de aço. Além disso, o governo boliviano pretende comercializar parte da eletricidade para o Brasil. Escalera revela que a térmica demandará investimentos da ordem de US$ 900 milhões.
Com isso, a Bolívia pretende se consolidar como um centro produtor e distribuidor de diesel, fertilizantes, energia, plástico e aço para todo o continente sul-americano. “Esse é o conceito de integração que a Bolívia acredita”, esclarece Escalera. Nas projeções da YPFB, os Estados de Rondônia, Acre, Mato Grosso e Paraná teriam potencial para demandar 100 mil bpd de diesel boliviano.
 

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