Internacional

Atentado na Arábia Saudita expõe fragilidade do maior produtor mundial de petróleo

Analistas advertem para risco de terceiro choque do petróleo caso produção saudita seja afetada por ataques terroristas. Atentado do último fim-de-semana demonstra que indústria do petróleo virou alvo de atentados, dizem analistas.


31/05/2004 03:00
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O ataque terrorista na Arábia Saudita a um condomínio de funcionários de empresas de petróleo, neste domingo (30/05), deverá contribuir para a elevação dos preços internacionais do petróleo, na avaliação de especialistas do setor. Às vésperas da reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), em Beirute (Líbano) no dia 3, o incidente devolve instabilidade aos mercados internacionais e lança sombras sobre a possibilidade de um terceiro choque mundial do petróleo.
O atentado em Riad, que deixou 22 mortos e 25 feridos, pode comprometer a credibilidade do governo saudita, segundo os analistas, uma vez que torna questionável a capacidade do reino árabe de ampliar a produção diária em um patamar acima dos 9 milhões de barris atuais, conforme o sinalizado na última semana.
Na penúltima semana de maio, declarações de autoridades sauditas em favor de um aumento da produção contribuíram para a trégua dos preços internacionais. A reação dos mercados só não foi maior devido ao feriado do Memorial Day nos Estados Unidos e Inglaterra, quando se homenageia os mortos e veteranos da Segunda Guerra Mundial. Em Tóquio, o preço do petróleo no mercado futuro aumentou 2,3% e elevou a cotação do barril para US$ 33.
"O grande problema é que a Arábia Saudita pode ser considerada o grande `back up` do mercado mundial de petróleo. O agravamento das condições de segurança lá pode ser fatal para a produção mundial. Para um país que produz cerca de 9 milhões de barris por dia, um atentado em alguma instalação petrolífera pode facilmente reduzir a produção em 2 milhões a 3 milhões de barris. No momento atual, isso poderia ter um efeito psicológico grave e até mesmo sinalizar o risco de um terceiro choque mundial", adverte o professor Edmar de Almeida, do grupo de Economia da Energia do Departamento de Economia da UFRJ.
Na última semana, quando os preços internacionais recuaram, o analista da Sudameris Corretora José Francisco Cataldo também advertia que o pior havia passado, mas que ainda seria "muito cedo para se soltar fogos". O problema, justificam os especialistas, é que o comprometimento das condições produtivas na Arábia Saudita geraria instabilidade muito grande principalmente para os países que dependem basicamente do suprimento daquela região, como a China.
Almeida lembra que, ao menor sinal de instabilidade na região, as trading companies a serviço dos compradores começam a adquirir contratos no mercado futuro, como forma de proteção (hedge) contra um eventual desabastecimento. Com isso, os preços disparam e começam a pressionar as cotações. O problema é que a China, que tem 90% de suas importações provenientes do Oriente Médio, cresceu a uma taxa de 9% ao ano no primeiro trimestre, o que resultou em aumento do consumo.
Some-se a isso o aumento da demanda do mercado americano por conta da chegada do verão nos Estados Unidos, um fenômeno sazonal que sempre contribui para pressionar as cotações internacionais do petróleo. Tais fatores, segundo analistas, são agravados pelas divisões na Opep, o cartel exportador que, ao contrário de anos anteriores, também tem demonstrado limitada capacidade de intervenção nos preços.
Recentes declarações de representantes do cartel dão conta de que, atualmente, os países da Opep têm operado no limite da produção, dispondo de pouca capacidade ociosa em suas instalações. Diante desse cenário, todas as expectativas se voltam para a reunião do cartel na próxima quinta-feira (03/05), em Beirute. Lá serão delineados os próximos passos no caminho para a preservação da estabilidade econômica mundial.
Um terceiro choque mundial do petróleo poderia afetar a retomada do crescimento econômico americano e, conseqüentemente, mundial. Segundo os especialistas, uma alta muito significativa do petróleo, por um período mais longo de tempo, poderá contribuir para o aumento da inflação, um fenômeno tradicionalmente combatido com a elevação das taxas de juros. O efeito colateral dessa equação já é mais do que conhecido, e resulta em retração das economias mundiais.
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