Com a adesão das usinas sucroalcooleiras ao protocolo agroambiental do setor, assinado há quatro anos pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), os trabalhadores das lavouras passaram a ser definitivamente substituídos pelas máquinas de corte. Para reduzir os custos oriundos da mudança, grande parte das usinas está terceirizando o serviço para companhias de logística - que estão investindo no setor para aproveitar a nova demanda.
Essa é a estratégia da recém-criada Aqces Logística, que presta serviços do chamado CTT (corte, transbordo e transporte) da cana para a Raízen. A joint-venture entre Shell e Cosan, que hoje é responsável por cerca de 20% do faturamento da Aqces, anunciou que irá aumentar nos próximos meses de 60 milhões para 100 milhões de toneladas a capacidade de moagem. Na carona da expansão da produção, a Aqces espera que, nos próximos anos, os atuais R$ 40 milhões de receita anual com a logística da cana se transformem em R$ 350 milhões. Uma das ações para alcançar o objetivo é investir R$ 100 milhões no setor em 2012 - em caminhões, equipamentos e tecnologia.
O mercado tem grande potencial até 2014, quando se encerra o prazo dado pelo governo de São Paulo - principal Estado produtor de cana - para o fim da queima da palha da planta, procedimento necessário para a colheita manual (em áreas de declive, o fim das queimadas deve ocorrer até 2017). Além da Raízen, a Aqces tem contratos de logística de commodities agrícolas com a Fibria.
Criada em 2009 pela gestora de fundos de investimento Green Capital (controladora integral da companhia), a Aqces saltou de R$ 10 milhões de faturamento em seu ano inicial para R$ 110 milhões no segundo ano de atividade devido à compra de parte da Ultracargo, em 2010. Para este ano, o crescimento orgânico permite projeção de R$ 245 milhões. Ainda é uma cifra de empresa de média no mercado, mas a meta de faturamento é agressiva: a Aqces quer alcançar R$ 1 bilhão em 2014. "Chegaremos lá com crescimento próprio e aquisições de empresas que atuam nos mesmos mercados da Aqces", diz o presidente, Alysson Paolinelli - filho do ex-ministro da Agricultura de mesmo nome.
Entre empresas com mercados semelhantes (e, por isso, potenciais alvos de interesse), estão Luft, Expresso Nepomuceno e Gafor. Esta última, inclusive, recebeu aporte neste ano de R$ 70 milhões de um fundo da gestora NEO para investimentos no setor sucroalcooleiro e em outras atividades. Perguntado se já teve conversas sobre compra com as companhias, Paolinelli não comenta. Além das aquisições voltadas ao setor sucroalcooleiro, a Aqces planeja crescer em dois outros mercados.
O primeiro deles é o de serviços logísticos para empresas de mineração, que hoje não estão no portfólio da companhia. "Estamos conversando com potenciais clientes, como a Vale ". Paolinelli explica que o objetivo não é transportar minério, mas realizar serviços logísticos relacionados à cadeia de extração.
O segundo mercado enxergado como fonte de forte crescimento para a companhia é o de químicos, petroquímicos e combustíveis - já presente na carteira da empresa e hoje responsável por 40% de seu faturamento. Entre os principais clientes desses setores, estão Braskem e Oxiteno. O primeiro contrato da Aqces, inclusive, foi para transporte de combustíveis para aviação, com um contrato firmado em fevereiro de 2010 com a Shell.
Até hoje, a Green Capital já investiu R$ 50 milhões na companhia. A controladora pretende fazer, no futuro, uma oferta pública inicial de ações, quando e se a empresa conseguir alcançar um nível robusto de faturamento e lucro. "Desde o começo, trabalhamos para fazer nossa abertura de capital", afirmou Paolinelli.
No âmbito pessoal, o executivo diz que seus planos não incluem entrada na vida política, ao contrário do pai ex-ministro. "Minha carreira está baseada na iniciativa privada. Tenho uma carreira muito forte em logística e vou continuar nesse caminho", diz ele, que passou por cargos executivos em ALL, MRS, Ouro Verde e Brahma.